2006/07/10

Inovação? Nunca!

Um anonymous deixou, no post abaixo, este, um comentário a que se impunha responder.

A questão tem a ver com aquilo que cada um considera serem as alterações possíveis de acontecer, na organização da sociedade, no sistema político e eleitoral.
As pessoas podem ter as suas convicções sobre isso (embora me pareça que convicções assim como a do comentário não deviam existir, porque impedem a resolução dos problemas do Mundo e das sociedades), o que não podem, ou não devem, é ter a pretensão de "elevar" as suas opiniões (fracas opiniões, neste caso) a LEIS científicas definitivas...

Aqui fica a transcrição da minha resposta:
"Meu caro anonymous (que não gostou deste post).
O seu comentário é "estranho" em muitos aspectos.

1º - Eu não disse, em lado nenhum, que as maiorias têm sempre razão.

2º - Também é defensor dos interesses da maioria? E espera não ser já rotulado de... Pois... meu caro... as pessoas não são "defensoras de", apenas porque dizem sê-lo.
Defensor dos interesses, TUTELADOS, da maioria...
Defensor daquilo que você acha serem os interesses da maioria, sem que lhe interesse, para nada, o que a própria maioria pensa, ou sente, ou quer... Isso é uma ideia bem pouco democrática...
É assim parecido com o que diziam os colonizadores... tanto que, sem eles, os outros povos estavam destinados ao abismo.

Como eu, hoje, estou com uma dose suplementar de paciência, espero conseguir me explicar.
Já lá vamos!

Antes disso a outra ideia esquisita: "espera não ser já rotulado"... está completamente enganado. À excepção dos comentários provocadores e insultuosos (de cujos eu apago a maioria; só ficam um ou outro para exemplo, e não me arrependo, bem pelo contrário); à excepção desses, dizia, nunca rotulei ninguém, mas sim as ideias que aqui são deixadas e as atitudes.
Tenho esse direito (liberdade de expressão), tenho essa obrigação (honestidade, frontalidade e sinceridade) e ainda se impõe; até porque são precisamente essas ideias (fruto da manipulação e da confusão) que impedem a resolução dos nossos problemas colectivos.
Estranho, para mim, é que isso o melindre...

Portanto, meu caro, tal como reconhece na realidade à sua volta, também as suas ideias estão eivadas de manipulação, de conceitos absurdos e de falácias sendo, objectivamente, reaccionárias, por mais que você diga o contrário e por maiores que sejam as suas "boas intenções".

Voltemos à história de você defender os interesses da maioria (da tal maioria que tem de se entregar cegamente nas mãos duma qualquer minoria que diz defendê-la).
Isso é exactamente o que diz o governo (um qualquer governo), ao mesmo tempo que comete todo o tipo de abusos.
Já algumas vez ouviu algum governo dizer que, por exemplo, aumenta os impostos, os preços, impõe sacrifícios, fecha maternidades, reduz os direitos, dificulta o acesso à saúde, aumenta a repressão, beneficia o capital e prejudica a população, estrangula a economia e as "capacidades humanas", impede o desenvolvimento, etc. que não seja com o pretexto de defender o país? de defender as maiorias? Eu nunca!
"Eles" (os políticos e os governos) até invocam que representam a maioria, que receberam mandato da maioria, o que é falso, para legitimarem toda a espécie de crimes que cometem, de destruição que consumam...
Não tendo razões para acreditar nestes "defensores da maioria" por que raio deveria a maioria acreditar em si, ou noutros quaisquer "defensores da maioria"?

Mas deixe-me colocar-lhe a questão doutro modo:
Imagine que, por um qualquer acaso, é você a tal maioria (para facilitar, suponha que detém a maior quota numa sociedade qualquer); agora suponha que outrém lhe vem dizer que "defende a maioria", lhe faz uma série de promessas e que, assim sem mais, lhe exige que você confie, lhe entregue o poder, sem possibilidade de questionar ou intervir na respectiva acção.
O que é que você faria? Confiava, assim sem mais?

Lá porque se trata dos destinos do País e do Mundo (ou principalmente porque se trata dos destinos do País e do Mundo, do nosso destino colectivo) "a coisa" não é diferente do exemplo da sua propriedade.

Repare que, a única coisa que eu defendo é que existam mecanismos de controlo da acção dos políticos, por parte de todos os cidadãos, que os políticos prestem contas do que fazem, para se poder acabar com os seus abusos. Acha que isso não se justifica? Que os políticos não abusam?

Mesmo socialmente. Você entrega os seus direitos e interesses a uns quaisquer "defensores da maioria", só porque eles dizem que são?
Não, pois não?
Você avalia e "escolhe" o seu grupo. Então porque é que os outros (todos os outros) não têm o mesmo direito?
Porque consigo (ou o seu grupo?) seria diferente?
Porquê?
Porque basta você estar de acordo?
Não interessa se os restantes cidadãos concordam ou não?
O que é que faz de si diferente? Especial? Pertence a alguma raça superior?

Agora a parte mais chata.
Você diz: "não há democracia directa, nem nunca houve". Completamente de acordo!
E continua você: "nem nunca haverá".
Porquê? Porque você não quer?
Porque a sua pobre cabeça não lhe permite "compreender" um tal sistema?
Porque lhe daria muita maçada e lhe exigiria muito esfoirço pensar e agir de maneira diferente, com parâmetros diferentes?
Caramba!
Mas eu farto-me de ouvir que são necessárias mudanças! Tudo uns cínicos, já estou a ver.
Dizem que é preciso mudar, mas é para os outros não dizerem, de forma consequente, porque não querem mudar nada.
O que é que você entende por mudanças? Ficar tudo (ou pelo menos o essencial) na mesma?

O que distingue a raça humana dos outros animais é precisamente a capacidade de aprender. Mas não de aprender no sentido empírico. Aprender, assimilar experiências, analisar problemas e RESOLVÊ-LOS, evoluir; e evoluir implica mudar. O Mundo sempre mudou, e como mudou!
A nossa principal característica é resolver problemas; qualquer problema, meu caro!

É uma característica, individual, de nível e capacidade intelectual perceber que, quando se trata das sociedades e dos comportamentos humanos (sobretudo os colectivos) nada é permanente, não há "dados adquiridos" tudo pode mudar.
Até pode mudar dum momento para o outro.
Ou não será assim?
Por isso convém que estejamos psicologicamente preparados para mudanças, sempre...

Finalmente o mais importante!
No que concerne à governação, às grandes decisões políticas e sociais, são AS MAIORIAS e só as maiorias que "têm sempre razão".
Neste particular, as boas decisões são as das maiorias, por mais que a sua tacanhez (porque é um problema de tacanhez) lho não permita ver.

Há várias outras questões que me confirmam:
- É frequente as pessoas se lamuriarem porque não existem "desígnios nacionais", objectivos comuns que tenham de ser, de facto, concluídos, sem se ficar à mercê dos caprichos das mudanças de governos e respectivos grupos de interesses; isto é: da corrupção.
É assim, com decisões da maioria, que se "definem" esses "desígnios nacionais".
E nisso as maiorias NUNCA se enganam.
Mas mesmo que se enganem, que sejam "aldrabadas" acabam por aprender o quê e como tem de ser feito, se tiverem essa oportunidade, para além de poderem punir quem aldrabou. Garanto-lhe que o País melhoraria muito.

- Há, de facto, pessoas (que estão em minoria) líderes, que defendem os interesses da maioria e são capazes de exercer os cargos adequadamente. Mas se esses são realmente líderes também devem ser capazes de mobilizar as pessoas, de as convencer e, sobretudo, de prestar contas e se submeter ao controlo dos cidadãos.
Também aí, na identificação dos líderes, as pessoas (as MAIORIAS) não se enganam... Não se esqueça de que estou a falar de maiorias reais e não de maiorias eleitorais, que não é a mesma coisa.

- As decisões têm de ser sancionadas pela maioria, a maioria tem de ser mobilizada e mobilizável, porque não há soluções sem as pessoas, sem a maioria das pessoas.
A participação de todos é importante, porque só sendo possível e necessária a participação de todos permite localizar e concretizar capacidades e competências, nomeadamente de inovação...
Aliás, o que é que você entende por INOVAÇÃO, quando diz: "nunca houve, não há, nunca haverá"?
Assim, como diz, não há inovação... percebe?

- As decisões têm de ser sancionadas pela maioria, os governos têm de governar a favor da maioria, porque os nossos direitos e interesses, como povo e como nação, só estarão defendidos quando os governos puderem contar com o apoio das respectivas populações... Caso contrário, os países ficam à mercê das máfias e gangsters internacionais...
Não há minoria que possa fazer isso, por mais bem intencionada que seja... É necessária a maioria, uma maioria esclarecida, lúcida, empenhada. A melhor forma de o conseguir é fazer as pessoas participarem nas decisões...

- Para além do mais, só pelo simples facto de os políticos e governantes saberem que teriam de prestar contas, os seus actos e comportamentos se alterariam, eles seriam muito mais "honestos".
Acabavam-se as mentiras eleitorais e os jogos sujos para controlar o poder, por parte das máfias, porque não resultariam.
Eu, se tivesse que exercer algum cargo, quereria que esse controlo da maioria se exercesse, porque seria a única forma de garantir que os interesses da maioria prevaleceriam.

Mas não desespere!
Lá porque você está completamente perdido não significa que não haja quem veja mais longe, nem que a humanidade esteja condenada a este descalabro de situaçao, sem alternativas.

Contudo, só há alternativas com as maiorias...

Volte sempre!