2005/11/08

Enterrar a Cabeça na Areia!

Publicado também em Editorial
“Enterrar a cabeça na areia” é uma expressão muito em voga, que ouvimos a cada passo e que, cada vez mais, nos invade o quotidiano, sobretudo a propósito da resolução dos nossos magnos problemas, políticos, económicos e sociais.
A sensação que tenho é que cada um fala de “enterrar a cabeça na areia” em relação à não adopção de soluções e medidas mas, quando se trata de concretizar as medidas e soluções, faz exactamente o mesmo; isto é: “enterra a cabeça na areia”, debitando conceitos que já raiam o absurdo. De concreto, nada!
Reparem só neste excerto:
“Este preocupante cenário requer uma urgente e dedicada concentração de esforços visando apropriadas medidas de contenção orçamental (com uma estrita selectividade das despesas públicas), de incentivo económico a favor dos sectores produtores de bens transaccionáveis, de promoção da eficiência económica (nomeadamente através da redução das ineficiências geradas pelo próprio Estado) e de uma moderação da despesa colectiva.”
Retirei-o dum chamado “manifesto dos treze” publicado, há tempos, nos OCS.
Agora digam-me: se alguém fosse encarregado de “passar à prática”, estas propostas, que medidas, concretas, devia tomar? Sim porque os problemas resolvem-se com medidas concretas e concretizáveis.
Vem tudo isto a propósito dumas “medidas”, estúpidas e estéreis, ineficazes, que o governo tomou em relação a “magnos” problemas que nos afectam. São eles:
- Os incêndios florestais;
- Os escândalos na justiça;
- Reforma da Administração Pública…
- etc.
Este País é governado como se não fôssemos pessoas, mas sim robots.
É um País onde nada se pode fazer sem uma lei.
É um país onde as leis não servem para regulamentar a vida em sociedade e permitir resolver os problemas mas, ao contrário, as leis só servem para impedir a resolução dos problemas.
É uma aberração de País, portanto...
Até é comum, a propósito de qualquer problema, se alguém reclama uma resolução, inquirir-se quais as respectivas alterações a fazer nas leis... ´É assim uma espécie de "epidemia" na forma de pensar das pessoas (se é que isto se chama "pensar"; eu tenho dúvidas)
Quando será que esta gente acorda para a realidade e percebe que LEIS não resolvem coisa alguma?
Até há uns, como o Presidente que devem achar que “conversa” serve para alguma coisa; que não têm que resolver os problemas, basta diagnosticá-los e censurar e apelar e… conversa. Devem pensar que são Deus e, por isso, basta falarem.
É uma situação excelente para os prevaricadores que, para cada desmando que cometem, premeditadamente, argumentam com as omissões das leis, ou com o rigoroso cumprimento das regras que existem… e com o mais que as suas mentes perversas de gente vil lhes inspira, como forma de se garantirem impunidade. Pior! Até a recusa em resolver os problemas reais, única via para sermos uma sociedade civilizada, se escuda na lei… E, quando existe lei, não existe regulamentação que, premeditadamente, não é feita, porque isto é um país governado por gente muito vil.
Por tudo isto eu defendo que os deputados deviam ter funções de verificação do rigoroso cumprimento das leis, quer como forma de garantirem a sua eficiência, de não verem a sua acção anulada e boicotada por outros órgãos, quer como forma de perceberem quais as alterações que a prática determina devam ser introduzidas nas leis. Isto, e não só, seria um país digno, governado por gente de bem e honesta, a funcionar. Mas não! Aos problemas concretos cada um vira as costas e arenga uma desculpa. Ninguém tem nada a ver com nada. Eles só têm a ver com os escandalosos vencimentos e mordomias que recebem… para serem uns inúteis.
Vejamos cada um dos problemas acima:
Quanto aos incêndios florestais, foi criada uma lei que atribui, a 500 efectivos da GNR a missão de patrulhar as matas…
Ainda me recordo de, no início deste ano, ter ouvido falar duma certa brigada de acção rápida, heli-transportada, com cerca de 30 elementos, apresentados em sucessivas reportagens televisivas, como a grande inovação no combate aos incêndios. Mas aquando dos incêndios, e depois deles, essa brigada desapareceu, como por encanto.
Esta medida, agora anunciada, é do mesmo estilo.
E é necessário dizê-lo com todas as letras: nem esta medida nem as cedências do governo à chantagem dos responsáveis dos bombeiros irá mudar o que quer que seja. Recordo aquele caso de que já aqui falei, que foi relatado na TSF por um bombeiro, de os bombeiros de Lisboa terem sido enviados para Viana do Castelo, enquanto lavravam grandes incêndios na região de Santarém e de Coimbra. Nada, quanto ao combate aos incêndios (ou quanto a qualquer outro problema) mudará, neste país, enquanto actos de boicote e sabotagem como este, cometidos pelos responsáveis, não tiverem o devido tratamento e punição. A impunidade destes actos criminosos é a origem de todos os nossos problemas.
O mesmo se pode repetir, acerca dos outros “temas” referidos.
Duma vez por todas: leis e conversa nada resolvem; o que resolve são os actos concretos e a punição CONCRETA dos CRIMES concretos, para que se não voltem a repetir.
Neste país, este tipo de crimes, nem sequer determinam o afastamento dos seus autores.
Em relação à investigação criminal, por exemplo, o ministro “justificou” a medida com o facto de terem sido libertados autores de actos atentatórios da integridade pessoal (os acusados de terem assassinado um agente da PJ), porque não foi dado seguimento em tempo útil, por causa doutros processos de menor importância.
Quanta falácia! Alguém, no seu juízo perfeito acredita numa desculpa assim, de mau pagador? Então não se vê logo que estas coisas são premeditadas? Se o Sr. Ministro desse atenção às denúncias e queixas que recebe dos cidadãos, certamente encontraria um milhar de casos a desmentir o argumento. O ministro só pode estar de conluio…
Enquanto as falhas não forem punidas e se aceitarem estas desculpas, nada mudará. Quando se esgotarem estas desculpas outras serão inventadas…
É assim parecido com as violações do segredo de justiça…
Portanto, só podemos concluir que esta azáfama de “fazer leis” é uma desculpa esfarrapada de quem não quer resolver os problemas, mas insiste em fingir e pretende nos fazer acreditar nos seus sinceros esforços, mesmo sabendo que não têm utilidade.
“Eles” pensam que somos todos estúpidos…
O diabo que os carregue!