2006/11/13

Contestação Social e Vandalismo.

Neste post de o Jumento, deixei o seguinte comentário, que decidi passar para aqui. Tenho a sensação de estar a repetir coisas que disse inúmeras vezes, mas tem de ser; é que aparece sempre alguém que não compreendeu.

“Meu caro Inconformado!

Lá me enchi de paciência e vou tentar reescrever o comentário referido.

Você confunde tudo quando associa a contestação ao CPE com o vandalismo.
O vandalismo (que incluiu actos de violência terrorista, indescriminados) foi uma provocação neo-con, com o objectivo que já referi (e que foi alcançado) e Sarkozy é um neo-nazi sim!

A situação é a seguinte: Bush e os neo-cons perderam as eleições na América mas, graças a esse tipo de provocações: o vandalismo, estão a ganhar terreno em França.
O que me espanta é que, sendo esta estratégia tão antiga e estando tão gasta e denunciada, ainda haja quem não queira ver.

Acerca da contestação ao CPE, assunto completamente diferente, escrevi, na altura, e não altero nada do que disse, como também não altero nada do que disse, sempre, sobre o vandalismo

Se você acompanhou as notícias sabe que os jovens que contestavam, genuinamente, o CPE (Contrato do Primeiro Emprego) se queixaram dos provocadores infiltrados que eu referi quanto ao vandalismo, denunciando os seus propósitos de provocar distúrbios e violência que “justificassem” repressão exemplar sobre a contestação, precipitando a sua derrota.

Essa escumalha: os provocadores neo-cons, aparecem em todo o lado. As manifestações anti-globalização são um bom exemplo.

Em França, a luta contra o CPE teve êxito porque foi iniciada pelos jovens estudantes e, de seguida, apoiada pelos sindicatos, levando para a rua ORDEIRAMENTE e persistentemente, milhões de pessoas (depois de os jovens terem resistido e denunciado os provocadores, arruaceiros, neo-cons)… coisa que nunca aconteceria em Portugal (os sindicatos apoiarem uma luta de jovens estudantes), porque aqui cada um tem o seu quintalzinho e ninguém quer misturas… que é para não perderem protagonismo; preferem saborear, solitariamente, a derrota e desesperar as pessoas com ela e com os seus folclores inconsequentes (porque têm, todos, costela de traidores).

Você tem razão, no que se refere à violência, mas não é neste contexto.
Lembra-se dum desgraçado que matou o Presidente da Junta de freguesia? (Acho que são dois casos, mas refiro-me àquele que foi agredido com uma ferramenta)
Quem o matou foi o arrivismo, a prepotência, a impunidade, o facto de os cidadãos não poderem confiar nas instituições nem na justiça. O desgraçado que agrediu foi apenas “o instrumento” que estava à mão, duma “desgraça anunciada”, provocada pela arrogância sem limites, dessa gente. Esses casos (e outras mortes noutros contextos) começam a ser muito frequentes, mas ameaçam agravar-se, em vista da ausência de pudor dos que usam e abusam do poder e do consequente (e inevitável) desespero dos comuns mortais.

Lembra-se do caso do encerramento das maternidades e da demonstração dos autarcas de que podiam mobilizar os munícipes em grande número e obrigar o governo a recuar?
Apesar disso, esses mesmos autarcas traíram os seus eleitores, decidiram virar-se para os Tribunais, onde sabiam que a causa estaria perdida… e o governo fechou e continua a fechar maternidades...
Que negociatas terão feito esses autarcas, usando essas demonstrações como forma de pressão (chantagem), e que vantagens terão obtido para si próprios para optarem por trair os seus munícipes? Não estou a falar de cor. Já passaram por debaixo do meu nariz coisas assim que, além disso, são tão comuns e frequentes, entre nós, que se torna impossível não perceber nem dar por isso…

O que estou a tentar dizer é que o que aconteceu em França, quanto ao CPE, também podia acontecer cá (se tivéssemos dirigentes idóneos, à altura);
Que a violência de provocadores neo-nazis nada tem a ver com isso, não é necessária e até é prejudicial.
Que a violência não conduz às alterações necessárias, até as impede; e que estas têm de ser alcançadas por vias mais seguras e eficientes… como a alteração do sistema eleitoral e a valoração da abstenção que é para cortar o passo a políticos oportunistas e mentirosos e também a dirigentes traidores… para que seja inevitável colocar as pessoas certas nos lugares certos, única via de resolver os problemas. A questão está em alterar a natureza dos governos condicionando-os e não em “atacar” os governos usando até a violência, sem se saber o que vai acontecer a seguir, nem como garantir que não venham outros fazer exactamente o mesmo. Até porque a violência (de qualquer natureza) é sempre assunto de ínfimas minorias e as alterações necessárias na sociedade e na governação têm de ser assunto de maiorias, sob pena de ficar tudo na mesma. É isso que as pessoas sentem e é por isso que não se mobilizam…

Com isto tudo quis também demonstrar que até a violência do desespero (como a do outro que assassinou o Presidente da Junta), também é evitável, porque existem formas de pressão (e assuntos capazes de mobilizar as pessoas, não existem é dirigentes) susceptíveis de encurralar os governos, como se viu no caso do CPE e como não se viu no caso do encerramento de maternidades, porque as pessoas, cá, foram traídas.

Estou a perder tempo a dar esta resposta, porque me impressiona que haja quem não distinga coisas tão básicas e louve actos repugnantes como o vandalismo, cujos objectivos são do mais pérfido que há.

Agora sim! Devolvo-lhe os conselhos e retribuo os cumprimentos:

Pense pela sua cabeça e deixe-se de literaturas intelectualoides... e de acreditar nos “opinion makers” pagos a peso de ouro para manter o establishment...tenha um excelente fim de semana!"



Sempre é menos indigesto "discutir" isto do que o conceito de Esquerda M. (a "esquerda" do congresso do P.S.). Será M. de Moderna, M. de Mentirosa (como o P.M.), ou M. de Merda?
Eu excluo, em absoluto, a primeira opção.

Para decidir isto a minha receita é: VALORAÇÃO DA ABSTENÇÃO