2005/03/08

Os Debates por fazer (IV)

Em "a mesa do costume", neste tema, deixei mais um comentário.
Então vamos lá "lançar mais umas achasitas para esta fogueira". Sim porque, ao contrário de "agrafo", eu acho que não estamos a 4 anos das próximas legislativas; estamos a muito menos.
Por isso, proponho, para este tema, essa mesma derivação:
(1) a que se deve a instabilidade governativa (mesmo quando existem maiorias obsolutas)?
(2) porque é que o actual sistema não consegue resolver os problemas da sociedade?
(3) porque é que as instituições sociais, políticas, económicas, governativas e da justiça não funcionam?
Para iniciar, vou, mais uma vez, "puxar a brasa à minha sardinha". Quer dizer, reafirmar o que já disse muitas vezes e acrescentar algumas coisas.
Todos sabem que eu defendo que todos os nossos problemas têm solução. Também já o disse, várias vezes, que a única razão pela qual não se chega às soluções é a ausência de democracia. É claro que, cada um pode apresentar outras justificações, ou opiniões diferentes; mas, quando se trata dos políticos, dos que detêm o poder, não é admissível que apresentem "razões" que não passam de desculpas, apresentando os nossos problemas como fatalidades, com argumentos próprios de mentecaptos. Quando se trata dos políticos é-lhes exigível, tem que passar a ser-lhes exigível, que provem, na prática, a validade dos seus argumentos. Mas os políticos não se preocupam com isso porque acham que não precisam; acham que conquistaram o direito de nos enganar, eternamente. Para isso contam com a monopolização dos órgãos de comunicação social, com a demagogia e com a falsidade e hipocrisia de todos os notáveis. Logo, não precisam de ter respeito pela nossa inteligência.
Isto conduz-nos à outra questão que me é tão cara.
Será que a governação deve continuar a ser exercida pelos partidos, nos actuais moldes? Será que isso não é, na sua essência, um contracenso (por opção do comportamento dos próprios partidos)?
A governação, assim entregue aos partidos, nos moldes actuais, transformou-se num jogo, de cujo os problemas e as necessidades reais da sociedade estão completamente arredados. Transformou-se num jogo porque não pode ser outra coisa, em vista da fraca representatividade, objectiva, de cada partido (de cada governo). Mas a governação deve ser exercida em nome da sociedade, para resolver os problemas da sociedade. Logo o governo tem de ter o apoio e a confiança da maioria dos cidadãos. Não é assim e ninguém actua para que assim seja!
Em face deste impasse, será que pudemos, ou devemos, exigir aos cidadãos que se violentem, cedam à demagogia e à mentira e votem em quem não querem, escolham onde não querem escolher? Ou será que temos que introduzir alterações no actual sistema, para que passe a funcionar e a ser eficiente?
Em qualquer caso, acho que não se pode dar "espaço" e garantir impunidade aos partidos para estes continuarem a sua destruição. O povo tem de ser chamado, regularmente, a pronunciar-se sobre o desempenho do governo e dos parlamentares, para acabar com esta bandalheira de os eleitos (alguns que ninguém elegeu) terem poderes absolutos e descricionários, até de decidirem sobre os seus próprios méritos, sem darem contas a ninguém, sem se preocuparem com a destruição que provocam, sem prestarem contas dos crimes que cometem. Eu disse crimes!
É que assim, sendo eles a decidir tudo (e a monopolizar tudo) isto deixa de ser democracia (que nunca foi) e passa a ser uma ditadura (que nunca deixou de ser).
É claro que pudemos sempre meter a cabeça na areia, fugir, covardemente, da realidade, concordar, subservientemente, com quem nos quer "fazer a cabeça" e deixar a situação continuar a agravar-se.
Não é necessário inovação? Todos o reconhecem! Pois inovemos onde se justifica, onde é premente haver alterações.
As alterações vão acontecer; o que não está decidido é qual vai ser a nossa participação nelas; isto é: em que sentido serão.
Quando se tem uns sapatos pequenos e apertados, deve-se cortar os pés, ou trocar os sapatos? Pois troquemos os sapatos, porque é o mais sensato e o mais eficiente. De contrário corremos o risco de ficarmos (ainda mais) aleijadinhos.