2005/09/27

Ter, ou não, objectivos!

Augusto, do Klepsidra, ficou muito chocado com o meu post "Uma estranha forma de pensar" e eu aproveito para reafirmar tudo o que disse.
É pena, porque o Augusto costuma escrever bons artigos.
Neste caso, o único problema foi ter incluído a "teoria" de: "a culpa é dos outros" "da populaça, ignara e mal intencionada", (inimigos sem rosto), que é a forma como os culpados se costumam auto-desculpar e auto-legitimar, mesmo quando actuam fora de toda a legitimidade. Estes argumentos (de desresponsabilização de quem é responsável), são o nosso pior inimigo. A eles se deve o fatalismo, nacional, da ausência de soluções e do "destino" dum povo "insignificante e estúpido". Quem é estúpido é quem assim argumenta. Eles não são estúpidos! Pensam é que nós somos mentecaptos.
Em vista da reacção do Augusto, acho que tenho todo o direito de publicar as minhas respostas às suas "insinuações". Era só o que me faltava, a pretexto de reconhecer aos outros o direito de se expressarem, me inibir de dizer o que penso, ou desistir de defender o que acho ser essencial. A Democracia não é isso! Reconhecer o direito de expressão não implica abdicar dos nossos próprios direitos.

Oh amigo Augusto!
Não leve a coisa tão "ao pé da letra"! Porque eu, quando escrevo, mesmo dirigindo-me a si, não estou a pensar em si, nem o meu amigo é o alvo principal das minhas palavras, apesar dos vocativos...
Também "me limito" a expressar as minhas ideias, embora tentando sempre aproveitar para "puxar a brasa à minha sardinha". Se permanecemos caladas, então é que o lodo se acumula. Não se iniba de escrever o que pensa, porque eu também não e isso tem sempre alguma utilidade. Não se esqueça de que "da discussão nasce a luz" e, por acaso, o "ofendeu-me" era apenas uma figura de retórica...
Quando "analisar" as minhas palavras, não se esqueça de que o meu amigo é apenas uma voz, e há por aí quem diga, e repita, coisas muito piores. Quando eu respondo, mesmo falando para si, estou a pensar em todos. Se não, escrevia-lhe um mail, não alimentava a discussão em público. Aliás as discussões públicas servem para isso mesmo: para divulgar e confrontar ideias e opiniões, que é o meu principal objectivo.
Isto tudo para dizer que, no essencial, feitas as contas e as correcções que expressei, até gostei do seu post!
Estará muito mal o país, a democracia e a sociedade, se e quando deixar de haver lugar para todas as ideias. As ideias complementam-se, aperfeiçoam-se... para depois se poderem, ou não, passar à prática. As ideias estimulam ideias...
Mas mantenho que o caminho passa por ser valorada a abstenção. Mais! Em democracia, ninguém tem nada a ver com os motivos que levam as pessoas a recusarem “sujar as mãos" para eleger os sabujos que as máfias promovem e a quem consentem a candidatura. Eu não voto porque os candidatos que há não me merecem o voto e porque os que deviam se candidatar são destruídos, no caminho, por máfias e pela maçonaria.
A instabilidade da repetição das eleições, é muito menos instabilidade do que a que vivemos agora. Além de que permitiria resolver os nossos problemas, o que não é o caso da situação actual.
Até porque deixava de haver espaço para tanta patifaria, cometida pelos governantes. Isto para além da economia de meios, com a redução do número de deputados, com a redução da chulice.
A estabilidade que temos é a da prepotência dos políticos, sem quererem saber da opinião dos cidadãos, impedindo que os nossos problemas se resolvam. Para haver, de facto, estabilidade, é necessário que os nossos problemas colectivos se resolvam.
E mais! Quem é responsável pela desastrosa situação do país é quem vota nesta gente, que são todos iguais e não quem não vota. Mas eu limito-me a exigir direitos iguais para todos: os que votam e os que não votam. Ao passo que o meu amigo acha que alguns não têm direitos, porque não se conformam com as actuais regras, absurdas, e porque decide lhes assacar comportamentos e motivações, de sua autoria. Mas têm culpas da situação, porque não elegeram uns patifes para destronar outros... porque não escolhem entre os patifes...
E os candidatos? Não têm culpa de não serem líderes e de não saberem nem quererem (porque não precisam, mercê de opiniões como a sua) mobilizar os cidadãos? Se houvesse uns que deviam ser eeleitos e votados, para resolver os problemas, não acha que as pessoas perceberiam isso? Que, aliás, é a única forma de "autenticar" o facto!
São tão inocentes, e ingénuos, e bem intencionados esses seus candidatos... Onde foi que os desencantou? Não devia guardá-los só para si! É uma maldade! Assim já percebo que os males do país sejam culpa da população...
De facto há umas coisitas que estão mal entendidas, entre nós...
Só que, não há democracia sem consentimento e envolvimento e apoio da maioria da população. Voz do povo é voz de Deus, disso não tenho dúvidas! Mesmo duvidando de cada deus. Se o povo não quer estes patifes, alguma razão tem e as razões estão à vista. Só não vê quem não quer.

Amigo Augusto!
Acho que se dá demasiada importância insistindo em considerar a questão dum ponto de vista pessoal.
Meu caro!
Eu não perderia tempo com o seu post, se ele não reflectisse uma maneira de pensar mais ou menos generalizada, mas intelectualmente limitada, porque imbuída, sempre das "ideias" impostas pelos OCS e pela "cultura" dominante, que não contribuem para resolver o que quer que seja, pelo contrário: têm como finalidade impedir a resolução, digna, dos nossos problemas, que só é possível mobilizando as pessoas.
Até me abstenho de fazer outras caracterizações porque, certamente, as conhece pelo que tenho dito noutras ocasiões. Refiro-me, especificamente, ao facto de insistir na "legitimidade", "normalidade" e "utilidade" da não valoração da abstenção (que, como sabe, é a minha bandeira), sancionado, assim, a exclusão de uma elevada percentagem de cidadãos, ao mesmo tempo que acha que são esses mesmos cidadãos (quando se fala de culpas dos eleitores, ou dos cidadãos, temos sempre que entendê-lo como relacionado com a maioria) que são culpados da desastrosa situação que se vive, apenas porque não partilham os seus conceitos, nem adoptam as suas opções eleitorais.
Como é que explica a contradição? Ah! Já sei! Elabora uns quantos "processos de intenções", motivações e explicações, insultuosas, para os comportamentos e opções dos outros, porque a sua opção é que é boa e resolve todos os problemas. Ou será, como acontece na maioria dos casos em que os políticos usam os "seus" argumentos, desculpar as responsabilidades próprias, assacando as culpas "aos outros"?
Neste particular, as suas ideias não têm nada de novo, nem de diferente, nem de autónomo. Por isso perco tempo com o assunto.
As opções democráticas não o são por serem nossas ou dos outros; são-no, se puderem ser reconhecidas como tal pela maioria da população.
Luta que me impus? Sem dúvida! Tudo o que em digo tem segundas e terceiras e quartas intenções, tem um objectivo (de contribuir para resolver, decididamente e de forma democrática, os nossos problemas), de contrário não me veria aqui a perder tempo.
Pois! É uma luta dura e prolongada, que exige coragem e determinação, muito esforço, para além de muita clarividência. Os nossos teóricos preferem coisas simples, inúteis, inócuas, de preferência, e, para desculparem a sua falta de capacidade, (ou a sua premeditação) rotulam tudo o resto de UTOPIA. É mais cómodo! O problema é que, dessa maneira de pensar e agir, resulta a perpetuidade do sistema, vil e iníquo, que temos e também do domínio dos actuais bandidos.
Desculpe qualquer coisinha, mas acho que tenho todo o direito de não me conformar com isso e de actuar em coerência.
Está visto que não temos os mesmos objectivos, nem partilhamos os mesmos princípios. Isso fica claro, não precisa se esforçar mais... Mas não me comove! Vou prosseguir "na luta que me impus"!
Mesmo sabendo que enfrentarei outros "dissabores" semelhantes.