Já o disse, mas convém repetir:
À Pergunta: "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”
Eu respondo SIM
Basílio deixou, no post abaixo, um comentário a favor do não, a que eu não podia deixar de responder.
Como esta resposta contém o essencial dos meus motivos para votar SIM, aqui fica a transcrição:
"O seu argumento contém uma contradição insanável.
As mulheres portuguesas e os seus filhos merecem muito melhor?
Sem dúvida!
As mulheres merecem, por exemplo, ser respeitadas nas suas decisões (as mais das vezes impostas por dificuldades inultrapassáveis); merecem, por exemplo, dispor do seu corpo e da sua vida, da sua disponibilidade, como bem entenderem (ou as circunstâncias o permitirem) e não, como agora, que o seu corpo seja considerado "Terra de Ninguém", onde todos decidem, menos as próprias que, no entanto, têm de pagar, sozinhas, os custos das decisões dos outros.
Quando as mulheres, as mães... e os pais, têm dificuldades não aparece ninguém (nenhum pretenso "bem intencionado") para ajudar, bem pelo contrário. Portanto, só se pode considerar a penalização do aborto como pura e perversa maldade. Para além de ser um pretensiosismo, absurdo, de quem se julga melhor do que os outros, a quem deve impôr as suas decisões mas fazendo-os arcar com as desastrosas consequências...
Por experiência própria lhe posso assegurar: por mais que o aborto seja penalizado, a decisão de ter um filho é muitíssimo mais penalizada, na sociedade em que vivemos! Portanto acabemos, de vez, com essa hipocrisia pérfida, porque com ela só se pode contribuir para destruir ainda mais o Mundo e a humanidade. O respeito pelos outros é muito bonito e é a base de toda e qualquer sociedade civilizada.
Este referendo é um absurdo porque a penalização nunca deveria ter acontecido. Mas é um facto que a humanidade, no seu crescimento e evolução, teve de passar pela fase da barbárie. Deixemos a época da berbárie, porque já é tempo.
Por mim, prefiro, mil vezes, que as pessoas tenham condições para abortarem do que continuar a ver notícias de crianças maltratadas... algumas delas até à morte.
E não me venha com demagogias! Porque o respeito e a protecção das crianças passa pelo respeito e protecção dos pais e, sobretudo, das mães.
E as crianças carenciadas?
Sabia que dez por cento da população portuguesa não se desenvolve convenientemente por deficiências alimentares?
E as instituições de apoio às crianças?
Acaso não o enoja casos como o da Casa Pia?
Acabar com toda essa podridão e hipocrisia, que destrói as nossas crianças e compromete o futuro, devia ser a primeira prioridade de todos os "moralistas".
E as crianças deficientes?
Quem é que socorre esses pais nos seus momentos de desespero?
Não se podem assegurar os direitos das crianças sem assegurar os direitos dos progenitores, a protecção no emprego, o correcto e digno funcionamento da justiça, etc.
Caso contrário isto é uma selva, onde a "cadeia" social quebra pelo elo mais fraco que são, muitas vezes, as crianças.
Todas as crianças têm o direito de ser desejadas e paridas em condições de poderem usufruir de uma vida digna.
Assegure-se isso e depois falemos de "boas-intenções"; que não da penalização do aborto, porque permanece o direito de as mulheres disporem do seu corpo e de este não dever ser considerado "terra de ninguém".
Sabia que, há uns anos, não muitos, uma unidade da Siemens, situada no Alentejo, contratava as operárias a três meses e obrigava-as a fazer teste de gravidez, ao fim de cada contrato?
E que, se o teste desse positivo, a respectiva trabalhadora era despedida?
Não me lembro de "os moralistas" de agora se terem erguido contra essa actuação nazi...
Mas não é só este caso.
É frequente as mulheres perderem o emprego por decidirem ser mães, ou nem sequer serem "seleccionadas" se estiverem em condições de "correr o risco" de virem a ser mães.
Aí, nos casos de despedimento ou de exclusão na selecção, ninguém aparece para socorrer essas mães e essas crianças, bem pelo contrário; o que se pretende é que o mundo do trabalho seja, cada vez mais, uma selva, sendo que os tribunais sancionam, invariavelmente, essas patifarias...
E olhe que eu sei muito bem do que é que estou a falar...
Por acaso eu gostava de o ver numa situação parecida (o seu corpo ser considerado "terra de ninguém") só para ouvir o que diria...
Como vê não há forma de nos entendermos!
A penalização do aborto é uma infâmia que avilta toda a sociedade; porque uma sociedade só é livre e democrática quando todas as pessoas são integralmente respeitadas nos seus direitos fundamentais.
Só para terminar: o instinto natural das mulheres é serem mães. Mas hoje as mulheres não prescidem do seu papel na sociedade e fazem muito bem, porque os homens só têm feito merda. Criem-se as condições de dignidade essenciais e, COM CERTEZA, estará assegurada a sobrevivência da espécie, com a dignidade mínima exigível para ser considerada humanidade, coisa que não acontece agora.
Por tudo isto, meu caro, tenho de lhe dizer que, a meu ver, os do não têm as prioridades invertidas e actuam com extrema hipocrisia e perfídia... como é costume. Já para não falar no arrivismo de se acharem donos do corpo, da consciência e dos critérios dos outros.
Julgam-se melhores do que os outros, mas enganam-se: são os piores!