2005/01/31

Os Números do Desemprego em Portugal.

Aqui está um artigo que eu tenho para escrever, já há algum tempo.
Mas, como em tudo na vida, não gosto de falar sem fundamento. Não imaginam a tortura que é tentar encontrar, neste País, dados fiáveis acerca duma coisa destas.
Vamos aos números:
Segundo os dados oficiais, existem cerca de 470 mil desempregados registados, que representam uma taxa de desemprego de 6,8%. A ser assim, fazendo as contas, o número de trabalhadores por conta doutrem, seria de 6 910 milhares (6 910 000). Ora, segundo as próprias estatísticas oficiais, o número total de “pessoas activas” é de, apenas, 5 127 milhares; o que faz com que a taxa de desemprego suba para 9,1%.
Porém, este valor da população activa, engloba muita gente que não tem direito a subsídio de desemprego, em caso de desocupação e, por isso, não recorre, sistematicamente, aos Centros de Emprego, porque sabe que o esforço é inútil.
Em consequência, a taxa de desemprego, para ser correcta, deve ser calculada com base no número de trabalhadores por conta de outrem que serão cerca de 3 100 milhares, segundo os dados que foi possível recolher, sendo provável que seja inferior.
Logo, a taxa, mais aproximada, de desemprego, usando os próprios dados oficiais, é de cerca de 15% (QUINZE POR CENTO).
Este procedimento é tanto mais justificado quanto, como sabemos, também os resultados eleitorais são calculados tendo por base, apenas os que votam. É uma questão de simples honestidade, coerência, idoneidade.
Mas a aldrabice não fica por aqui.
Todos sabemos que, quando os números oficiais dizem que o total de desempregados é de cerca de 470 mil, isso significa que os casos reais, nas mesmas circunstâncias, deverá ser de, pelo menos, cerca de 600 mil. Ou seja, a taxa de desemprego real rondará os 19%.
Ainda há mais! É facto conhecido de todos (porque referido nas estatísticas do Eurostat) que 20% da população portuguesa vive abaixo do limiar de pobreza. São cerca de 2 milhões de pessoas! Donde vem essa situação? Será que nos querem convencer de que existem, neste país, pessoas bem empregadas, bem ocupadas, que vivem na miséria? Mas que raio de coisa é esta?
Pois é, isto só confirma os meus números, por baixo, porque existem muitos desempregados, que o são, de facto, e que não vivem abaixo do limiar de pobreza. Uns porque (ainda) têm direito a subsídio de desemprego, outros porque têm apoios familiares com alguma estabilidade. Portanto, a taxa real, de desemprego é superior a 20%.
Aqui está uma das limitações da actuação dos nossos governos: não encararem a realidade, não dizerem a verdade, não tomarem medidas para resolver os problemas reais. Em vez disso, mentem, escondem os problemas, sem terem em conta que eles estão aí e se fazem sentir no nosso viver colectivo. Por isso eu não voto neles. Por isso eu me abstenho e apelo à abstenção.
Por isso e também porque, com um mínimo de organização da nossa economia, com um pouco de dignidade e empenho dos responsáveis, é possível reduzir, em poucos meses, o número de desempregados, não em cerca de 150 mil, mas em mais de trezentos mil.
Há pessoas competentes e capazes para fazerem isso, na nossa sociedade. Os nossos problemas só não são resolvidos porque os cargos de responsabilidade estão todos atulhados de lixo, ocupados por incompetentes.
Não é possível votar em gente assim, que apenas promete agravar os nossos problemas.
Apelo, a todos, a que se abstenham, que exijam a valoração da abstenção, fazendo com que os deputados que não são eleitos não tomem posse. Já que não servem para resolver os nossos problemas, como devem, ao menos que não se sintam no direito de chular o país, usurpando representatividade que não têm. Esse dinheiro (o que eles ganham sem merecerem e sem legitimidade) é necessário para coisas bem mais úteis e prementes.
Os cidadãos conscientes têm todo o direito de se recusar a votar em gente assim, visto que os políticos excluem (destroem, ultrajam e difamam) todos os que são válidos, competentes e honestos.