2005/09/19

Burlas, uma “Indústria” em crescimento!

As burlas e vigarices são das poucas indústrias rentáveis, e em crescimento, que florescem no país, com a conivência (envolvimento?) da justiça e do governo.
Este país é um paraíso para todos os tipos de criminalidades. O pior é que a criminalidade, institucionalizada e generalizada, é um bloqueio para qualquer forma de desenvolvimento e progresso; são características próprias de países atrasados e subdesenvolvidos, tal como a corrupção
Agora mesmo, uma senhora que eu conheço me contou uma história “de bradar aos céus” mais uma…
Aqui fica a história:
A senhora em questão mora num bairro social, na periferia de Lisboa. É uma pessoa sem grande instrução e de boa-fé, como se pode ver pelo relato que se segue.
Há já alguns anos, bateram-lhe à porta para pedir a sua opinião acerca duns produtos. Afinal era para lhe venderem uns cadeirões. Era um casal que dizia representar uma firma com loja no Porto, que vendia a prestações, sem mais problemas. Como a compra se justificava, a senhora fez a encomenda, assinando os papéis que lhe foram apresentados.
Não teve mais notícias dos “vendedores”, nem dos cadeirões, até que lhe apareceu uma primeira letra para pagar ao BBVA. Dirigiu-se a um balcão e disseram-lhe que era uma compra que tinha feito. Ali mesmo desfez o engano, dizendo que nada lhe fora entregue e que, portanto, nada tinha a pagar.
Disseram-lhe que telefonasse para o Porto, para a Dra. Edite Correia, advogada. Telefonou e a Sra. Doutora respondeu que não se preocupasse, porque se não recebera a mercadoria nada teria a pagar, que a firma é que teria que devolver o dinheiro emprestado pelo Banco.
Também se deslocou à DECO, que escreveu uma carta à dita firma, tendo recebido como resposta que a loja tinha fechado. Constatou que havia outros casos semelhantes.
A senhora ficou descansada com a resposta da advogada do Banco e não pensou mais no assunto, nem lhe foram apresentados quaisquer outros pedidos de pagamento.
Agora, acaba de receber uma carta, datada de 2005-08-16, duma firma que se intitula Intrum Justitia Portugal, Lda., informando-a de que esta firma obteve a cedência, por parte do BBVA, dos “créditos sobre V.Exa”, no valor de 2 957,42 €, que deverão ser pagos no prazo de oito dias.
Ao que pude perceber, a firma faz parte do próprio banco.
Várias questões se me colocam:
- A senhora em questão não tem qualquer hipótese de ter acesso a crédito bancário, seja em que circunstâncias for: nem crédito directo nem crédito para compras, porque não reúne as condições mínimas, que todos sabemos quais são. Então porque é que obteve este crédito? Que raio de Burla é esta? Quem está implicado nela?
- A julgar pelo contexto, nem a firma referida reunia as ditas condições, (para acesso ao crédito), a menos que fornecesse a correspondente garantia.
- Todos sabemos que, em condições semelhantes, o Banco cobra imediatamente este tipo de créditos a quem recebeu o dinheiro (e prestou a garantia) que não foi a senhora em questão, até porque não tinha como o fazer.
Portanto, podemos concluir que se trata duma burla premeditada, que implica pessoas com responsabilidades no próprio Banco
Resolvi telefonar para a firma identificada e, posso garantir-vos: a conversa é a mesma, típica dos vigaristas, dos burlões, que argumentam de modo a ilibar quem burla, a exigir, a cada cidadão, que saiba tanto como os advogados e a achar que as pessoas de boa-fé é que são culpadas de o serem (de boa-fé) e de procederem como tal... Argumentos de vigaristas. É a lei da selva!
Assim, tal e qual como funciona a nossa justiça, que sanciona estas burlas e até algumas bem piores, como vos contei neste post.
É por isso, para garantir o êxito desta indústria das burlas e vigarices, que o governo se tem empenhado em facilitar as execuções judiciais, sem garantir aos cidadãos e necessária protecção contra este tipo de crimes e de criminosos.

A sociedade não pode ser dimensionada para a má-fé, porque não funciona. As pessoas têm o direito de agir de boa-fé, sem serem molestadas de formas tão infames. Estes criminosos têm de passar a ser implacavelmente punidos, para que a sociedade possa funcionar e as pessoas possam ser pessoas; não se vejam na necessidade de adoptar a má-fé como regra. A má-fé não pode ser regra, nem sequer pode ser tolerada, muito menos incentivada com a protecção e cumplicidades garantidas a estes criminosos. É aqui, na correcta resolução deste tipo de situações, que as instituições se prestigiam, não é com discursos, eventos ou propagandas.

A desumanização da sociedade é provocada por episódios destes e pelo facto de os governos e autoridades judiciais estarem do lado dos burlões. Porque não se pode ter confiança em ninguém, sem se correr o risco de ser punido por isso.
Os profissionais das áreas comerciais não se podem queixar de serem mal tratados pelos cidadãos, enquanto coisas destas continuarem a ser possíveis.
Nada melhor para recuperar a confiança dos cidadãos e a credibilidade do governo e da justiça do que continuarmos a ser confrontados com episódios desta natureza…
Prometo que voltarei a dar notícias do caso.