2005/04/11

O papel da Religião na Sociedade!

Por motivos que serão mais claros, em breve, decidi transcrever, aqui, este artigo que escrevi em "Na Mesa do Costume":

"Volto aqui para clarificar a minha posição
Amigo Augusto, tem razão! Em vez de dissertar sobre a minha posição acerca das religiões, eu deveria ter dito logo: Não! Não temos de ter um Deus!
Tal como reconhece, quer no seu artigo “Anaxágora”, quer nos artigos escrito aqui, os mais brilhantes pensamentos filosóficos, aqueles que ainda hoje podem ser referidos como explicações coerentes dos fenómenos que nos rodeiam, nasceram à revelia das crenças instituídas. Só assim se explica que Anaxágoras tenha sido condenado à morte por ateísmo.
Esta “proibição” do pensamento, de qualquer actividade intelectual livre, teve os seus efeitos mais criminosos durante a idade média. Tanto que ainda hoje este período é referido como “a longa noite de dez séculos”. O que isso irá custar à humanidade, ou se irá custar-nos caro, não sabemos; talvez até nunca venhamos a saber.

Por outro lado, o que são as religiões, e o seu papel na vida das pessoas, é uma questão em constante mutação (ou evolução). À medida que o conhecimento e a ciência evoluem o “domínio” da religião vai-se ajustando (e encolhendo).
Estou a falar da religião, tal como a conhecemos, porque existem “religiões” cujas práticas são, apenas, preceitos de vida “social e intelectual”.

Com isto tudo, o que pretendo dizer é que a “necessidade” de ter um Deus, uma crença, representa, a meu ver, um estado rudimentar de desenvolvimento intelectual, seja ele pessoal ou colectivo. Representa, pura e simplesmente, uma incapacidade de lidar com o desconhecido, de reconhecer as limitações da compreensão que temos dos fenómenos que nos rodeiam. Se há um qualquer fenómeno que nos é perceptível, mas que é inexplicável para o nosso nível de conhecimento, então é porque é obra de Deus (ou de outras coisas, às vezes mais aberrantes).

Essa “soberba” primária, que aqui se revela pela “necessidade” de deter o domínio da verdade e de "explicar" tudo apesar da limitação dos nossos conhecimentos (que é onde entra o Deus), reflecte-se, frequentemente, em comportamentos anti-sociais, que provocam muitos conflitos facilmente evitáveis, fúteis, prejudiciais e injustificados.

Existe uma outra razão para “termos de ter um Deus”: a grande razão das pessoas (crentes) mais elementares (e não só) para a necessidade de termos um Deus, para “imporem”, como imprescindível, essa “aceitação” é a necessidade de haver um prémio, ou um castigo, inevitáveis (Céu e Inferno, respectivamente), para que as pessoas se respeitem, para inibir a criminalidade (ou a maldade humana, no dizer, muito frequente, de alguns pretensiosos intelectualoides).
Pois eu acho duma pobreza intelectual confrangedora, duma enorme ignorância e primarismo, que alguém necessite da existência duma recompensa, ou castigo, para ser civilizado, para ser justo e correcto e digno para com os outros. É assim uma espécie de coisa que considero abaixo da condição humana.

Porém, há que reconhecê-lo, não nasci assim: tal como a maioria da população portuguesa, recebi “educação” católica e aprendi todos os respectivos “preceitos”. E, pasme-se, os primeiros abanões na minha fé surgiram da percepção da existência doutras religiões; o que me colocou perante a contradição da existência dum Deus que ama toda a humanidade, mas que se revela apenas a uma parte dela. A partir daí o resto foi “crescimento” intelectual.
A minha “repulsa” pela afirmação de que “temos de ter um Deus” fundamenta-se, obretudo, nisto, mas não só. Para uma grande parte das pessoas, a necessidade da religião resulta duma necessidade de ter alguma actividade intelectual, que a sociedade, tal como funciona, lhe recusa.
A própria religião maioritária entre nós, por via dos condicionalismos que aceita, pelo facto de ser religião oficial e, como tal, dever fazer bem o seu papel na manutenção da alienação das pessoas, também não preenche essa necessidade. Por isso, o grande êxito de novas religiões que, por terem menor número de aderentes, têm rituais mais apelativos e até talvez mais “humanos”.

A minha repulsa pela afirmação de que “temos de ter um Deus” provém, também, do facto dessa afirmação conter, em si mesma, a explicação e aceitação do funcionamento da sociedade tal como hoje a conhecemos, ignorando a satisfação dessas necessidades intelectuais ou psicológicas, passando tudo para a esfera do pessoal e respectivas opções religiosas, consideradas como normais e inevitáveis (a não ser por uma casta de iluminados, que se compraze a observar os “humanóides”).
Não se pode permitir a continuação da degradação das nossas condições de vivência em sociedade, não se pode tolerar que a nossa vivência seja cada vez menos “em sociedade”, com esse ou qualquer outro pretexto. As pessoas são pessoas, independentemente de acreditarem num Deus, ou não, por isso a sociedade tem de funcionar ao nível das pessoas mais exigentes, para não ser entrave ao desenvolvimento pessoal.

Mas há mais e pior: para além de todo o aproveitamento “oficial” dessa lei (de que temos de ter um Deus) existe ainda a enorme influência dessas crenças na nossa vida social e na forma como nos relacionamos uns com os outros. Dessas influências, a limitação da expressão das ideias e até do livre pensar (portanto: de continuação da evolução) não é, certamente, o menor dos problemas que coloca.
O que eu penso acerca de “temos de ter um Deus”, é que isso corresponde a um estádio, rudimentar, do desenvolvimento intelectual da humanidade. Estádio esse que está a ser prolongado artificialmente, negando-se, às pessoas, a instrução e conhecimentos a que têm direito, e também a livre discussão das ideias, de todas as ideias.

Reconheço que, para os crentes, não adianta dizer este tipo de coisas. Por isso, e porque todos somos humanos apesar disso, prefiro encarar as pessoas e a minha relação com elas, apenas como pessoas. Respeito as crenças de cada um porque sou democrata e porque, para mim, essa é a minha grande “crença”: a democracia; mas rejeito qualquer afirmação de que “temos de ter um Deus”, porque isso significa que TODOS temos "obrigação" de acreditar em algum Deus se queremos fazer parte da espécie humana e porque isso já prejudicou a raça humana muito mais do que devia.

Nada se resume a “temos de ter um Deus”!
Que cada um tenha, ou não, um Deus é uma coisa bem diferente de se estabelecer a lei, analisando (e aceitando) os fenómenos da vivência social à luz dessa afirmação.
Provoca-me urticária, alergia, todo o meu intelecto se rebela contra essa “padronização” alienante e limitadora.
Total liberdade para o pensamento!
Abaixo “os deuses” e o seu papel de carrascos do desenvolvimento e do pensamento humano!

APELO!
Atenção às campanhas mais recentes:
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