2005/02/26

As Prisões. Notícias do Inferno (IV)!

Raramente compro jornais ou revistas, fundamentalmente porque o conteúdo dos jornais e revistas não me interessa, não me diz respeito; os jornais e revistas não publicam nada que se pareça com as minhas opiniões (fazendo com que me sinta como uma “ave rara”, sabendo eu que não é assim). Mas, frequentemente vou à papelaria, folheio os jornais e algumas revistas, leio os títulos e parte dos conteúdos, para ver se vale a pena comprar. Por isso, de vez em quando, compro jornais (ou revistas).
Foi o que aconteceu com a última edição de “O Independente”. Uma chamada de capa sobre uma entrevista a ex-juíza despertou-me interesse (superior ao conteúdo da própria entrevista) e depois, folheando o jornal, deparei-me com outros artigos importantes. Um deles, curiosamente, diz respeito a documentos já publicado, na íntegra, neste “blog”.
Por tudo isto decidi comprar o jornal.
O artigo de que vou fazer eco, aqui, diz respeito à morte de um preso (mais uma), na, já nossa conhecida, prisão da Carregueira (Sintra), eufemisticamente chamada “Estabelecimento Prisional” (se aquilo é “estabelecimento” urge perguntar, e apurar, a quem pertence tão funesto “negócio”, quem lucra com ele).
Este artigo, da página 23 de “O Independente” de 2005-02-25, intitulado “Estranha forma de morrer” relata a angústia dos pais dum preso que se “suicidou”, na Carregueira, no mesmo dia em que deu lá entrada. O “suicidado” chamava-se José Manuel da Conceição e tinha 43 anos de idade.
Os factos terão ocorrido, segundo se percebe da notícia, por volta do dia 5 de Fevereiro. Vale a pena ler.
Refiro o artigo, para fazer eco da denúncia, para juntar mais esta denúncia às muitas que tenho feito, sobre este tipo de casos (e outros tanto ou mais escandalosos), e também para sublinhar o seguinte:
(1) O Independente contactou a Direcção dos Serviços Prisionais que não respondeu…
(2) Em caixa lateral, o dirigente da Associação Contra a Exclusão e pelo Desenvolvimento (ACED), António Pedro Dores, diz que: “estes casos são recorrentes, no sistema prisional” (apetece-me acrescentar: principalmente na Carregueira); e acrescenta: “é de supor que há suicídios que são homicídios”. Diz mais, este dirigente desta Associação, diz que: “levou estes relatos à Assembleia da República, mas responderam-lhe que sabem que esta Associação tem razão, mas não podem fazer nada”????
O que mais me indigna, neste tipo de histórias, é o descaramento, a desfaçatez, o despudor com que os deputados (a Assembleia da República) assumem e exibem a sua inutilidade, apesar do seu excessivo número e do custo, elevadíssimo, que representam para o país. Pois eu quero afirmar, aqui, alto e bom som, que não é verdade que os parlamentares nada podem fazer. Verdade sim é que nada querem fazer, que são coniventes e cúmplices destes crimes, como o são de todos os outros que nos conduziram ao descalabro em que nos encontramos.
Os Deputados não podem fazer nada??? Mas os cidadãos não os elegeram para eles garantirem a existência de Democracia? Se não é para existir, realmente, democracia, os deputados e o sistema representativo não têm razão de existir, porque só agravam os nossos problemas, custando dinheiro que não justificam. Ou será que alguém me vai querer convencer que isto tem alguma coisa que ver com democracia?
Já sei! A “democracia” da falta de vergonha e de carácter dos deputados não foi afectada, nem é afectada, com estas infâmias. É o nosso eterno problema: os políticos viverem num mundo à parte, onde tudo lhes é garantido, à nossa custa, pelo que não têm que se preocupar com as infâmias que os seus apaniguados, colocados nos cargos por compadrio e tráfico de influências, cometem sobre nós, sobre a sociedade.
É perante estes casos concretos e este tipo de respostas de gente tão perversa que se percebe a cumplicidade absurda entre todos os partidos com assento parlamentar, a “aceitação” de todos eles às regras absurdas com que são eleitos. É muito mais fácil (e útil para todos eles) poderem desculpar-se com estas falácias, do que sentirem-se na obrigação de justificar, com actos e eficiência, os chorudos vencimentos e regalias que têm.
Quando será que esta gente percebe que só resolvendo os problemas concretos, actuando nas situações escabrosas, corrigindo-as e fazendo com que não voltem a acontecer, é que podemos ter democracia, é que os nossos problemas podem ser resolvidos? Esta é a maior prova da falsidade e da má-fé das promessas dos políticos. Os nossos problemas comuns resultam da soma de todos e de cada um destes problemas específicos.
O facto de todos os partidos se “conformarem” com o anacronismo das actuais regras eleitorais e não quererem saber o que pensam os cidadãos sobre isso, também evidencia que nenhum dos deputados sabe como resolver os problemas do país; que cada um dos partidos com assento parlamentar, se chegasse ao poder faria o mesmo ou pior, aplicando as mesmas regras e usufruindo das respectivas vantagens; em suma: demonstra que nenhum deputado (ou partido) sabe o que seja democracia, sabe viver em democracia, acredita na democracia, ou sabe respeitar a democracia.
Meus senhores! Só com o reforço e a implementação de regras verdadeiramente democráticas, só com integral respeito pela democracia e pela opinião da maioria da população é que podemos ver resolvidos os nossos problemas políticos, económicos e sociais. Façam uma reciclagem às vossas cabeças e às vossas ideias, porque bem precisam (e nós também precisamos dessa vossa reciclagem), até porque o “sucessor” natural desta bandalheira que vivemos, actualmente, com a designação, imprópria, de “democracia” é o aparecimento dum qualquer “salvador” nazi. A responsabilidade desse risco e da eventualidade de tal facto poder vir a acontecer tem de ser assacada, por inteiro, à traição, actual, de todos os políticos no activo, incluindo o Presidente da República.
A desculpa de que nada pode ser feito, por quem detém o poder, para resolver os nossos problemas concretos, para resolver e prevenir cada um destes casos, é a confissão, mais descarada, dessa traição.