2005/11/15

Os que não falam... E os que falam demais...

Publicado também em "O Eleito"
Não sei qual dos defeitos será maior: se falar demais, se remeter-se ao silêncio, alimentando todo o tipo de equívocos. O que sei é que estes são os menores dos defeitos dos dois candidatos à Presidência.
Falo de Soares e de Cavaco, obviamente.
É caso para dizer que, em matéria de sondagens, na corrida Presidencial, os patéticos vão à frente, (porque têm menos bagagem?). Só os tolos votam em patéticos. Se não fosse o elevado nível de abstenção a evidenciar o contrário, poderíamos recear se: será “isto” um país de tolos? Mas vale a pena esperar para ver.
Soares criticou Cavaco, por não falar, numa boa demonstração de que, ele próprio, fala demais, mesmo que seja para dizer asneiras.
Então vejamos o que tem Soares, de tão importante, para dizer ao País:
Soares critica Cavaco “porque não é consensual, à direita”!
Devem estar a brincar comigo (os que “desencantaram” esta múmia para candidato a Presidente). O Homem não tem espelhos! Ele é consensual aonde? À Esquerda? Com, pelo menos, 6 candidatos a disputar esse espaço?
E a palhaçada continua:
Soares acha que Cavaco é dum “messianismo revanchista”.
Esta é demais! Um maçon assumido, com as mãos sujas de tudo quanto é maquinação e manipulação (e até em negócios “duvidosos”, para usar um eufemismo) protagonizadas pela dita “sociedade secreta”, a cujos membros garante total impunidade, que é um simples representante, manobrado e manobrável, desses “interesses inconfessáveis”, que viola as leis, com todo o despudor, publicamente… É um grande democrata… Que ideia haverá naquela cabeça de DEMOCRACIA? Uma coisa bem tenebrosa, certamente.
Parece-me que há pessoas, na nossa sociedade, que deviam ser inibidas da política por perturbações mentais. Só por demência, por desequilíbrio (que provoca incapacidade de avaliação isenta e imparcial) se pode compreender que uma pessoa com o currículo de Soares assaque a outros revanchismo. Por favor, alguém ofereça um espelho ao Homem!
Enfim, escuso-me de falar sobre “cultura humanista”. Mas sempre gostaria que alguém me explicasse onde está a cultura humanista dos vencimentos escandalosos e outras mordomias, acumulação de pensões com vencimentos, etc. que os políticos se atribuem e aos seus amigos. Soares nada tem a ver com isso? Eu acho que ele é um dos principais responsáveis… embora Cavaco integre o grupo dos responsáveis também… Até porque ambos usufruem delas: ambos recebem e acumulam reformas e vencimentos...
O que é que Soares tem para oferecer ao País, para além do currículo deplorável?
Diz ele: “Têm de ser encontradas soluções”.
Grande novidade! Se ele não dissesse ninguém perceberia… Dizer isto sem especificar uma via, sequer, significa, tão somente, que ele não faz a menor ideia de o que é que deverão ser essas soluções e nem das vias para “chegar às soluções”.
Essa (desorientação) ausência de conhecimento de quais as soluções, deve ser um sentimento comum a mais de 80% dos portugueses. Mas também há os que sabem como chegar às soluções. Então porque é que há-de ser ele candidato? É a costumeira liderança da mediocridade e ausência de “inspiração”…
As afirmações de Cavaco, quanto a estas matérias colocam-no ao mesmo nível…
Considero este Primeiro Ministro uma aberração, quer como pessoa, quer como político e muito mais como P.M. Mas também não será por aí que conseguirei decidir qual dos dois candidatos é melhor. Eles conseguem ser cada um pior que o outro. Até nisso: ambos elogiam Sócrates!
O silêncio de Cavaco não me incomodaria (em boca fechada não entra mosca nem dela sai asneira), se não fosse os antecedentes do dito evidenciarem que a atitude já foi caracterizada, por Eça de Queiroz, no século antepassado, a propósito dum político seu contemporâneo, cujos silêncios de ignorância eram interpretados como sendo sublime e transcendente meditação… próprios dum espírito e inteligência “superiores”.
O silêncio de Cavaco serve para isso mesmo: para alimentar equívocos, para que cada um faça dele o seu candidato ideal, sem ter oportunidade de se desiludir antes de votar…
Cavaco diz que se candidatou “pelo futuro do País”.
Sr. Prof., pelo futuro do país devia se ter escusado a tão deplorável papel.
Mas poderemos nós censurar a presunção destes pobres de espírito, ou devemos censurar a má-fé de quem, cinicamente e hipocritamente, lhes alimenta e ilude o ego, porque acha que isso serve os respectivos piores interesses?
Vejamos o que é que, de tão transcendente, para o país podemos esperar de Cavaco:
Cavaco diz que:
Portugal vai continuar a empobrecer!
Portugal vai continuar a afastar-se da convergência europeia!
Caramba! Se ele não dissesse nós nunca conseguiríamos perceber isso…
E eu digo que Portugal SÓ vai continuar a empobrecer graças à tacanhez dos políticos, à sua incompetência e à sua actuação criminosa.
Não tem de ser assim; os nossos problemas têm soluções que urgem. Esta situação pode-se inverter, rapidamente, desde que se tomem as medidas adequadas e se resolvam os problemas mais prementes e devastadores…
Como vêem, Cavaco fala! Não me digam que não! A meu ver até fala demais, porque dizer disparate é, sempre, falar demais.
Deixem-me contar aqui 2 episódios que, a meu ver, caracterizam Cavaco Silva (marcaram, decisivamente, a minha opinião e avaliação de Cavaco):
(1) No início da 1ª guerra do Golfo, quando, tarde da noite, se assistia àquele espectáculo, absurdo e degradante, da “guerra em directo”, um jornalista abordou Cavaco e pediu-lhe a opinião, um comentário. Cavaco respondeu, tão somente, qualquer coisa parecida com isto: “Não sei! O Presidente vai falar, daqui a pouco, vamos ouvir o que ele vai dizer”. O “Presidente” era Bush pai, então presidente dos USA… Um individuo com esta subserviência não pode representar uma nação, porque o conceito de nação é incompatível com tais atitudes… Não gosto das frases feitas, enganadoras, mas isso não pode desculpar estas atitudes. Elas ferem, muito, e destroem, a auto-estima dum povo. Naquele caso teria sido preferível a “frase feita”, politicamente correcta, para evitar a nossa humilhação colectiva…
(2) No início da década de 90, do século passado, eu trabalhava na EDP (onde constatei a enorme quantidade de crimes, com consequências desastrosas ao nível económico, que se cometem nestas empresas). Cavaco prometera que privatizaria a Empresa e, com esse objectivo, procedeu ao seu saneamento financeiro. Com uma administração escolhida e nomeada por Miguel Cadilhe, a empresa passou, em pouco tempo (assim como eu digo que é possível fazer em relação à economia nacional…) de um dos maiores e crónicos “elefantes brancos” da nossa economia, para uma empresa lucrativa. Logo após, mercê da cobiça suscitada pela apropriação privada dos respectivos lucros, Cadilhe foi corrido do governo, através da cabala que todos conhecem e, com ele, foi também “corrida” a dita administração, cujos elementos mais valiosos foram “arrumados” e deles nunca mais se ouviu falar. A nova administração nomeada (igual às anteriores à recuperação e a todas as administrações que enxameiam este tipo de cargos, com resultados desastrosos) empenhou-se, como primeira medida de relevo, em comprar os votos de todos os quadros da EDP (e são muitos), para a reeleição de Cavaco Silva, atribuindo-lhes mordomias desmesuradas, que chegaram a ser denunciadas, nos anos mais recentes, como exemplos escandalosos. O que aconteceu, depois, com a EDP (cujas acções foram todas vendidas acima dos 6 euros e valem agora pouco mais de 2 euros) todos sabem…
Não posso deixar de fazer notar a atitude, cínica, dos nossos governos e a sua ausência de idoneidade e de patriotismo, que só se dispõem a nomear administrações competentes quando se trata de privatizar. Isto tem um nome: sabotagem, conspiração. É o que eu penso de Cavaco e também dos que o antecederam e lhe sucederam… O exemplo que relato ilustra que existem as pessoas adequadas…
Por outro lado, não se pode confiar num indivíduo para quem são comprados votos, desta forma, por gente cujos interesses obscuros são integralmente garantidos pelo seu desempenho nestes cargos.
Não admira que Cavaco seja apoiado por Valentim Loureiro, pelo Alberto João, por Luís Delgado, pelo “idiota útil” (não será também por Vasco Rato?). Embora este não seja o meu critério decisivo, neste caso acho que os apoios se justificam. E não tenho dúvidas de que, onde “cabe”, e se justifica, o apoio de gente desta, não cabe, nem se justifica porque é contra-natura, o meu apoio…
Depois há uma outra coisa que me irrita, sobremaneira, em Cavaco: é aquele ar fingido, que ele assume, de “Madalena arrependida”, incoerente com o que se conhece dele, que me faz pensar, logo, na Opus Dei.
Soares nunca me inspirou confiança. Por isso, a irritação que me provoca “já vem de longe”, embora se tenha agravado devido ao agravar das circunstâncias...