2005/03/10

Dia do "Choque Tecnológico"!

Aqui, neste “burgo” eu decidi que, hoje, é o “dia internacional” do desenvolvimento tecnológico.
Por isso vou dar a palavra a “NeuroGlider”, transcrevendo um comentário que deixou, no artigo acerca do programa “Feira Franca”:
“Caro Biranta, se fosse só na RDP a existir este tipo de comportamentos! O mais gritante ainda se passa nas universidades portuguesas. Não só os bons porfessores, empreededores, são obrigados, pelos mais velhos, a “abrandar o ritmo” como também os alunos, mais exigentes, são alvo de represálias, por parte de muitos professores instalados!
É o que se tem em Portugal: uma cultura de mediocridade, baseada numa maneira de pensar fascista, que “nos” foi incutida e que a dita Revolução não conseguiu revolucionar!
É aí que temos de agir: na maneira de pensar dos portugueses! É altura de se deixar de parte a cultura de mesquinhez! Não admira os políticos serem como são!!” Fim de transcrição.

Agora vou contar a minha própria história:
No quarto ano do meu curso (de engenharia), a maioria das cadeiras integravam uma parte prática (chamado trabalho de grupo). Numa delas podíamos escolher o “tema”, que, no entanto, teria que ter a aprovação do prof. Orientador.
Eu tinha conhecimento dum problema “estranho” existente nas tubagens das centrais térmicas, onde frequentemente existiam problemas de “colapso”. Numa outra cadeira, tinha ideia de ter ouvido fazer referência à existência dum “eutético ternário” a 550º centígrados nos aços com aquela composição. Também sabia que esta temperatura (550º) era exactamente a “temperatura de trabalho” mais frequente, daquele material. Em metalurgia, os diagrama binários são relativamente bem conhecidos. Mas a mais de dois componentes, as coisas complicam-se. Para os que não sabem, um “eutético” corresponde a uma transformação, onde os elementos em presença dão origem a compostos estáveis, com características específicas (que, neste caso, fragilizavam o aço, impedindo que “desempenhasse a sua função").
De posse de todas estas ideias e tendo acesso a amostras do material substituído por colapso, decidi aliciar um colega (com quem fiz alguns dos mais interessantes e melhores trabalhos de grupo) para propormos este estudo, como objecto do nosso trabalho.
Quando falei do assunto quase caiu “o Carmo e a Trindade”. O professor e dois assistentes que se encontravam na sala, juntamente com um outro prof. acharam um disparate ridículo eu fazer semelhante proposta. Porquê? Porque aquilo era um assunto de tanto interesse para a indústria que certamente estaria estudado e seria conhecido. Ou seja: “se era para ser feito e era útil, certamente já estaria feito” e se não estivesse, certamente não era para nós, simples e insignificantes alunos, podermos ou devermos fazer.
Argumentei que não conhecia a existência de tal tipo de estudos, e perguntei porque é que nós não poderíamos fazer o trabalho; se não éramos tão “gente” como quaisquer outros, ou se as nossas cabeças não eram feitas da mesma massa, ou se não tínhamos o direito de usar a cabeça. O prof. não conseguiu responder-me e nós fizermos mesmo o tal trabalho.
Foi um dos melhores trabalhos desse ano, nessa cadeira. Os técnicos da empresa em questão, que tinham o problema nas mãos, acharam muito interessantes as conclusões (documentadas e verificadas com os exames analíticos necessários), até queriam uma cópia do relatório, mas o meu colega não consentiu na entrega. Se isto fosse num país civilizado, talvez eu e o meu colega (e mais algumas pessoas) estivéssemos hoje a trabalhar na área, dando seguimento àquele trabalho e fazendo o que gostaríamos tanto de fazer.
Portanto, devido à minha teimosia e irreverência, consegui mostrar que somos tão bons como os outros (estrangeiros) e que temos iguais direitos. Mas como isto é um país governado por mentecaptos, dominado por gente mesquinha e vil, não ganhei nada com isso, o país não ganhou nada com isso, a tecnologia não ganhou nada com isso, o mundo não ganhou nada com isso.
É apenas mais um exemplo. Como este há milhares, no nosso país; não apenas na ciência. É apenas um dos muitos exemplos que poderia relatar, num dos muitos sectores de actividade.
Por isso estou em total desacordo com NeuroGlider quando diz que “agir na maneira de pensar dos portugueses”. Com a proliferação deste tipo de exemplos, muitos milhares de pessoas pensam “bem”; pensam como nós, que isto não está certo. O que realmente tem de ser feito é: colocar as pessoas certas nos lugares certos. Acabar com a mesquinhez e a incompetência em cargos dirigentes, para que possa haver democracia.
Por aqui vocês podem imaginar o que eu me rio, quando ouço falar de “choque tecnológico”. Ah! Ah! Ah!...
Alguém me há-de explicar, um dia, como é “choque tecnológico” nas mãos de imbecis mentecaptos, mesquinhos e incompetentes, que querem manter, a todo o custo, o tachito, não importa o quanto isso custe, de destruição, ao país.