2005/01/07

O Apelo do Presidente (2)

No artigo “O Apelo do Presidente” encontrei os seguintes comentários:
De Rajodoas
Caro Biranta acredito que o Presidente não tenha a receita para a solução económica do nosso País visto não ser essa a sua especialidade, por isso não lhe resta outra alternativa senão a de fazer apelos aos partidos uma vez que a sociedade não interfere directamente nos destinos da Nação, confia naqueles que escolhe, o que nem sempre se traduz numa boa escolha.

De João Gonçalo
Pois, não sabe ele nem sabe ninguém. Estamos realmente perdidos: um PS, light, a piscar o olho ao BE; um PSD centro direita, de braço dado com o CDS-PP... mas afinal onde vamos nós parar? E que entendimento pode haver entre o PS e PSD? São políticas opostas. Na política os oposto não se atraem, julgo eu.Bons e ambiciosos ideais para o blog!!

De Francis
Essa história do entendimento faz-me lembrar o outro político que descobriu a fórmula para o sucesso económico do seu país: AUMENTAR AS EXPORTAÇÕES E DIMINUIR AS IMPORTAÇÕES

De mfc
Pode ser que um dia tenham vergonha na cara!

Vou começar pelo comentário do João, para dizer o seguinte: O Presidente não sabe, de certeza! Senão já teria feito alguma coisa. Embora não acredite nos políticos, nem sequer no Presidente, parece-me impossível que seja tão “sado-masoquista”.
É claro que há sempre que ter em conta aquela ideia falaciosa e perversa, que se instalou na nossa sociedade, de que “a culpa é sempre dos outros”, que vale para cada um de nós e também é usada por cada um dos políticos. Só assim se podem compreender os “apelos abstractos” que o Presidente insiste em fazer, mesmo depois de ter confirmado, inúmeras vezes, que são totalmente inócuos: ninguém ouve. Ou melhor, os outros “ouvem” mas, tal como o Presidente, cada um acha que não é nada com ele. É sempre com os outros. É no que dá fazer apelos ecléticos e abstractos. Os problemas são concretos, exigem (e têm) soluções concretas e, por isso, a única solução é, em cada caso concreto, fazer aplicar as soluções concretas.
Agora, lá porque o Presidente não sabe, não quer dizer que não haja quem saiba. Já o disse, aqui, várias vezes: é uma LEI da vida, conhecida de todas as pessoas minimamente evoluídas (do ponto de vista intelectual) que existem as soluções e também as pessoas adequadas para as “executar”, em todos os tempos e lugares. É tudo uma questão de democracia, que deveria permitir “colocar a pessoa certa no lugar certo” para assim vermos solucionados os nossos problemas.
Repare que não é necessário que cada cidadão saiba, para que existam as soluções. Mas é imprescindível que, quem ocupa o poder tenha bem presente aquela LEI, para que se possa chegar até às soluções. Eles até podem não saber, exactamente, quais as soluções concretas. Mas não é tolerável que se arvorem o direito de ocupar cargos governativos sem terem a mínima ideia de como chegar até às soluções. Basta que saibam, como deviam saber (como deve saber qualquer pessoa minimamente esclarecida) que existem as soluções, para que “corram atrás delas” como lhes compete, e encontrem. Mas não, em Portugal não é assim (como devia ser; nada é).
Se eles não sabem, então, na sua infinita presunção, tacanhez e prepotência, “decretam” que mais ninguém pode saber e, portanto, não há soluções (ou haverá, quiçá, alguma inatingível, subjectiva, hipotética solução, de posse de alguma “entidade abstracta”, para quem falam insistentemente, nos seus discursos de “conversa fiada”, em que insistem, à espera de serem ouvidos por essa tal “entidade abstracta”. Sim, porque, vai-se a ver, nunca falam para alguém específico, nem sobre alguma coisa específica).
No que se refere ao Presidente, já conseguimos uma vitória: ele deixou de fazer a figura ridícula de “pedir que lhe levem o milagre” e já admite, abertamente, que, em matéria de economia, não há milagres. Mas não ganhámos nada com isso, porque o que ele deveria ter percebido, ainda não percebeu. A questão é: alguma vez irá perceber, como tanto necessitamos? Eu tenho sérias dúvidas!
Mas nem por isso as soluções deixam de existir e, com elas, as pessoas para as “executar”. Pela minha parte chego a achar que é para que as pessoas não percebam isto, para que não atinjam o nível intelectual que lhes permita saber que isto é assim, que se “cultiva” a ignorância e o insucesso escolar. Só se percebe que estes problemas subsistam sendo “cultivados” premeditadamente.
Porém, se estivesse garantida esta idoneidade, mínima, dos governantes e políticos, esta capacidade de concretização, de empreendedorismo; e se, além disto, também houvesse formas de responsabilização dos políticos e partidos, forma de eles prestarem contas aos cidadãos, como, por exemplo, a valoração da abstenção e o recurso à consulta popular, sempre que se justificasse (como neste tipo de crises) não me escandalizaria, bem pelo contrário: apoiaria, entendimentos entre os partidos, para levar por diante a execução de algumas medidas de interesse comum, que são imperiosas para que sejamos, de facto, uma sociedade. A minha objecção fundamenta-se, apenas, na certeza de que, desta classe política, a funcionar assim, neste arbítrio a que estamos habituados, não se pode esperar nada de bom; muito menos se os dois maiores partidos chegam a alguma plataforma de entendimento (leia-se: negociata tenebrosa).
Por isso (e só por isso) é tão importante que o Presidente saiba o que fazer, concretize as medidas, ou, pelo menos os objectivos e vigie, ou nos permita vigiar a sua execução e adequação, atempadamente, em cada momento e não apenas depois de “eles” agravarem “até não poder mais” esta nossa situação escabrosa. Não estou a “pedir” nada demais, em democracia, estou?
É simples: se eles não sabem fazer, há quem saiba; se teimam em fazer como entendem, temos o direito de, pelo menos, dizer se concordamos ou não e se cumpriram ou não o que prometerem. Não são eles que têm de “decidir” e avaliar isso; somos nós (até porque eles já demonstraram que não sabem fazê-lo, ou não têm a honestidade necessária).

Com isto tudo, já quase “respondi” também a Rajodoas. Mas ainda vou acrescentar três coisas:
(1) Foi o Presidente, não fui eu, quem pediu, no início de 2003, que lhe levassem o milagre. Portanto, é lícito pensar que ele saberia o que fazer com a proposta, acreditando que não era apenas conversa fiada, demagógica e ele estava a pensar neste LEI que enunciei (que existem quem saiba como fazer).
(2) O Presidente pode e deve fazer muita coisa. Aliás já deveria ter feito. SE não sabe como, então seria bom que perguntasse à população. Existem algumas perguntas que, se começassem a ser feitas, poderiam cercear a ganância dos políticos, pelo tacho, e obrigá-los a “correr atrás das soluções”. Já seria um bom princípio. Ainda acho que o Presidente deveria ter perguntado à população, se devia dissolver o parlamento, ou não. Até talvez fosse melhor perguntar se as pessoas se sentem representadas no parlamento. Querem melhor forma de constatar que as instituições não funcionam e, portanto, o Presidente deve actuar, porque é ele o garante desse funcionamento? É como vos digo: há soluções justas e democráticas, para tudo!
(3) Na última edição da feira do livro, em Lisboa, comprei um livro que comecei a ler com algum cepticismo, mas que, depois, me despertou algum interesse, devido a passagens como a que vou citar a seguir.
O livro chama-se Millenarium e transcreve as respostas dos chefes de estado do G8, a um conjunto de perguntas, seleccionadas de entre as propostas por jovens de todo o Mundo.
À pergunta: “Se, neste momento, fosse o Chefe de Estado dum dos sete países mais pobres do planeta, que proporia para transformar esse país num “start-up” do III milénio?”
Jean Chrétien, primeiro ministro do Canadá, responde: “Não existe uma solução fácil e evidente… Não existe um modelo de desenvolvimento que possa ser transposto… Começaria por procurar compreender as origens do problema, que fossem próprias do meu país. (…) Em seguida procuraria identificar as vantagens comparativas para com os outros países. (…) Ser-me-ia possível elaborar um plano de acção. (…) É estabelecendo objectivos claros e realistas que, muitas vezes, se alcançam progressos tangíveis. (…) O meu plano não seria bem sucedido se não obtivesse o apoio da população. (…) Consultar, democraticamente, os cidadãos. (…) A democracia, o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, a primazia do direito e da boa governação são a base em que assentam as sociedades prósperas. Não se trata duma garantia de sucesso, mas duma condição fundamental. (…) Elaborado após consulta à população e aos principais grupos, (…) no quadro dum diálogo nacional, que permitiria traçar os principais objectivos e as principais prioridades. Nem pensar em fazer tudo sozinho, senão apontar-me-iam a porta da rua. É o que acontece habitualmente, aos políticos que julgam que tudo lhes é permitido.” E que julgam (e decretam) que eles é que sabem tudo, acrescentaria eu.
Transcrevo isto para afirmar, mais uma vez, que este tipo de coisas que costumo escrever neste “blog” não são nada de novo e transcendente; não estou a “inventar” nada, nem a divagar sobre conjecturas. Isto são apenas princípios conhecidos e respeitados por todos os cidadãos honestos e evoluídos, do mundo. A chave que faz o sucesso das nações que o obtêm (nós é que só temos bacocos).
Não sei se para quem me lê isto é claro! Para mim é claríssimo. Seguindo estas linhas de conduta, eu seria capaz de catapultar, em pouco tempo, este país para o patamar de desenvolvimento a que temos direito; aquele a que corresponde o nosso lugar na Europa.
Resta acrescentar que, cá, a meu ver, só o Presidente é que pode fazer alguma coisa, de forma consequente, dado o estado de degradação a que isto chegou. Mas isso seria muita maçada, para ele; não está para isso. Nem ele nem nenhum dos outros políticos!