2005/09/26

Os limites da saturação!

Publicado também em EDITORIAL
Nesta minha curta permanência na blogoesfera (fez 11 meses, no dia 17) tenho tentado fazer a diferença “puxando” a discussão para os temas que importam, repondo “as coisas no seu devido lugar” em relação às muitas mistificações e demagogias (contra-sensos, até) que por aí circulam, na maioria das vezes, “orquestrados” pelos OCS (órgãos de comunicação social), ao sabor das campanhas do momento, destinadas a promover um dado objectivo (sempre perverso), ou a fazer esquecer um assunto melindroso.
É dura esta luta que me impus! Não encontra o eco necessário e justificado. Nos partidos já eu sabia que não tem eco. Mesmo assim cheguei a escrever a alguns deles, acerca das questões e propostas que me parecem mais importantes e eficientes, no que concerne à resolução dos nossos problemas colectivos. Um dos partidos respondeu-me, repetindo as suas “opiniões” que eu já conhecia e abjuro. As outras respostas, ou não existiram, ou foram irrelevantes, por deixarem tudo na mesma.
O facto é que, entre essas forças políticas, este blog passou a ter visibilidade, bem como o conteúdo dos respectivos artigos, cujo conhecimento chegou a ser “denunciado”, bem em surdina, como convém quando se pretende silenciar…
Mas o que mais me magoa (não acreditem, porque não faz o meu estilo!) é não encontrar o eco suficiente na própria blogoesfera.
Na verdade, quer os partidos quer a maioria dos autores dos blogs, discutem e repetem, até á exaustão, as questões que fazem as manchetes das notícias, quantas vezes absorvendo e reproduzindo o mesmo tipo de demagogia dos próprios OCS.
Estou no meu limite. É uma luta inglória esta…
Já chega de lamentações, porque não é esse o objectivo deste post.
Em plena início de campanha para as autárquicas, discutem-se corrupção (principalmente os casos menores) e presidenciais.
Quanto ao primeiro caso gostaria de dizer, apenas, duas coisas, mesmo correndo o risco de me repetir (o que não tem a menor importâncias; afinal ninguém me ouve…):
(1) A grande corrupção e a grande criminalidade, aquela que condiciona, realmente, os destinos do país, e aquela que destrói o país, respectivamente, estão fora desta discussão e a beneficiar de todo este alarido à volta de casos menores;
(2) A total descredibilização da justiça, conquistada com os muitos abusos e desmandos (crimes) cometidos pelos respectivos agentes, têm uma enorme culpa nesta situação, porque os cidadãos sabem o quanto a justiça é injusta e tendenciosa e parcial; para não falar dos casos em que se cometem crimes abomináveis, que têm, sempre, impunidade garantida.
Quanto ao primeiro caso, basta ter em conta que o exercício correcto dos cargos de responsabilidade, neste país, reduziria em mais de 60% os problemas do dia a dia dos cidadãos, permitiria aumentar, consideravelmente, a produtividade, e a economia de meios. O pior despesismo provém da incompetência dos titulares dos cargos e do consequente compadrio. A gestão rigorosa e adequada dos gastos permite reduzir, muito, o défice. Portanto esta é a corrupção que realmente compromete os destinos do país. A outra, a que se discute, é acessória e apenas existe por obra e graça desta.
Quanto ao segundo caso, basta ter em conta que uma correcta actuação da justiça reduziria, em 60%, o número de processos existentes nos tribunais, isto tendo em conta o civismo e idoneidade da nossa população, que são inegáveis, (às vezes até são excessivos). Mas há factos onde a coisa “fia mais fino”…
Para além das experiências, quase sempre surreais, de cada cidadãos, com o pérfido funcionamento da justiça, não é possível alguém de bom senso exigir respeito pelas decisões (e acusações) judiciais, sem ter em conta o Processo Casa Pia (onde os principais culpados nunca foram, nem serão acusados) e o conteúdo do relatório do GOVD, publicado no “muito Mentiroso”.
Há que ter em conta, também, o caso do desaparecimento da pequena Joana, no Algarve, acerca do qual já escrevi, várias vezes.
Em ambos estes casos os atropelos continuam, com os OCS a colaborarem com as perfídias…
Entretanto, vão-se sucedendo, sem grande alarido, pela calada, os casos aberrantes e absurdos, que sempre existiram na nossa justiça. Desde os critérios “de rigor formal”, aplicados de forma discricionária, usados para garantir impunidade a alguns criminosos (sempre assim foi), com recurso a “omissões” do próprio sistema, até àquele caso, absurdo do traficante Lobo, que a Polícia Judiciária foi buscar a Espanha, para o colocar em liberdade, numa altura em que o mesmo estava prestes a ser preso pela Polícia Espanhola. Acho até que o mesmo traficante foi igualmente “recuperado” do Brasil, também para ser posto em liberdade... Mas sem que houvesse notícias do assunto.
Isto para além daquele caso do piloto retido na América Latina…
Com questões tão importantes como estas (e a investigação do relatório do GOVD) pendentes, não é da máxima conveniência, para a alta criminalidade, que se discuta “Fátima Felgueiras”, que se crucifique “Fátima Felgueiras”. Sim porque o Valentim, por exemplo, mantém todos os seus tachos, gozando, portanto, de protecção e cumplicidade do próprio governo… Até para estes casos (para a protecção do Valentim e quejandos) é muito bom meter tudo no mesmo saco.
A que se deve a repetição da saga dos incêndios florestais, todos os anos, se não à impunidade e cumplicidade do governo com a alta criminalidade?
Entretanto, o que faz o governo? Continua a sua sanha criminosa contra os cidadãos e a economia do país. O que faz a oposição? Fala, fala, fala… e chamam a governo para (dar explicações), no parlamento. A nossa oposição faz, magistralmente, o seu papel de muleta do governo e da desastrosa governação.
É claro que, no meio de tudo isto, vem mesmo a calhar discutir “presidenciais” e intoxicar a opinião pública com a “utilidade” do voto e das candidaturas, para derrotar Cavaco Silva (que, por acaso, ainda nem sequer é candidato).
Querem melhor evidência de que tudo isto é uma campanha falaciosa para desviar a atenção do essencial do que esse absurdo de a “utilidade” das candidaturas ser a derrota de alguém que ainda nem sequer é candidato?
E que excelentes programas de mandato! Têm todas as condições para mobilizar a população. Muito positivos e úteis e construtivos… resumem-se a: derrotar Cavaco Silva.
Daria vontade de rir, pelo ridículo, pelo mesquinho e tacanho, se não fosse o caso de estarem todos a gozar com a nossa cara e a brincar com coisas sérias.
Alguém, no seu juízo perfeito, acredita que fará alguma diferença, para a resolução dos problemas do país, que seja eleito Cavaco, ou Soares, ou Alegre?
Os outros, é claro, não contam, pelos motivos que todos sabem.
O Presidente da República deve ser, por definição e por princípio, eleito entre candidaturas apartidárias, até para poder ser “o Presidente de todos os portugueses”. Eu até acho que há outros cargos que deviam seguir o mesmo princípio.
Vocês vêem alguma candidatura apartidária, no actual espectro de candidatos? Então isto não é a prova provada de que todos eles prevaricam, descaradamente, no que é essencial, ignorando as leis a as regras que nos regem? Porque todos eles são sectários, mesquinhos, fazem parte do mesmo tipo de gente e por isso não têm o apoio e os votos dos cidadãos. Mas teimam em viver noutro planeta, com outras regras e lógica, por mais que isso contribua para destruir o país.
Como é que se pode exigir cumprimento das leis, de leis quantas vezes absurdas, aos cidadãos, com lideres como estes?
Agora venham-me dizer que são os eleitores quem tem culpa desta situação absurda…