Tivemos a tristeza de ver recentemente o Tsunami, causando uma grande destruição e vitimando um número inconcebível de pessoas em vários países do Índico. Sabemos que são acontecimentos naturais, mas preocupa-nos a possibilidade, enunciada por vários estudiosos, de a intensidade do tsunami estar relacionada com o desequilíbrio ambiental que é, incontestavelmente, potencializador de forças naturais deste porte. Cabe a nós, definitivamente, como espécie constituída por seres racionais, uma reflexão séria sobre o assunto e buscarmos maneiras mais correctas de lidarmos com o espaço em que vivemos, para que não sejamos responsáveis por catástrofes desta natureza.
Nós blogueiros, propomos desde já, nos unirmos num alerta para a humanidade, e implantarmos cada um de nós, a nosso modo e em nosso ambiente, medidas práticas de mudanças!
Deixando, por agora, a discussão da questão de saber qual a percentagem de vítimas devidas ao tsunami, e as que são das responsabilidade dos respectivos governos, porque foram provocadas por ignorância, incompetência, ausência de organização social, numa palavra: ausência de democracia, que tiveram influência antes, no reconhecimento dos sinais e aviso atempado às populações (e resposta esclarecida destas); e depois, na organização da auto ajuda e do auxílio exterior recebido, achamos que é tempo de se falar abertamente.
É tempo de se abordarem as questões em profundidade e não de forma restritiva. É tempo enfim, de se falar a sério sobre a questão ambiental e ecológica. Sobre a humanidade! E com razão. É que cada vez mais se toma consciência de que o combate pela preservação, não tem fronteiras, não é regionalizável e de que a resposta ou é global ou não será resposta.
As chuvas ácidas, o efeito de estufa, a poluição dos rios e dos mares, a destruição das florestas, não têm azimute nem pátria, nem região. Ou se combatem a nível global ou ninguém se exime dos seus efeitos.
As pessoas ainda respiram. Mas por quanto tempo?
Os desertos ainda deixam que reverdeçam alguns espaços estuantes de vida. Mas vão avançando sempre.
Ainda há manchas florestais não decepadas nem ardidas. Mas é cada vez mais grave o défice florestal.
Ainda há saldos de crude por extrair, de urânio e cobre por desenterrar, de carvão e ferro para alimentar as grandes metalurgias do mundo. Mas à custa de sucessivas reduções de reservas naturais não renováveis.
Na sua singeleza, o caso é este:
Até agora temos assistido a um modelo de desenvolvimento que resolve as suas crises crescendo cada vez mais. Só que quanto mais se consome, mais apelo se faz à delapidação de recursos naturais finitos e não renováveis, o que vale por dizer que não é essa uma solução durável, mas ela mesma finita em si e no tempo que dura. Por outras palavras: é ela mesmo uma solução a prazo.
Significa isto que, ou arrepiamos caminho, ou a vida sobre a terra está condenada a durar apenas o que durar o consumo dos recursos naturais de que depende.
Não nos iludamos. A ciência não contém todas as respostas. Antes é portadora das mais dramáticas apreensões.
O que há de novo e preocupante nos dias de hoje, é um modelo de desenvolvimento meramente crescimentista – pior do que isso, cegamente crescimentista – que gasta o capital finito de preciosos recursos naturais não renováveis, que de relativamente escassos tendem a sê-lo absolutamente. E se podemos continuar a viver sem urânio, sem ferro, sem carvão e sem petróleo, não subsistiremos sem ar e sem água, para não ir além dos exemplos mais frisantes.
Daí a necessidade absoluta de uma resposta global. Tão só esta necessidade de globalização das respostas, dá-nos a real dimensão do problema e a medida das dificuldades das soluções. Lêem-se o Tratado de Roma, O Acto Único Europeu e mais recentemente as conclusões da Conferência de Quioto, do Rio de Janeiro e Joanesburgo, onde ficou bem patente a relutância dos países mais industrializados, particularmente dos Estados Unidos, em aceitar a redução do nível de emissões. Regista-se a falta de empenhamento ecológico e ambiental das comunidades internacionais e dos respectivos governos, que persistem nas teses neoliberais onde uma economia cega desumanizada e sem rosto acabará por nos conduzir para um beco sem saída.
Por outro lado todos temos sido incapazes de uma visão mais ampla e intemporal. Se houver ar puro até ao fim dos nossos dias, quem vier depois que se cuide!... e continuamos alegremente a esbanjar a água do cantil.
Será que o empresário que projectou a fábrica está psicológica ou culturalmente preparado para aceitar, sem sofismas nem reservas, as conclusões de uma avaliação séria do respectivo impacto ambiental?
Mesmo sem sacrificar os padrões de crescimento perverso a que temos ligados os nossos hábitos, há medidas a tomar que não se tomam, como por exemplo:
- Levar até ao limite do seu relativo potencial o uso das energias renováveis, como a energia solar e a energia eólica.
- Levar até ao limite a preferência da energia hidráulica sobre a energia térmica.
- Regressar à preferência dos adubos orgânicos sobre os adubos químicos.
- Corrigir e reverter o excessivo uso dos pesticidas.
- Travar, enquanto é tempo, a fúria do descartável, da embalagem de plástico, dos artigos de intencional duração limitada.
- Regressar ao domínio do transporte ferroviário sobre o rodoviário, privilegiar os meios de transportes não poluentes.
- Repensar, redimensionar, gerir e corrigir a dimensão irracional do transporte urbano em geral e do automóvel em particular.
- Repensar, aliás, a loucura em que se está tornando o próprio fenómeno do urbanismo.
- Reformular a concepção das cidades e das orlas costeiras.
- Levar a reciclagem a sério, em todos os países, fixando quotas superiores a 90%.
- Suprimir os desperdícios, sobretudo os de alimentos, enquanto houver pessoas com fome, no planeta.
Dito de outro modo: a moda política tende a ser, um constante apelo às terapêuticas de crescimento pelo crescimento. È tarde demais para desconhecermos que, quando a produção cresce, as reservas naturais diminuem.
Se é de um homem mais sensato e responsável que se precisa, um homem que olhe amorosamente para este belo planeta que recebeu em excelentes condições de conservação e está metodicamente destruindo; de um homem que jure a si mesmo em cadeia com os seus semelhantes, fazer o que for preciso para que o ar permaneça respirável, que a água seja instrumento de vida e dela portadora, e os equilíbrios naturais retomem o ciclo da auto sustentação, empenhemo-nos desde já nessa tarefa, com persistência e determinação.
Se é a continuação da vida sobre a terra que está em causa, e em segunda linha a qualidade de vida, para quê perder mais tempo?...
Nós, todos os que os subscreverem, fazemos o apelo! Mas é necessário deixar bem claro que são os governos e as organizações internacionais que têm obrigação de actuar, que é para isso que existem os respectivos cargos. Temos que dizê-lo com todas as letras: quanto maior é o poder, real ou formal, duma dada organização ou governo, tanto maior é a sua responsabilidade, nesta como em outras matérias. Todas as medidas aqui enunciadas têm de ser estruturadas, promovidas e implementadas de forma organizada e metódica. Só os governos têm legitimidade e capacidade (os meios) para o fazer. Não adianta descartar a “culpa” para o cidadão anónimo, que nada pode fazer, e que nunca é ouvido nestas questões.
Aos cidadãos de todo o mundo, o apelo que fazemos é de que avaliem e prestigiem os responsáveis, locais ou mundiais, em função do seu empenhamento, honestidade e eficiência, na resolução destes problemas. Basta de guerras absurdas e infames, de conflitos armados prepotentes, que só contribuem para provocar mais poluição e destruir ainda mais o planeta. O que é urgente é cuidar da vida. Se isso for feito, não restará tempo, nem meios materiais para armas e para guerras. O mundo tem, actualmente, meios pacíficos eficientes para resolver as questões e diferendos internacionais. A ecologia começa aí: na democracia, no esclarecimento, na evolução das ideias de quem detém o poder.
Por isso apelamos a todos quantos se queiram associar a este movimento pela preservação da Natureza, pela Paz e pelo desenvolvimento harmonioso da Humanidade, para subscreverem este Apelo.
Ao fazê-lo estamos a afirmar a nossa cidadania, enquanto pessoas livres, que olham com preocupação o futuro da Humanidade, o futuro dos nossos filhos!