2005/12/11

Coisas Que Eu Não Compreendo…

Não consigo compreender a “objectividade” dos mercados financeiros. E, talvez à semelhança de todos os outros seres humanos, acho que “a culpa” é dos mercados financeiros; acho que isso se deve ao facto de se tratar de circuitos especulativos, onde não há objectividade…
Mas hoje decidi desabafar estas minhas angústias.
Para perceber melhor qual a “minha culpa” fui consultar as cotações do PSI20.
Constatei que mais de metade das acções incluídas no índice têm cotações inferiores a 5 euros. Há até casos, como o das acções da Pararede cuja cotação é de 0,29€ (Vinte e nove cêntimos), menos de 60 escudos
Seguem-se as acções da Corticeira Amorim, a valer 1,48€, depois vem a Sonae SGPS (1,51€), seguida do BCP R (2,09€) e da EDP Energias (2,54€). Há ainda 4 outros títulos com cotações na casa dos 3 euros e mais dois títulos com cotação na casa dos 4 euros, perfazendo um total de 11 títulos com valor inferior a 5 euros…
Mas eu pensava que todas as acções tinham o valor nominal de 5 euros (mil escudos na moeda antiga)…
No entanto, o PSI20 “admite” cotações que são, apenas, 5% do respectivo valor nominal (Pararede). E ainda, como no caso da EDP, BCP e da Sonae, cotações que são, em média, cerca de 50% do valor nominal. Porém, incluem-se, neste “lote”, algumas das “nossas” maiores empresas… de gente muito rica e com grandes lucros, com “administradores” pagos “a peso d’ouro”. Há qualquer coisa, aqui, que eu não entendo…
Eu explico os porquês desta prosa:
No reinado de D. Cavaco, nos tempos áureos da especulação bolsista, uma pessoa que me estava próxima insistiu comigo para que “investisse”, na Bolsa. Dizia que, na sua família, várias pessoas tinham ganho muito dinheiro com isso... Apesar do meu cepticismo (não gosto de me meter em coisas de que não percebo e, se calhar, nem quero perceber) tanta foi a insistência que acabei por pegar nuns míseros tostões (cerca de 60 contos) e ir comprar umas acções. O bancário que me atendeu disse-me que só havia, para venda, acções duma dada empresa (que julgo já nem tem cotação na Bolsa) e lá dei a ordem. Foi quanto dinheiro perdi!
Cerca de 2 ou 3 semanas depois, D. Cavaco veio à televisão, fazer o favor (o frete) aos especuladores e dizer que as cotações eram especulativas.
A partir daí, todas as cotações desceram e, no caso das acções que eu tinha comprado, transformaram cada dez acções em uma, com uma desvalorização brutal. Acabei por vendê-las por menos de um décimo do valor que paguei.
Grande negócio que foi, para os especuladores, a conversa de D. Cavaco.
E assim se apropriaram das parcas economias de muitos pequenos investidores que ficaram esclarecidos, até hoje, acerca da idoneidade e fiabilidade dos “mercados financeiros”.
A situação da EDP, cuja recuperação económica acompanhei de perto, cujas acções foram todas vendidas acima do valor facial, é outro caso paradigmático, desta questão…
Também aí houve muita gente, incluindo trabalhadores da Empresa, que comprou julgado que estava a adquirir um valor seguro (à semelhança das anteriores obrigações da mesma empresa) e agora possuem cerca de um terço do valor investido. Os que venderam, já perderam, assim, as suas parcas economias.
Estes factos levantam-me outra questão e outras dúvidas:
Tenho afirmado, por aqui, algumas vezes, que os nossos problemas não se resolvem com retóricas, nem com discursos, sequer com boas intenções ou com promessas eleitorais. É comum eu dizer que a “conversa” não interessa nada, para resolver os problemas; que são necessárias ACÇÕES, tomar as medidas adequadas…
Agora imaginem a confusão que vai na minha cabeça ao perceber que, afinal,” a conversa” (como esta que refiro, de D. Cavaco, ou a outra “conversa da tanga” do Cherne (Durão), que nos mergulhou na recessão e provocou um aumento, brutal, do desemprego) até tem influência… sempre negativa, desastrosa…
Mas porque será que, neste País, as conversas (especulações) só conseguem ter consequências reais negativas…
Será porque estamos no domínio do especulativo, como no caso do “crash” (premeditado e conveniente) da bolsa, que prejudicou tanta gente e beneficiou alguns outros; ou será porque a realidade, desastrosa, só permite a concretização das desgraças?
É que, depois dos dicursos bonitos, dos apelos e das “preocupações”, não se vê aumentar, em proporção, a alegria e confiança e auto-estima das pessoas…
De facto, enquanto os nossos políticos e responsáveis teimarem em manter a actual estrutura económica (de impostos, etc.) absurda, recusando dar ouvidos ao bom-senso, só as “conversas” da desgraça têm reflexos na realidade. Os discursos “bonitos”, as promessas enganosas e falsas, não produzem efeito porque não podem produzir; a actuação das instituições e do Estado não deixam, os políticos não permitem…
E os candidatos? O que têm a dizer a isto? Mais conversa fiada, ou têm ideias claras quanto às medidas necessárias e seus efeitos?
Dos respectivos discursos, ou discussões ou debates, nada transparece, a não ser a habitual desorientação, que tanto nos tem prejudicado.
Eu sei avaliar a conversa, deles, porque tenho ideias, claras, sobre tudo isso!
Desculpem ter abusado da vossa paciência com este meu desabafo…
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