2006/01/19

Promessas Eleitorais!

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(in: “Cinco Reis de Gente”, de Aquilino Ribeiro)

- Estas eleições, Amílcar, são, para o partido, um caso de vida ou de morte. Temos de ganhá-las!
- E porque havíamos de as perder? (…)
- Promete-se tudo. Não se diz a ninguém que não, seja o que for – volveu “ele” com acento categórico, molhado de ironia…
- Se algum lapuz quiser ser bispo?
- Se algum clérigo quiser ser bispo – corrigiu “ele”, com um sorriso ameno – promete-se-lhe, até, as púrpuras de cardeal.
- O Pe. Nazaré é um trunfo de respeito. Se o senhor compadre “lhe passar a mão pelo lombo” vira-o para o nosso lado…
- Ámen! Por que preço nos venderá o sufrágio?
- Por um prato de lentilhas… e mais alguma coisa…
...

Traduzido para os nossos dias, isto seria uma conversa entre o candidato (ele) e o seu “mandatário local”….
Ter-se-à passado na viragem do século XIX para o século XX, ainda em pleno regime monárquico, lá para as bandas das serranias, acompanhado e vivido pelo autor, quando ainda criança….

Fartei-me de procurar, aqui, alguma diferença em relação à situação actual, mas não acho. Hoje continua esta mesma “pouca vergonha”, despudorada. Vocês podem-me ajudar a encontrar as diferenças?
Hoje há mais sofisticação, mas a porcaria é a mesma e a vigarice também. Estamos todos fartos de tanta pouca vergonha, desde há séculos...

Ou seja: em matéria de “fazer política” nada melhorou. E como o país precisa de evoluir… sobretudo nesta matéria, que é para poder evoluir, também, nas outras matérias.