Assaltante de Aluguer?
Num dia, frio, de Janeiro de há 2 anos, uma “dona de casa” chega junto a uma janela que dá para o terraço e vê, no terraço contíguo, um homem jovem a estender uma corda como se fosse suspender-se nela. Inicialmente pensou que fossem os preparativos para algum trabalho “em suspensão”, mas logo notou que “não fazia sentido”. O indivíduo olhou, deve ter percebido que estava a ser observado, largou a corda, atirou um dos 2 sacos que trazia para o chão, para o beco, manteve o outro saco (mochila) às costas e desceu, num ápice, os cerca de 4 metros e meio que o separavam do chão, apoiando-se na rede e gradeamento do terraço do outro lado, que é bem mais baixo. Desfizeram-se as dúvidas da “dona de casa”: acabava de ver sair um assaltane da casa dos vizinhos, através do terraço.
O que fazer? Lembrou-se de que o melhor que tinha à mão para documentar o acontecimento era a máquina fotográfica digital. Foi a uma janela do outro lado tentar fotografar o assaltane, mas este passava, nesse momento, ao lado dum geep, não se via e já se estava a afastar demais para se tirar uma fotografia “útil”. Então pegou nas chaves e correu, de máquina na mão, assim mesmo mal vestida como estava em casa, para tentar obter alguma foto que pudesse ser útil.
Ainda viu o assaltante abrir a porta dum carro que o esperava numa outra rua, amandar os sacos para o banco traseiro e sentar-se ao lado do condutor que pôs o carro em marcha, de imediato. Finalmente uma foto que talvez pudesse ser útil... e outra para garantir.
Voltou para casa, passou as fotos para o computador e... desilusâo! Não era possível ver a matrícula. Telefonou para a Polícia... e seguiu-se a cena surreal do costume: descreveu o que vira e pediu um endereço de email para enviar as fotos... talvez o carro da polícia se cruzasse com o carro usado no assalto...
Qual email qual o quê. A resposta foi a do costume (mau costume): esperar que iria um carro “tomar conta da ocorrência”.
A polícia chegou, a “testemunha” iniciou o relato dos acontecimentos, da “ocorrência”, e pediu ao polícia que a acompanhasse para lhe mostrar o terraço e o local por onde o assaltante tinha descido.
Reacção do agente:
- “A senhora diga, DEPRESSA, o que se passa que é para eu comunicar com a central e pedir reforços, se for caso disso!”
- “Calma! Agora as pressas já não servem de nada! O assaltante já está longe! Eu vi-o entrar no carro e arrancar.”
O que apeteceu mesmo foi perguntar para que raio teria sido contada toda a história á agente que atendeu, da esquadra, e porque é que a conversa não foi gravada e transmitida aos “tomadores” da ocorrência. Assim já estariam inteirados dos acontecimentos e não necessitavam de tratar as testemunhas como se fossem os criminosos ou responsáveis por garantir o êxito e adequação dos procedimentos da polícia, quando são os “procedimentos” da própria Instituição (a PSP) que se omitem de ser eficientes como deviam e podiam ser...
E lá conseguiu relatar o acontecido mostrando as fotos para “ilustrar”. Acompanhou os agentes á porta dos vizinhos assaltados, na outra rua, mas ninguém atendeu. Apenas o cão ladrou... Agora já era tarde para ladrar, mas o animal não sabia isso.
Os polícias foram embora e, passados alguns minutos (10, 15 minutos?) a dona de casa voltou a ver um homem jovem no terraço... que vestia uma camisola com capuz igual á do assaltante. Não conseguindo ver bem quem era, voltou a chamar a polícia dizendo isso mesmo: estava alguém novamente no terraço; não conseguia perceber quem era.
A polícia veio e, logo de seguida, um enorme e disparatado aparato policial (uma carrinha que parecia de polícia de intervenção) apareceu no beco para onde dão os terraços. Afinal era só o “assaltado” que tinha regressado a casa e que reagia e falava como quem está entre chocado e estupefacto. Finalmente foi possível obter um endereço de email para enviar as fotos, encarregando-se os assaltados de as entregar à Polícia, em cd.
Inicialmente ficou uma sensação de frustração. As fotos pareciam não sevir para nada. Tinha sido um esforço inútil; os assaltantes iam escapar-se, impunes, mais uma vez, como é costume... e como parecia ser “intenção” (ou resignação) que se depreendia da atitude... e (falta de) empenho, da polícia.
Quando foi chamad a prestar depoimento, na secção de inquéritos da PSP, soube que o assaltado conseguira identificar o carro e que os assaltantes já estavam todos identificados e tinham confessado o crime. Menos mal...
O resto da história veio a saber-se durante o julgamento e, acreditem, ninguém está preparado para ela:
Quando viu as fotos do carro, logo depois do assalto, o assaltado achou que conhecia alguém com um carro assim e, depois de muitos telefonemas conseguiu identificar o dono do carro e até saber onde encontrá-lo. Confrontou-o com as evidências, ele começou por negar, mas acabou por confessar, devolveu o que tinha e tentou devolver o que não tinha. Quanto a dizer quem mais estava implicado, recusou afirmando que não podia, que tinha medo. Acabou por contar tudo depois de alguma pressão (que se supõe ter incluído ameaças – admite-se que terá sido aplicada a lógica: “se tinha medo de falar, nada melhor do que fazer com que tivesse mais medo de não falar, para lhe soltar a língua”): o assalto tinha sido planeado, durante 3 meses, por um grande amigo do assaltado, que frequentava a casa deste, onde era tido como pessoa de confiança, a tal ponto que o assaltado lhe confidenciou que tinha algum dinheiro em casa, proveniente da remuneração dum trabalho de pesquisa no terreno, que fizera durante algum tempo, longe de casa.
O dono do carro foi obrigado a participar no assalto por meio de ameaças e porque devia, ao amigo do assaltado uma elevada quantia...
O “amigo” do assaltado negou tudo, sempre... porém, a sua própria mãe, quando confrontada com a história, assumiu a culpa do filho, devolveu a parte do roubo que este tinha em casa e obrigou-o a pedir desculpa...
Trata-se de 3 estudantes universitários (o dono do carro, o assaltado e o seu “amigo” promotor do assalto) que frequentam o mesmo estabelecimento de ensino.
E o assaltante? O indivíduo que escalou o muro que tem cerca de 4 metros e meio de altura (aproximadamente a altura dum segundo andar) para consumar o assalto? Como é que aparece neste filme? Bom, esse não é estudante universitário nem nada. Até é proveniente dum bairro “problemático” e tem cadastro por assalto a residências. Frequenta as imediações da universidade, os cafés próximos, etc. Os estudantes conhecem-no, bem como as suas “actividades” e a sua capacidade para escalar. Até chegou a fazer um vídeo que esteve na NET mas foi retirado. Também se sabe que caiu. E supõe-se que terá sido preso devido ao facto de ter participado neste assalto, talvez por estar em liberdade condicional, com pena suspensa...
As histórias contadas por cada um em Tribunal:
1 - O dono do carro confessou que promoveu o assalto, por pressão do grande amigo do assaltado que o obrigou com ameaças e para lhe pagar o que devia. A dívida era o acumular de dinheiro que lhe era emprestado durantes as saídas nocturnas.
2 - O “assaltante” limitou-se a confessar o assalto e que o fez a pedido do dono do carro...
3 – O amigo do assaltado, esse, conta outra história: Não teve nada que ver com o assalto, que foi da autoria e da inciativa dos outros dois. O dono do carro deve-lhe uma avultada quantia em dinheiro, mais de mil euros, que lhe foi emprestando aquando das saídas nocturnas. Ele tem insistido para que lhe pague e, numa dessas conversas, disse: “porque é que tu não és poupado como o... (nome do assaltado)? Ele até tem dinheiro guardado em casa...” e terá sido a partir dessa conversa que os 2 participantes no assalto decidiram “actuar”. Como é que sabiam os cantos à casa? Bem, como ele mora num prédio ao lado e as casas são iguais, conheciam a casa dele e “adivinharam”...
O que não foi dito em Tribunal (ou que o Tribunal não quis ouvir):
- A dívida referida não é proveniente de empréstimos durante as saídas nocturnas (nem tal faz qualquer sentido; ninguém empresta tanto dinheiro nessas circunstâncias), tem que ver, sim, é com Consumo e Tráfico de Droga. Mas isso o dono do carro não podia dizer porque os pais estavam presentes quando prestou depoimento e não sabem que consome droga. O “fornecedor” também não iria dizer, obviamente. O assaltado queria dizer isso... mas os advogados acharam que não era boa ideia...
O que se conclui é que, provavelmente, a dívida terá atingido valor tão elevado por “conveniência comercial” do vendedor: se calhar, se recusasse “a dose”, sem dinheiro, não vendia e o “consumidor” corria menos risco de “ficar agarrado”... E como este “fornecedor” demonstrou, neste caso, que é um indivíduo “cheio de recursos”, achou que “o risco” era mínimo; haveria de arranjar alguma maneira de receber...
- Para consumar o assalto havia vários obstáculos a “remover”: um era a existência dum cão de grande porte, que até assustava os vizinhos: o assaltante teria de saber que o animal era manso e como lidar com ele para que nem desse sinal... até porque a existênca do cão é que fazia com que a porta do terraço ficasse aberta; outro obstáculo era a existência de duas cadelas no terraço mais baixo, que davam sinal de tudo e que impediriam qualquer tentativa de escalar aquele muro. A cadela maior desapareceu 12 dias antes do assalto, durante uma das saídas nocturnas em que a dona as deixava à solta ... e nunca mais voltou a aparecer. A dona da casa assaltad diz que a cadela desapareceu para que o assalto fosse possível e faz todo o sentido. A outra cadela ficou neutralizada, deprimida durante muito tempo e, quando estava sozinha, nem se ouvia nunca... Também haveria que espiar a família para saber quando é que a casa estava vazia. Nessa manhã, à hora do assalto, o estudante teve um exame e o resto da família tinha saído cedo, COMO DE COSTUME.
Nem o assaltante, nem o dono do carro tinham meios (ou perfil) para “remover” esses obstáculos. Já o mandante do assalto parece ter recursos para tudo...
O perfil social de cada um:
O assaltado, tal como o dono do carro, pertencem a famílias da classe média; o assaltante é, como já se disse, proveniente de bairro problemático e, ao que parece, será o que vai pagar o preço mais elevado, sem ganhar nada com isso (visto que tudo foi devolvido), apenas porque achou piada fazer um favor aos seus “amigos” estudantes, futuros doutores. A julgar pela forma como foi tratado pelo juiz, é ele que vai “pagar o grosso da conta” que é para não continuar a ser ingénuo e pateta...
Quanto ao “amigo” do assaltado, o promotor do assalto, é proveniente duma família com elevados recursos: avós ricos em relação a cujos o maior receio da mãe é que venham a saber das actividades do neto e o deserdem ou coisa parecido; ou então lhes dê uma coisinha má ao saberem...
O que mais assusta é a gente ouvir algumas pessoas ligadas ao caso “ameaçar” que o “amigo” do assaltado ainda se há-de transformar em “político de renome” ou coisa parecida, porque tem todos os predicados... lá a mesma falta de escrúpolos que se vê nas atitudes dos políticos de nomeada (ou coisa parecida) ele tem...
Como já se disse, o assaltado sabe das actividades ilícitas do “amigo” que lhe preparou o assalto. O que eu não consegui descobrir foi se ele percebeu só depois de ser assaltado, ou se já sabia antes e, mesmo assim, achava que podia confiar no outro...
O julgamento está na recta final, a produção de prova está completa e, provavelmente, a sentença já está decidida... mas aguarda-se com espectativa... talvez para ver confirmada a nossa suspeita: de que o menos culpado é que vai levar com as culpas todas e com a condenação maior (por fazer um favor aos seus amigos “importantes”) e que o pior deles todos até corre o risco de se safar... a julgar por alguns indícios de protecções a que tem acesso... e devido aos “pormenores” de que o tribunal não tomou conhecimento, nem quiz saber.
Veremos!
APELO! Participação Cívica e Direitos Fundamentais: -- Petição Para Valoração da Abstenção -- Assine a petição AQUI, ou AQUI ou AQUI, ou AQUI, ou AQUI -- Denúncia de Agressão Policial -- Petição contra os Crimes no Canil Municipal de Lisboa