2005/01/25

Somos todos iguais, mas… uns são “papistas”!

No artigo “Eleições. O papel do marketing”, encontrei este comentário de “Zero”
Transcrição:
“pois ... eu cá respeito a opção. faça lá o que quiser com o seu voto. mas olhe uma coisa ... o argumento parece pouco consistente ... eles e "nós" ?! mas então em democracia não somos sempre "nós" ?
"eles" são maus e "nós" somos bons !
"eles" são "sempre" maus e "nós" somos "sempre" bons ... por ser assim e não lhe encontrarmos alternativa então amuamos e para fazer crescer o amuo fazemos propaganda a favor da abstenção. claro que esta "nossa" propaganda não é "enganosa" como a dos hipermercados e a "deles", não ... a "nossa" propaganda é pura, linda, luminosa, inteligente, honesta, produz riqueza, felicidade e ... sobretudo ... lava mais branco.é claro que não votar é um direito ... vivam os direitos !!
fujam contudo dos deveres, sobretudo do dever democrático de participar (não confundir com votar) arregaçando a manga, no quadro legal constituído e expresso na constituição.
não façam isso, cansa, não adianta de nada porque "eles" no fim só farão o que muito bem entenderem.
"eles andem por aí"
"... e exija os seus direitos integrais, de cidadão, inclusive o de ser consultado sobre as decisões quanto à matérias mais importantes da vida política e económica do país."
claro que quando lhe derem esses direitos, não os use ... fique em casa, mas exija ... exija sempre ... se não for exigente ainda vão pensar que afinal VOCÊ É COMO ELES”
Fim de transcrição

Não sei o que é que o sr. Zero tem contra a abstenção e contra o respeito pelos direitos democráticos de todos os cidadãos; contra o facto de exigirmos o que nos devia caber, por imposição da democracia, se ela fosse a sério.
O abismo que me separa do sr. Zero é mesmo esse: para ele isto é democracia; para mim (e também para a maioria dos cidadãos portugueses, pelo menos para os que se abstêm) não é. Mas a opinião da maioria dos cidadãos não lhe interessa. Para ele, só devem ser considerados cidadãos os que têm direito a tudo, sem nada merecerem, juntamente com os que se subjugam a patranhas como estas que aqui “botou”, que se submetem a toda a demagogia deste tipo de “argumentação”. Os outros são os “proscritos”, os que pensam pela sua cabeça e vêem as pérfidas intenções destas patranhas, que são denunciadas, pela nossa realidade do dia-a-dia, de forma cada vez mais gritante.
Mas isso, a realidade, aos sr. Zeros, não interessa. Estes acham que têm o direito de colonizar até a nossa maneira de pensar, a nossa inteligência, de decidirem e imporem os argumentos e a lógica que podemos (e devemos) utilizar, o que podemos perceber, ou não. Portanto, a minha maneira de pensar e agir (sobretudo o facto de o dizer), deve estar numa espécie de Índex dos sr. Zeros, deste país (deste mundo).

Não sei o que é que o sr. Zero tem contra a abstenção e contra a forma como entendo exercer os meus direitos; o que sei é que toda a sua argumentação, para além de falaciosa e tacanha, parte do princípio de que os seus motivos para pensar e agir como entende são legítimos, mas os meus motivos (décadas de desenganos e de sofrer perfídias infames, tipificadas na lei e na constituição como crimes, apenas por ser competente), não são válidos; apenas porque os dele são dele e os meus não são dele, são meus. As pessoas devem ser lixadas (por este sistema infame) a vida toda e, mesmo assim, permanecer estúpidos para não tirar as devidas conclusões. Quando se trata de pensar, isso é com os srs. Zeros; nós não temos direito de pensar (e muito menos de o dizer).
Mas isso não interessa nada. Há pessoas que “nasceram” para terem direito a cometer toda a espécie de crimes (eu disse crimes!) e, não só ficarem impunes, como continuarem a ser prestigiados, inocentados, eu sei lá. Porque, se as coisas correm mal é porque nós, os pacatos cidadãos, a quem ninguém ouve, ou dá importância, é que temos a culpa.

Além disso, o sr. Zero demonstra que começou, só agora, a ler-me. Tenha paciência e vá lendo, por aí fora, os artigos já arquivados e verá que, ao contrário de si, eu sei do que estou a falar; falo de cátedra! Falo porque sei que a nossa situação não tem de ser assim, que os nossos problemas têm solução. Falo porque sei que os nossos problemas só não são resolvidos por incompetência dos governantes e seus “afilhados”; por causa do compadrio, do tráfico de influências e da corrupção (que são tudo coisas que eu odeio, com uma montanha de motivos para o fazer); porque, por isso, não são colocadas as pessoas certas nos lugares certos, numa palavra: não há democracia! Falo porque sei que as eleições (ou as formas de participação previstas) nada adiantam quanto à resolução destes problemas que são o essencial! Os políticos, depois de eleitos, só pensam neles.
Mais grave do que isso: você nunca me vai fazer calar, porque eu sei quais são as alternativas. Por mais que tacanhos não percebam, nem acreditem, eu sei como é que se podem resolver os nossos problemas mais graves, em pouco tempo. Mas disso, os nossos políticos nem querem ouvir falar; porque está provado que as soluções excluem, em absoluto, as suas traficâncias, os seus tráficos de influências, a sua impunidade (e até a sua incompetência). Tudo tem regras e isto também tem. Aí é que está o problema (deles). Eles não são sempre maus? Provem que não são. Têm tudo para o fazer, até as oportunidades.

Tudo isto é assim, porque não há democracia.
Mas isso o sr. Zero não sabe o que seja: na sua cabeça as pessoas dividem-se em dois grupos: os que têm direito a tudo, sem necessitarem merecer, fazer algo por isso (não têm obrigação de “arregaçar as mangas”, nem de nada) ; e os que não têm direito a nada, a não ser arcar com as culpas de tudo o que está mal, para desculpar os verdadeiros culpados: os governantes. Os segundos devem “arregaçar as mangas” (será que também devemos trabalhar de borla?); os primeiros só têm de usurpar os chorudos vencimentos e toda a espécie de regalias, para fazer todo o tipo de disparates, para serem arrogantes e estúpidos, impondo, a todo o país, os limites da sua estupidez e incompetência. Mas isso não tem importância, desde que alguém convencione que se chama “democracia”.
Noutros tempos, quem definia as regras da sociedade, dividia as pessoas em senhores e escravos. Isto, que o sr. Zero escreveu aqui é a forma actualizada de fazer a mesma coisa.
Pois fique sabendo sr. Zero, que vou continuar a exigir autêntica democracia, vou continuar a exigir (juntamente com os vários milhões que são ultrajados, todos os dias, por este sistema vil e que se abstêm) tudo a que temos direito. Tudo!
E vou-me abster, vou-me abster, vou-me abster. Vou continuar a apelar à abstenção. A continuação desta patifaria, NÃO EM MEU NOME (não em nosso nome).

Até me apetece dizer: faça a sua obrigação e não se desculpe, covardemente, com os outros que não têm culpa nenhuma e que nada podem fazer pelo país; inclusive porque os cargos (os tachos) estão todos atulhados de lixo, não há lugar para gente honesta e decente e é por isso que estamos neste descalabro. Por mim, estou sempre disponível para responder pelas minhas culpas (e também pelas minhas competências, como sempre fiz). Já os nossos políticos não fazem o mesmo. Mas atenção: nisto como em tudo, competência que esteja na minha mão, que seja minha, ninguém mais exerce; isso posso garantir. E, quanto a fugir, não fujo de nada, nunca. Portanto desiluda-se... Ou insita. Eu gosto destas discussões!