Isto de ser “bloguer” tem o seu quê de perigoso. A gente senta-se em frente ao computador, liga-se à NET, saltita de “blog” para “blog”, de fórum para fórum, escreve alguns comentários, actualiza o nosso próprio “blog” e, quando pára de “blogar”, já se passou uma eternidade, em vista das tantas outras coisas que há para fazer; e que ficam por fazer. Visto assim, tem características de dependência.
Eu não temo dependências. Por isso, ontem, quando desliguei o computador, decidi que hoje, não “blogava”, nem sequer ligava o computador, para poder recuperar as outras tarefas. Mal o dia tinha terminado, tarde da noite, já tinha mudado de ideias.
O que é um “bloguer”? Alguém que escreve umas coisinhas, acerca das notícias do dia, aceitando, passivamente, o que os media decidem que é notícia e auto censurando-se assim, relativamente à vida real?! Não concordo! Defendo, intransigentemente a “liberdade de expressão”, que não se esgota no contraditar o que “eles” decidem que pode ser notícia.
Isto tudo para explicar que estou a quebrar o meu “compromisso” de ontem por absoluta necessidade; mais forte que o próprio compromisso!
A minha actividade de “bloguer” é recente. Antes disso já mantinha uns apontamentos, “para memória futura”, feitos ao sabor das emoções e das disponibilidades de tempo.
Nesses apontamentos escrevi, na altura:
“Curiosamente, (mas não, certamente, por acaso) ontem contaram-me uma história deveras significativa. Uma pessoa que conheço, que trabalha na Santa Casa (que não identifico por motivos óbvios) disse-me que circulou lá um documento, proveniente dos respectivos responsáveis, que são do CDS-PP, onde se impunham um conjunto de regras fascistas e insultuosas, aos funcionários daquela instituição. Incluía, imagine-se, regras quanto à forma como as pessoas se vestem. O documento acabava exigindo a opinião dos funcionários, pedindo para assinalarem se concordavam ou não, exigia a respectiva assinatura e informava, em rodapé, que quem não concordasse estaria sujeito a sanções. Cada um foi obrigado a assinar a recepção do documento. É claro que as pessoas ficaram todas esperançadas de que lhes seria dada a oportunidade de votarem, para poderem ajudar a correr com esta escumalha. Tiveram a esperança de que seriam convocadas eleições, como noticiavam a maioria dos jornais. Mas a sua esperança morreu na praia. Só durou até às 21H00, quando o Presidente anunciou, ao País, a sua decisão de nomear Pedro Santana Lopes, para primeiro-ministro. Como é possível que as nossas instituições continuem nas mãos de gentalha desta, com a cumplicidade do Presidente? Nem quero pensar no que, de tenebroso, isto anuncia!”
Isto foi escrito no dia 2004-07-10, a propósito da decisão do Presidente. Pois ontem, antes do dia acabar, mas depois de ter saído da NET, encontrei um familiar daquela pessoa que conheço, que trabalha na Santa Casa. No meio da conversa que mantivemos, contou-me que todas as pessoas que tiveram a coragem, e a honestidade de discordar, naquele documento, referido no parágrafo anterior, foram corridas.
Os colegas acham que eles fizeram mal em assumir que discordavam. A maioria, não discordou, mas também não cumpre. Ou seja: é a desonestidade, terroristicamente imposta, por estes “fascistas de meia-tigela”, como único meio de garantir a sobrevivência. Estão isto não é terrorismo puro? Novas (e mais sofisticadas) formas de inquisição?
Ainda tenho que descrever, aqui, e comentar, a resposta que recebi do BE. Mas hoje é só isto, porque tenho muito mais que fazer. Tarefas que, por terem vindo a ficar para trás, se tornaram inadiáveis.
Fantástico, hoje não consigo comentar o meu próprio blog! Já comecei a escrever, por três vezes, mas, de repente, fico sem NET e sem comentário. Por isso aqui vai a resposta a mfc, feita “off-line”, para prevenir incidentes:
“Uns quantos lugares vagos, no Parlamento (82), já significaria uma enorme economia, em vista dos vencimentos e regalias dos deputados. Mas não é só isso. Os lugares vagos deveriam ser entendidos como opiniões desconhecidas. O que significaria que as decisões mais críticas (como a nomeação de Santana Lopes, por exemplo) deveriam ser referendadas. Alguns políticos e outros intelectuais, recusam o referendo, pretextando a pouca instrução das pessoas, mas, como em tudo, a democracia aprende-se a praticar praticando-se. Além disso é sempre possível elevar o nível cultural da população. Se calhar, isso não se faz, porque esta gente tem interesse em poder invocar este tipo de argumentos.
Acresce ainda que isso devolveria, às pessoas, a sua importância de cidadãos, permitiria recuperar a sua auto-estima; e podia contribuir, decisivamente, para as mobilizar para a recuperação da situação, caótica, em que nos encontramos. Seja como for, para mim, é uma questão essencial da democracia, que podia prevenir a actual vigarice e a impunidade das patifarias dos políticos