Amigo Raul!
A questão fundamental que nos divide é mesmo o que é possível, ou não...
Para si, apenas é possível aquilo que a lei actual consagra... no que se refere aos nossos direitos e formas de participação. Eu discordo, inteiramente, por vários motivos:
(1) Se é verdade que, quanto à participação dos cidadãos, existe um sistema intrincado de regras e impedimentos, o mesmo não sucede com os arbítrios do governo, de toda a classe política e doutros órgãos de soberania, que alteram as leis e regras, quando querem e lhes apetece; e que até violam, de forma nua e crua, quantas vezes criminosa, as regras existentes, garantindo-se impunidade mercê dos labirintos de impedimentos com que nos amarram e amordaçam... Isto só para lhe explicar que "o jogo" está viciado à partida. Portanto impõe-se perguntar até que ponto estamos dispostos a ceder e a abdicar dos nossos direitos essenciais, que assim nos são negados. Veja, apenas a título de exemplo, o que se passa com a contenção orçamental, em nome de cuja se faz tudo o que é infame, no que se refere ao agravamento das condições de vida dos cidadãos comuns, mas mantendo as actuais mordomias e vencimentos escandalosos, acumulações de vencimentos e de reformas de valores exorbitantes. Portanto, no que se refere aos cidadãos é o "vale tudo"; mas os abusos dos gangsters, que nunca deviam ter existido e que deveriam ser os primeiros "gastos" a ser eliminados, esses mantêm-se, apesar do escândalo de muita gente, incluindo pessoas de áreas políticas mais conotadas com o "liberalismo", cujas opiniões e propostas são ignoradas e silenciadas...
Ou seja: toda a gente minimamente esclarecida reconhece (como decorre das mais modernas técnicas de gestão) que estas desigualdades são uma das principais causas dos nossos problemas económicos e um impedimento, intransponível, a que sejam resolvidos. Daqui se conclui que esta situação, anacrónica, é devida a tráfico de influências de gente que obteve, ou manteve, os cargos desde o antigo regime e/ou dos respectivos "servidores", que se apropriaram, particularmente, dos recursos do país. A nossa situação actual é pior do que antes do 25 de Abril, por causa deste arbítrio. Veja o que se passa com todas as lutas dos trabalhadores e verá como os direitos dos cidadãos não estão garantidos. Como quer me "comover" com as regras que nos manietam e amordaçam?
(2) Toda a sua argumentação tem subjacente uma certa subserviência aos ditames do poder, quando o poder está a ser exercido por gente desta, contra a vontade dos cidadãos, não tem legitimidade (obtida pelos votos), para DESTRUIR o país. Nunca teriam, em qualquer caso, mas isto demonstra que a maioria das pessoas não se engana...
(3) A meu ver (e de muitas outras pessoas) não há, nesta classe política, governativa e de responsáveis (detentores dos diferentes cargos e funções) NINGUÉM que se aproveite, no sentido de poder despoletar as mudanças necessárias... com quem se possa contar, na luta que se impõe para mudar isto. Por isso não voto, nem me parece, pelo menos por agora, que se justifique dirigir-lhes "petições". Também por isso não voto em gente assim, tal como tantos outros cidadãos, porque isso não tem qualquer utilidade para a resolução dos problemas e ninguém nos pode obrigar a fazê-lo, nem nos pode banir, por isso.
(4) Porém (e isso é o mais importante) esta situação só se mantém mercê da manipulação exercida sobre as pessoas que, se não as conserva agarradas a esperanças vãs, ao menos lhes cria inibições que as impedem de agir. Pior! A confusão é tanta que, mais difícil do que agir, é saber fazer o que é necessário. No meio da demagogia dos políticos afloram todas as nossas angústias e motivos, incluindo o descrédito em que caíram, e ainda:
- A necessidade de mudar (apostar na inovação);
- A convicção de que “o progresso se faz com rupturas” (que é como quem diz: com alterações profundas);
- A necessidade de mobilizar todos para que o progresso seja possível; para que seja possível resolver os problemas;
- Acresce ainda a formação e também a instrução, etc. etc.
Porém, não se faz a menor gestão de recursos humanos, existindo uma enorme quantidade de gente muito capaz e instruída que não tem lugar na nossa vida activa e que são perseguidos, sem dó nem piedade…
Mas o cinismo da nossa classe política é tal que, quando abordamos os acontecimentos do dia a dia, o que vemos é que, ou nada se faz, ou se faz tudo ao contrário do que tem de ser feito.
Que mais é necessário para concluir que estamos a ser enganados, uma vez e outra e outra e sempre?
Deixe-me que lhe pergunte, abertamente: Você acredita que algum dos candidatos aà Presidência reúne condições para exercer o cargo de modo a resolver os nossos problemas? É muita ingenuidade sua pensar que sim! Mas é possível fazê-lo; é necessário fazê-lo! Mesmo assim, você pode achar que deve optar por votar; eu não! Tenho o direito de exigir honestidade e idoneidade a quem se candidata a tais cargos.
Isto tudo para concluir duas coisas:
- Não é possível resolver os nossos problemas mantendo a actual situação. Há que romper com este estado de coisas, custe o que custar e doa a quem doer; sejam quais forem as alterações que venham a ser necessárias. Mas isso só se pode e só se deve fazer mobilizando os cidadãos, unindo esforços pelos objectivos essenciais, indicando os caminhos para lá chegar e, sobretudo, dizendo a verdade acerca da situação actual e da fraca representatividade eleitoral dos políticos. É claro que estou a pensar na valoração da abstenção…
- Se o meu amigo se lembra do que se passou antes e depois do 25 de Abril já deveria ter percebido que todas as transformações são possíveis e que algumas acontecem, até, quase de repente.
Na situação que vivemos, as transformações não só são possíveis, como são necessárias e urgentes; são mesmo inevitáveis, por mais que isso possa causar transtornos a algumas pessoas. Por isso se impõe estarmos preparados, intervirmos da forma que achamos mais adequada e eficiente, lutarmos por objectivos dignos… mas contando com todos os outros cidadãos e com as condições para a sua participação nessa luta….
Impõe-se que actuemos de forma consequente e que nos deixemos de lamúrias, de conformismos e de “folclores”, ou acções simbólicos cujo resultado e inutilidade já conhecemos.
Não contesto o seu direito de fazer o que entende; mas compreenda que, se tenho opinião diferente, posso e devo dizê-la, porque só confrontando opiniões e aprendendo com as falhas é que podemos melhorar o suficiente para sermos eficazes…
Não comentei para alimentar polémicas estéreis, mas para tentar que se perceba o que tem de ser feito, como e porquê…
Ninguém me convence que esta situação se prolonga por mérito da estratégias de quem nos domina há séculos. Se eles demonstram ser tão estúpidos em tantas coisas (em quase tudo), essa hipótese nem é possível… Portanto a falha é nossa e há que assumi-la, que compreendê-la, para que as coisas possam avançar.
Se “eles” são capazes de manipular as pessoas, porque é que nós não podemos conseguir esclarecê-las a ponto de haver associação e conjugação de esforços, se ainda por cima a situação o exige e é útil?
Ou o meu amigo não acredita na sua capacidade de melhorar? Melindra-se? Pois não devia…
A questão fundamental que nos divide é mesmo o que é possível, ou não...
Para si, apenas é possível aquilo que a lei actual consagra... no que se refere aos nossos direitos e formas de participação. Eu discordo, inteiramente, por vários motivos:
(1) Se é verdade que, quanto à participação dos cidadãos, existe um sistema intrincado de regras e impedimentos, o mesmo não sucede com os arbítrios do governo, de toda a classe política e doutros órgãos de soberania, que alteram as leis e regras, quando querem e lhes apetece; e que até violam, de forma nua e crua, quantas vezes criminosa, as regras existentes, garantindo-se impunidade mercê dos labirintos de impedimentos com que nos amarram e amordaçam... Isto só para lhe explicar que "o jogo" está viciado à partida. Portanto impõe-se perguntar até que ponto estamos dispostos a ceder e a abdicar dos nossos direitos essenciais, que assim nos são negados. Veja, apenas a título de exemplo, o que se passa com a contenção orçamental, em nome de cuja se faz tudo o que é infame, no que se refere ao agravamento das condições de vida dos cidadãos comuns, mas mantendo as actuais mordomias e vencimentos escandalosos, acumulações de vencimentos e de reformas de valores exorbitantes. Portanto, no que se refere aos cidadãos é o "vale tudo"; mas os abusos dos gangsters, que nunca deviam ter existido e que deveriam ser os primeiros "gastos" a ser eliminados, esses mantêm-se, apesar do escândalo de muita gente, incluindo pessoas de áreas políticas mais conotadas com o "liberalismo", cujas opiniões e propostas são ignoradas e silenciadas...
Ou seja: toda a gente minimamente esclarecida reconhece (como decorre das mais modernas técnicas de gestão) que estas desigualdades são uma das principais causas dos nossos problemas económicos e um impedimento, intransponível, a que sejam resolvidos. Daqui se conclui que esta situação, anacrónica, é devida a tráfico de influências de gente que obteve, ou manteve, os cargos desde o antigo regime e/ou dos respectivos "servidores", que se apropriaram, particularmente, dos recursos do país. A nossa situação actual é pior do que antes do 25 de Abril, por causa deste arbítrio. Veja o que se passa com todas as lutas dos trabalhadores e verá como os direitos dos cidadãos não estão garantidos. Como quer me "comover" com as regras que nos manietam e amordaçam?
(2) Toda a sua argumentação tem subjacente uma certa subserviência aos ditames do poder, quando o poder está a ser exercido por gente desta, contra a vontade dos cidadãos, não tem legitimidade (obtida pelos votos), para DESTRUIR o país. Nunca teriam, em qualquer caso, mas isto demonstra que a maioria das pessoas não se engana...
(3) A meu ver (e de muitas outras pessoas) não há, nesta classe política, governativa e de responsáveis (detentores dos diferentes cargos e funções) NINGUÉM que se aproveite, no sentido de poder despoletar as mudanças necessárias... com quem se possa contar, na luta que se impõe para mudar isto. Por isso não voto, nem me parece, pelo menos por agora, que se justifique dirigir-lhes "petições". Também por isso não voto em gente assim, tal como tantos outros cidadãos, porque isso não tem qualquer utilidade para a resolução dos problemas e ninguém nos pode obrigar a fazê-lo, nem nos pode banir, por isso.
(4) Porém (e isso é o mais importante) esta situação só se mantém mercê da manipulação exercida sobre as pessoas que, se não as conserva agarradas a esperanças vãs, ao menos lhes cria inibições que as impedem de agir. Pior! A confusão é tanta que, mais difícil do que agir, é saber fazer o que é necessário. No meio da demagogia dos políticos afloram todas as nossas angústias e motivos, incluindo o descrédito em que caíram, e ainda:
- A necessidade de mudar (apostar na inovação);
- A convicção de que “o progresso se faz com rupturas” (que é como quem diz: com alterações profundas);
- A necessidade de mobilizar todos para que o progresso seja possível; para que seja possível resolver os problemas;
- Acresce ainda a formação e também a instrução, etc. etc.
Porém, não se faz a menor gestão de recursos humanos, existindo uma enorme quantidade de gente muito capaz e instruída que não tem lugar na nossa vida activa e que são perseguidos, sem dó nem piedade…
Mas o cinismo da nossa classe política é tal que, quando abordamos os acontecimentos do dia a dia, o que vemos é que, ou nada se faz, ou se faz tudo ao contrário do que tem de ser feito.
Que mais é necessário para concluir que estamos a ser enganados, uma vez e outra e outra e sempre?
Deixe-me que lhe pergunte, abertamente: Você acredita que algum dos candidatos aà Presidência reúne condições para exercer o cargo de modo a resolver os nossos problemas? É muita ingenuidade sua pensar que sim! Mas é possível fazê-lo; é necessário fazê-lo! Mesmo assim, você pode achar que deve optar por votar; eu não! Tenho o direito de exigir honestidade e idoneidade a quem se candidata a tais cargos.
Isto tudo para concluir duas coisas:
- Não é possível resolver os nossos problemas mantendo a actual situação. Há que romper com este estado de coisas, custe o que custar e doa a quem doer; sejam quais forem as alterações que venham a ser necessárias. Mas isso só se pode e só se deve fazer mobilizando os cidadãos, unindo esforços pelos objectivos essenciais, indicando os caminhos para lá chegar e, sobretudo, dizendo a verdade acerca da situação actual e da fraca representatividade eleitoral dos políticos. É claro que estou a pensar na valoração da abstenção…
- Se o meu amigo se lembra do que se passou antes e depois do 25 de Abril já deveria ter percebido que todas as transformações são possíveis e que algumas acontecem, até, quase de repente.
Na situação que vivemos, as transformações não só são possíveis, como são necessárias e urgentes; são mesmo inevitáveis, por mais que isso possa causar transtornos a algumas pessoas. Por isso se impõe estarmos preparados, intervirmos da forma que achamos mais adequada e eficiente, lutarmos por objectivos dignos… mas contando com todos os outros cidadãos e com as condições para a sua participação nessa luta….
Impõe-se que actuemos de forma consequente e que nos deixemos de lamúrias, de conformismos e de “folclores”, ou acções simbólicos cujo resultado e inutilidade já conhecemos.
Não contesto o seu direito de fazer o que entende; mas compreenda que, se tenho opinião diferente, posso e devo dizê-la, porque só confrontando opiniões e aprendendo com as falhas é que podemos melhorar o suficiente para sermos eficazes…
Não comentei para alimentar polémicas estéreis, mas para tentar que se perceba o que tem de ser feito, como e porquê…
Ninguém me convence que esta situação se prolonga por mérito da estratégias de quem nos domina há séculos. Se eles demonstram ser tão estúpidos em tantas coisas (em quase tudo), essa hipótese nem é possível… Portanto a falha é nossa e há que assumi-la, que compreendê-la, para que as coisas possam avançar.
Se “eles” são capazes de manipular as pessoas, porque é que nós não podemos conseguir esclarecê-las a ponto de haver associação e conjugação de esforços, se ainda por cima a situação o exige e é útil?
Ou o meu amigo não acredita na sua capacidade de melhorar? Melindra-se? Pois não devia…