2005/11/06

Como as pessoas mudam…

De vez em quando dou uma espreitadela nos programas de entrevistas das TV’s.
Recentemente, Belmiro de Azevedo foi o convidado do programa: “Diga lá Excelência”.
Nem quis acreditar quando o ouvi dizer que “eles” (julgo que sejam os dirigentes das empresas do Grupo Sonae) estão a fazer uma “pedagogia” que consiste em “convencer” os licenciados de que o facto de terem uma licenciatura não lhes dá o direito à respectiva colocação (emprego “compatível”) e que existem muitas funções vulgarmente pouco consideradas (só pode ser pelo facto de serem mal pagas) que são funções “muito nobres”, a exigir competências e formação específicas (exemplificou com a tarefa da secção de peixaria, ou na caixa dum supermercado).
Será que o Engº Belmiro aplica esta sua tese nos vencimentos que paga aos seus trabalhadores? Eu sei que os supermercados da Sonae pagam vencimentos muito baixos…
Caiu-me o queixo ao ouvir o Engº Belmiro a dizer estas coisas. É que o Engº Belmiro, há anos, era conhecido por dizer qualquer coisa parecida com isto: “Engenheiro que não tenha a sua própria empresa, de sucesso, quando chega aos 40 anos, demonstra que não é competente, que é um falhado…”.
Grande mudança Sr. Engº Belmiro! Então agora já se dedica a convencer os licenciados de que devem “pegar no pesado”? Tem andado muito distraído! Nós por cá, já há muito que sabemos que existem licenciados em todo o tipo de funções, incluindo a varrer ruas…
Sabe? Mas isso devia significar a abolição dos vencimentos escandalosos, como os que têm sido denunciados aqui neste blog… Se não, como é que justifica, perante os que não têm acesso a esses tachos, tais “vencimentos”? Não é pela competência, certamente, porque a ausência dela, a incompetência, está bastamente provada…
Está visto que, neste país, não existe lugar para que as pessoas bem formadas possam viver com dignidade, sem se sentirem ultrajadas. O argumento de falta de formação é uma patranha de mentes obtusas, para desculparem os efeitos dos seus repugnantes actos, para entreterem os imbecis com promessas de “apostar na formação” e promover a formação, como se isso tivesse alguma influência na resolução dos nossos problemas…