2005/04/16

“Decidir” o Destino do Mundo e da Humanidade!

Em “O Mundo nas Mãos de Criminosos”, escrevi:
“Acho que as próprias associações cívicas, e respectivos dirigentes, são apenas "falsos amigos" do mundo e da dignidade humana... De contrário não estaríamos numa situação tão pérfida (e perigosa).”
Vivemos num mundo de tal agitação, de tal confusão, que ficam muitas coisas por dizer, todos os dias, acerca dos mais variados temas. A este tema eu tinha que regressar.
Dei notícia, neste blog, da realização da Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque (TMI). Este tema foi discutido, na segunda-feira, no programa do canal 2 “Clube de Jornalistas”. Ao que pude perceber o programa pretendia fingir que iria ser “uma pedrada no charco”, neste tipo de discussões. Acabou por ser “um exemplar” da hipocrisia de quem quer aparentar ser o que, realmente, não é. Acabou por ser “um exemplar”, mais um, a evidenciar que tenho razão quando digo que, mais que os inimigos, são os “falsos amigos” quem nos “derrota”.
Há muito tempo que não tenho dúvidas (à medida que o tempo passa mais se arreigam as minhas certezas) de que a situação actual, no mundo e também neste país, se deve, exclusivamente, à ausência de democracia. Quer na realidade política, (deste país e dos restantes países do mundo) na representatividade de quem toma as decisões governamentais nacionais e internacionais, quer (ou talvez sobretudo) na manipulação infame feita através da comunicação social, feita através da cultura.
Neste segundo caso, tem um peso, enorme, o que já se transformou numa convenção intransponível (para as respectivas covardias intelectuais) do que são ou podem ser as “opiniões” toleráveis e dizíveis em público, para o grande público. As outras opiniões, as que não fazem parte do “lote aprovado”, podem ser ditas e reditas, em particular, até se podem transformar nas opiniões maioritárias, mas nunca passarão o crivo da censura (ou da auto censura), quando se trata dos grandes meios de comunicação.
Pois no tal programa, que temava sobre a audiência portuguesa do TMI, quem teve o maior “tempo de antena” e total liberdade para repetir as suas opiniões e análises abjectas e tendenciosas (para não dizer criminosas), foram José Manuel Fernandes, director do Público e Carlos Fino, ex-jornalista da RTP. Para além doutros “comentadores” já amplamente ouvidos.
Em contrapartida, o jornalista que esteve presente na Audiência Portuguesa do TMI, quase não abriu a boca; e, quando o fez, também não conseguiu “fazer a diferença”. Talvez à semelhança dos documentos finais da própria audiência…
Estou aqui a falar disto porque são bons exemplos de como nos “vendem gato por lebre”, (a quem compra, que são muitos) a toda a hora, na comunicação social, e não só. Estou aqui a falar disto para ilustrar os motivos por que “continuamos a perder esta luta (e outras)”; para ilustrar os motivos que me levam a dizer que “os nossos piores inimigos são os nossos falsos amigos”.
Na audiência portuguesa do TMI, houve quem afirmasse, abertamente e sem covardia, que:
- Os atentados de 11 de Setembro foram preparados e executados na América, por (instruções de) responsáveis americanos;
- As prisões arbitrárias e abusivas, feitas pelas tropas americanas e também pelos respectivos serviços secretos, das pessoas que são levadas para Guantanamo, para as prisões no Iraque e no Afeganistão, se destinam a “produzir” novos terroristas, para serem facilmente manipulados pelos provocadores da CIA, para executarem novos atentados terroristas que permitam, à América, manter o pretexto da “luta contra o terrorismo” e, com ele, a guerra e a ocupação do Iraque
.
Eu estava lá, na Audiência Portuguesa do TMI, eu também ouvi dizer isto (e concordei). Curiosamente, outros (dois) dos presentes se manifestaram no mesmo sentido. Um deles foi o General Vasco Lourenço. Mais! Ninguém, naquela sala cheia de gente, levantou a voz para refutar, rebater ou contraditar tal opinião.
Porém, acerca desta “opinião” fundamentada em todas as evidências (analisadas por gente que use a cabeça), que ganha cada vez mais adeptos e que se ouve, facilmente, em conversas particulares, nem uma palavra se ouviu, no referido programa. Então isto não é censura? Isto não é tendenciosismo subserviente e covarde, ao serviço dos criminosos do mundo?
Mas não fica por aqui, a traição com que nos presenteiam estes “nossos (falsos) amigos”. Nas próprias decisões e considerandos da Audiência Portuguesa do TMI, nem uma palavra aparece, acerca destas opiniões. É que, compreendam: aquilo é um Tribunal de Opinião Pública, onde apenas são consentidas as opiniões inócuas, imbecis, manipuladas; aquelas que não vão ao cerne da questão; as daqueles que não “vêem um boi”. Quem pensar de forma diferente é censurado. Ora, quando os que “decidem” tomar a dianteira da luta pelos direitos universais dos cidadãos e contra estas infâmias, tratam assim os próprios cidadãos, arvorando-se o direito de impor à “opinião pública que julga”, os limites da sua própria tacanhez e covardia (ou do respeito pelos interesses dos patifes), censurando as restantes opiniões, estamos conversados. Afinal, o que eles são mesmo, é a “guarda avançada” da manipulação da opinião pública e respectiva censura das ideias discordantes. Com “amigos” assim…
Assim, não admira que Durão Barroso tenha apoiado a guerra contra a vontade, manifesta, da maioria da população portuguesa, não admira que o mesmo tenha acontecido em Espanha e na Inglaterra e até talvez nos próprios USA. Não admira que não consigamos avançar um passo no sentido de mais democracia, de autêntica democracia, que permita ao mundo viver em paz, como merece, como é necessário e como temos direito. Não admira porque quem se devia indignar com isso não se indigna (apenas finge) e quem se indigna é silenciado, até pelos que dizem “estar do nosso lado” e se aprontam a conduzir a respectiva luta (para a derrota, obviamente).
Eu acho que quem tem legitimidade para decidir o destino do Mundo e da Humanidade (porque é disso que se trata) é a própria humanidade. Para isso é necessária autêntica democracia; que permita, aos cidadãos, tomarem parte em decisões desta natureza. Internamente, defendo a valoração da abstenção, nos moldes que estão em “Resultados Eleitorais”; no plano internacional, defendo que a tomada destas decisões e o apoio a estas decisões tem de ser fundamentado em referendos internos, em cada país, a exigir pela ONU. É que, até hoje, ainda ninguém me conseguiu convencer (me apresentar provas irrefutáveis) de que a maioria dos americanos estão a favor da guerra. Mesmo que estivessem, seguramente que o resto do mundo está contra…
Quando comecei este artigo tinha intenção de fazer referência à nomeação de Bolton, a um recente relatório da ONU sobre o Iraque e a vários outros artigos e opiniões publicados em vários “blogs”, mas acho que não me vou alongar mais, porque se não, ninguém me lê…