2005/01/21

Esta "parcela do Terceiro Mundo"!

Como eu não tenho jeito para fazer poesia, aqui fica um poema, bem a propósito, do, já nosso conhecido, Dr. L.J.N.S., preso nº 4 da Carregueira.
Para quando, meu Deus, um minímo de dignidade e de vergonha, na justiça deste país, na nossa sociedade?

POEMA

O TERCEIRO MUNDO

Nesta avara parcela do Terceiro Mundo
Fronteira do oceano e isolada,
Com o seu sacrifício árduo e fecundo,
Trabalhando para os que não prestam para nada,
Há gentre que ainda vive amordaçada
Para não se ouvir um só queixume mais profundo
Desta pungente e imerecida desventura
Que desde há longos anos que perdura.

E o seu dia-a-dia atormentado
Torna-se num exasperante declínio
Atroz, irracional e prolongado
Em campos de concentração e de extermínio
Para quem soltar a voz para dizer “BASTA”,
Não mais se sujeitando a tão vil casta,
Fazendo vacilar o seu domínio.

- Valor e honra aos que contestam este Estado
Anacrónico, prepotente e depravado!...

E mesmo assim este fascismo implacável,
Sem nenhuma coerência que o suporte,
Diz que “a vida humana é inviolável”
E que, em caso algum, haverá pena de morte;
Que se garante a integridade das pessoas,
Tanto física como moral e outras loas,
Não há tortura, penas cruéis de qualquer sorte,
Que a discriminação pessoal é reprovável…
Mas que justiça esta tão abominável!

Para descrédito, muitos deles que ali jazem
São os “pobres diabos” que menos mal fazem.
E também quantos outros inocentes
Pronunciados pelos “legais” delinquentes
Que travestindo arcaicas becas se comprazem
Com aberrantes condenações improcedentes.

- Mais cego ainda que um cego pode ser
Todo aquele que realmente não quer ver…

É preciso alguém decente que varra e meta
Toda esta “escória preta” na valeta,
Juntando ao lixo polícias seus sequazes,
- Associações criminosas de incapazes!

Imputem-se os crimes a quem os cometa,
Corrija-se a justiça com medidas de fundo,
Que ninguém confie em quem só prometa
Nesta avara parcela do Terceiro Mundo…

Onde grassa a infâmia e a vendeta.


De: Dr. L.J.N.S.
Preso nº 4 da Carregueira, INOCENTE,
Em Janeiro de 2005,