2006/03/04

Tony Blair, Um Criminoso, Traidor!

Publicado também em Editorial
Em relação ao texto que se segue, copiado de Navio Negreiro, a pergunta que vos deixo é: Perante quem deve responder o Primeiro-Ministro Tony Blair? (ou outro qualquer Primeiro-Ministro?). Deve responder perante os seus cidadãos, ou perante as máfias, a CIA, o Bilderberg, ao serviço dos quais comete toda a espécie de crimes, contra outros povos e contra os seus próprios cidadãos? Quais são os critérios de governação legítimos?
Por isso tenho defendido que, sobretudo em relação a coisas tão graves como as guerras e conflitos armados internacionais, os governos deveriam passar a ser obrigados a fundamentar com o resultado de referendos internos, as posições que assumem na ONU. Trata-se do destino do Mundo e da Humanidade, é lícito (só é lícito se) que sejam os cidadãos a decidir. Assim é que é democracia. Até porque são eles (os cidadãos) que suportam os custos, TODOS os custos.

O pai de um soldado inglês, morto no Iraque, escreveu ao Primeiro-Ministro Tony Blair.


Escreveu assim:
Caro Primeiro-Ministro,
Assunto:
Sargento Christian Ian Hickey, 1ºBatalhão de Guardas Coldstream, 97ª baixa mortal no conflito do Iraque.

O senhor, que também é pai, compreenderá, certamente, que a coisa mais preciosa que temos, na vida, são os filhos.
Até há quatro meses, fui abençoado com dois rapagões. Em relação a um deles, ainda não me habituei a falar no Pretérito Perfeito.
O mais novo, Christian, de 30 anos, era soldado. Era um rapaz de excelente carácter, cheio de alegria, grande sentido de humor e generoso; preocupava-se com os outros. Era também um excelente soldado, progrediu rapidamente na carreira e chegou a sargento com 29 anos.
Desde que o meu filho morreu, em Outubro de 2005, a três dias de terminar a comissão de serviço, que me interrogo sobre os motivos porque invadimos o Iraque. O que estamos ali a fazer? Em que condições mantemos ali os nossos soldados?
O meu filho morreu num rebentamento de uma bomba na berma da estrada. O batalhão apenas tem jeeps em fibra de vidro, em vez de Land Rovers blindados.
A sua esposa, senhor Primeiro-Ministro, Cherie Blair, desloca-se num veículo governamental à prova de bala. Gostaria que me dissesse quem corre maior risco, se as tropas numa zona de guerra, se a sua esposa em Londres. Até as botas que deram ao meu filho, quando foi para o Iraque, se revelaram impróprias para aquele clima e ele teve de comprar outras do seu próprio bolso. (SE fosse um soldado português nem poderia comprar outras do seu próprio bolso. É proibido).
Os soldados ingleses são conhecidos pela alcunha de "os pedinchas”, entre as forças da coligação.
Os iraquianos não nos querem lá. Uma sondagem recente indicou que 65% dos iraquianos apoia ataques contra soldados ingleses, 82% opõem-se veementemente à presença de tropas estrangeiras no país.
É tempo de tirar os rapazes do Iraque e deixar que os iraquianos decidem o seu próprio futuro.
Até agora morreram 103 soldados ingleses, numa guerra baseada em mentiras. Morreram por ela, morreram por nada.
Declarar guerra é uma decisão grave. Resulta em muitas mortes e implicações difíceis de imaginar no relacionamento futuro das nações. Pelo que sei, a invasão do Iraque é de duvidosa legalidade.
Eu trabalho num serviço de protecção social a crianças. Se falhar, posso por em risco a vida de alguma criança. Se isso acontecer, haverá um inquérito e eventualmente uma acusação por negligência. Aceito essas condições. Mas gostaria que o senhor Primeiro-Ministro também aceitasse as suas responsabilidades por mandar homens para uma guerra sem fundamento legal.
Tanto quanto sei, o senhor nunca foi a nenhum dos 103 funerais realizados até agora, nem visitou nenhum dos mais de 790 feridos. Gostaria de saber porquê.
Atenciosamente,
Ass:.
(O texto da carta é bastante mais extenso. O que transcrevo aqui é apenas parte, sendo que mantenho o espírito da missiva).