A História que se segue é verídica e aconteceu no início dos anos setenta do século passado, aqui, neste jardim à beira mar plantado… que anda tão mal tratado, espezinhado, destruído, pelas gentes que usurpam os lugares do poder.
É uma história que conheço há muito tempo (nem sei bem desde quando) contém alguns elementos que abanaram as convicções que me haviam impingido desde criança.
É uma história que conheço há muito tempo (nem sei bem desde quando) contém alguns elementos que abanaram as convicções que me haviam impingido desde criança.
Uma jovem com quem convivi, nessa época e que encontrei anos mais tarde, contou-ma, a propósito de recordarmos isto e aquilo e também por se ter falado de casos invulgares (escândalos) com pessoas que faziam parte dessas recordações…
Nessa época, quando éramos jovens, a protagonista da nossa história viveu episódios de acesos conflitos familiares de cujos eu ouvira falar, mas sem tantos pormenores… embora possa imaginar os quês, os porquês e os entretantos…
No auge dum desses conflitos decidiu sair de casa da família e procurou a ajuda duma pessoa mais velha, que conhecia e considerava amiga. Acontece que essa senhora era uma beata incorrigível e achou mais acertado que a jovem falasse, em primeiro lugar, com o padre, tratando ela própria de promover o encontro…
Estávamos numa cidade e eram vários os padres que ali “serviam”; uns mais padres do que outros… Entre eles havia um que rondaria os 40 anos. Já lhe apareciam uns raros cabelos brancos que, hoje em dia, não querem dizer nada, porque acontecem a jovens de vinte e poucos anos. Coisa estranha... já nem os cabelos brancos sabem o seu lugar…
Esse padre, dizia-se, era uma sumidade. Até se tinha formado em filosofia e teologia, em Roma.
Por coincidência “do arco da velha” o encontro aconteceu na residência paroquial, por opção do padre… e a primeira coisa que ele fez foi beijar a jovem, aproveitando o momento de fragilidade e a sua posição de ascendência, sem querer saber da concordância, ou não, da visada. Não se escandalizem já os “alarmistas”, caçadores de coisas escabrosas. A jovem teria 18 ou 19 anos… cobiçada por muitos e capaz de suscitar grandes paixões como constatei pelo menos uma vez.
Para a resolução do seu problema familiar nada resultou daquele encontro. Passado algum tempo aceitou uma ocupação bem longe, integrada num grupo, enfrentado agora a oposição da família e do tal padre que (ainda?) não tinha logrado conseguir os seus intentos. A jovem era virgem segundo ela própria declarou quando contou esta história.
Durante o tempo que mediou até à sua partida, a “assistência” espiritual do padre transformou-se em assédio; mais um problema e contratempo para lhe dificultar a vida. Terá mesmo fingido se preocupar com o seu problema e feito alguns contactos para que ela fosse aceite numa ordem religiosa, propondo-se acompanhá-la nas deslocações, circunstância que servia de pretexto para se opor a que partisse. Mas como o assédio sexual se manteve a jovem ter-lhe-á dito, no meio duma quase discussão: “O sr. padre certamente pensa que faz de mim o que lhe apetecer e depois me fecha num convento, mas está muito enganado!”… Nem mais.
Este padre, como teólogo que era, falava, por vezes, dessas coisas, naturalmente. Numa dessas conversas, a tal que abanou, pela primeira vez, as minhas convicções, explicou a existência de Deus desta forma:
- “Nós só existimos para quem nos conhece, assim como para nós só existem, como pessoas, as pessoas que nós conhecemos. Deus existe para quem acredita! Para os chineses, por exemplo, não existe!”
- “Isso quer dizer que Deus não existe; é apenas uma ideia”
- “Existe! Se tu acreditas, se nós acreditamos, existe, pois claro!”
- “Mas a existência das pessoas que eu não conheço posso confirmar a qualquer altura, conhecendo-as, porque elas estão aí, o que não acontece com Deus!”
- “E Deus também se conhece, pelas suas obras!”
…
A conversa ficou por aí, porque não tinha condições para ir mais longe. Mas convenhamos que era uma fraca explicação para quem anda à procura de algo consistente, de respostas coerentes! Foi apenas o primeiro abanão! Ficou a semente para compreender a existência de “verdades” que são apenas fruto de manipulação; ideias criadas e plantadas por uns que acham que podem e devem controlar e impor as suas ideias e fantasias aos outros. Ideias e fantasias feitas e contadas à medida de servir os próprios interesses inconfessáveis.
As religiões podem ter algum cabimento na vida das pessoas, mas o uso das religiões como forma de domínio e repressão das sociedades é uma aberração sem tamanho, que nenhuma fantasia pode justificar... muito menos um embuste como aquele de que se tem "alimentado" a religião Cristã.
Voltemos à nossa história
Terminada a adolescência e entrando na vida adulta, cada um seguiu o seu caminho. Uns para mais perto outros para mais longe, afastando-se, até que o acaso decidisse voltar a nos juntar, fortuitamente.
Foi já de longe que soubemos, eu e a protagonista da nossa história, o que o futuro reservava ao “nosso” teólogo! Soubemo-lo por cartas confirmadas por escassas notícias que escamoteavam a dimensão do escândalo.
O nosso teólogo, a quem a Igreja dera tão elevada instrução, certamente porque lhe reservava um grande destino, acabou por ser obrigado a fugir e desaparecer por ter engravidado muitas jovens das diferentes aldeias aonde se deslocava para “dar assistência” aos fiéis.
Ou seja: não há desígnio maior que resista a um tão insaciável “apetite” por mulheres.
Foi o recordar desta figura e deste escândalo que me permitiu conhecer o relato que aqui vos deixo…
Qual seria a ideia, REAL, que este teólogo fazia de Deus? E de si próprio? E da fé dos outros que é ainda o mais importante? E do respeito pelas pessoas?