2005/03/26

Eficiência e "Técnicas de Gestão"!

Hoje apetece-me “mergulhar” nas “teorias”. Por estranho que possa parecer, vem isto a propósito duma das recentes sessões do “Prós e Contras”. Este é um dos programas que já não tenho paciência (nem resistência psicológica) para ver, mas a que dou, sempre, uma ou outra “espreitadela”. Assim do estilo de “estar com um olho no burro e outro no cigano”. A bem dizer, encontram-se as duas espécies neste mesmo programa; a minha colite é que já não aguenta tanta indignação.
O programa a que me refiro “tratava” do magno problema da “Reforma da Administração Pública”. A “grande” ambição de todos os nossos políticos, notáveis e teóricos é transformarem qualquer problema trivial, num “magno” problema, para pavonearem a sua “sabedoria” e (in)competência. Todos sabem o que eu penso da Reforma da Administração Pública e do quão simples é resolver esse problema, desde que se afastem os “obstáculos” que o compadrio, o tráfico de influências, o domínio das máfias e os “interesses”, vis, dos nossos teóricos, criam; nesse como em muitos outros problemas da nossa sociedade.
Nesse programa, numa das vezes que “dei uma espreitadela”, deparei-me com um “teórico” que nem sei quem seja, a dissertar sobre uma coisa a que eu chamaria: “modernização de Procedimentos e Critérios” na avaliação e (reforço da) eficiência da Administração Pública. Parece complicado, mas se não é isto que significa, deveria ser. Dito assim, até parece que existe coincidência de opiniões. E existe! O problema não está aí!
Desde a década de oitenta do século passado que ouço falar, por inerência (e exigência) do título académico, das chamadas “novas teorias de gestão”, que “acabaram” com os conceitos da gestão industrial massificada. Estes preconizavam a maximização da eficiência através da minimização de tempos de execução e optimização de percursos; ou seja: a produção em série, a sujeição a uma disciplina férrea, frequentemente desumana. São estas “técnicas” mais antigas, as que vemos caricaturadas em filmes de Charlot.
As novas técnicas de gestão assumiram, na sua forma final, a designação genérica de “Gestão por Projecto”.
Antes de escalpelizar, mais demoradamente, o que se entende por esta última designação e o que deve ser a sua aplicação, quero deixar bem claro que não concebo (não existem) técnicas de gestão que não impliquem organização, planeamento e exigência de eficiência. Falo de organização e planeamento tanto localizados como a nível geral, do País. Não se esqueçam que estamos num país onde nem sequer há dados (registos) acerca do que quer que seja.
As técnicas de “Gestão por Projecto” pressupõem um planeamento e a entrega de cada tarefa (fase do projecto) a uma equipa auto-gerida. Pressupõem a melhoria de eficiência com a motivação dos trabalhadores através da, designada, “Gestão por objectivos”, em que cada um participa de forma responsável e esclarecida. A evolução destas técnicas demonstrou que, dentro destas equipas, se obtém a rentabilidade máxima se as tarefas de coordenação forem rotativas; embora também se tenha concluindo que, frequentemente, a própria equipa subverte esta regra e exclui alguns da coordenação, entregando-a, sistematicamente, aos mais eficientes, porque só assim consegue alcançar os objectivos que lhe foram fixados. Repare-se que os “coordenadores” não são impostos, à equipa. O cargo começa por ser rotativo e é a própria equipa que os fixa, se for conveniente.
A partir dalguns outros artigos, em que disse que: “existem soluções para todos os nossos problemas e também as pessoas certas para cada cargo e função; além de que compete à democracia conseguir ambos os resultados, (as pessoas certas nos lugares certos e as soluções)” será possível perceber que defendo esta técnica de gestão, que devia ser aplicada extensivamente e intensivamente. Mas não chega. Porque é necessário definir os objectivos correctamente e controlar os resultados firmemente. Isso depende da idoneidade e adequação das pessoas que lideram a sociedade. É aí que entroncam todos os nossos problemas.
Aos que me lêem e desempenham qualquer cargo ou função, inseridos numa qualquer estrutura, peço, por favor, que voltem a ler, duas ou três vezes, o paragrafo acerca da forma de funcionamento da “Gestão por Projecto” e que, depois de compreenderem a ideia, a comparem com o que se passa nos vossos locais de trabalho. Podem generalizar, porque, com certeza, existem muitas outras situações bem mais aberrantes do que a vossa. As situações melhores, em que as coisas funcionam como devem, é que são a excepção. Devia ser o contrário.
É assim, a partir destes conhecimentos, que eu avalio, por exemplo, as “explicações” dos coordenadores da Protecção Civil e Bombeiros, acerca da “inevitabilidade” do flagelo dos incêndios florestais. Ainda há pouco tempo “alguém” veio “desdramatizar a questão” que envolveu a morte de bombeiros, em vez de prestar contas pelos crimes que anda a praticar. Mas este país é assim, está tudo entregue a criminosos!
Voltemos ao tal programa e ao motivo próximo deste meu artigo. Para não variar, a minha indignação atingiu o rubro, quando ouvi o tal “teórico”, que refiro acima, a tentar aldrabar tudo e a pretender, numa de “pavonear a sua sabedoria”, defender a aplicação daquelas técnicas de gestão apenas a uma parte da “Reforma da Administração Pública”, a saber: a avaliação de desempenho. Até me apeteceu rasgar os “certificados” dos seminários em que participei sobre este tema! Será possível?
Não fica por aqui, a aldrabice. Por imperativo dos próprios interesses em “defender a sua dama”, que passa pelos abomináveis estudos e pareceres, entroncando nos “concursos internacionais”, todo a teoria é subvertida e renegada. Quero eu dizer que a “Reforma da Administração Pública”, tal como foi apresentada e defendida é, em si mesma, a própria negação destes princípios “modernos” de gestão. Até porque estamos a falar de "Reforma da Administração Pública", cuja definição deveria ter a participação dos próprios (que não apenas dos Directores Gerais, como defendeu Mário Soares, em consonância com o seu autismo, elitismo absurdo, sectário, primário e prejudicial).
Aliás, se se aplicarem com rigor e seriedade, estes princípios de gestão, em cada organismo e secção, a reforma da administração pública faz-se sem ser necessário gastar um tostão; ao invés, faz-se poupando muito dinheiro. Mas isso não interessa a quem apenas sabe vender “verborreia” absurda e inútil, a preço d’ouro, agravando a nossa desastrosa situação, com isso, todos os dias.