As Profecias de Nostradamus. Ver para crer
Por razões que já nem eu sei bem explicar, tomei-me de curiosidade pelas “profecias” de Nostradamus.
Em boa verdade eu até sei explicar as “minhas razões”:
(1) Porque me faz muita confusão a forma (sempre indisfarçadamente reaccionária) como estas coisas são “explicadas”;
(2) Porque, quando quero ter opiniões, sobre um dado assunto, gosto de “ver para crer”; isto é: de aprofundar e indagar e me informar e investigar, para me fundamentar;
(3) Porque tenho milhões de razões para desconfiar da comunicação social, dos ideólogos a quem é dado espaço público e da bondade e honestidade das suas respectivas motivações. Penso sempre que, tal como as minhas (as nossas) opiniões não tem espaço, nos espaços públicos, também pode acontecer o mesmo em quaisquer outros tipos de assuntos, com as opiniões mais honestas.
(4) Porque, de vez em quando, (cada vez com mais frequência), este tipo de assuntos desperta muita curiosidade, provocando os mais diversos sentimentos, todos eles (ou quase todos) eivados do mais profundo primarismo e obscurantismo (campos férteis para a demagogia e a manipulação).
Antes de prosseguir tenho que “confessar-vos” um segredo: Já por várias vezes dei por mim a viver episódios (alguns bem triviais), com que tinha sonhado havia tempo. Em contrapartida, também já sonhei com os números do totoloto, mas não consigo acertar, por mais que me esforce. Isto para dizer que, quando acordo e me lembro de com o que é que sonhei, nunca sei se o sonho é pura fantasia, ou é premonitório. Esta noite, por exemplo, sonhei com um problema grave num pé (que nem sei dizer de quem era), sonho que espero nunca se venha a concretizar. Resultam de tudo isto as minhas dificuldades em dar importância a este tipo de coisas, por absoluta inutilidade do esforço; mas também para ilustrar que “este tipo de coisas existem” e que,
lá porque eu não sei fazer as distinções necessárias, não significa que não haja quem saiba.
Também é verdade que aprendi, depois de muito penar, a perceber os pressentimentos, bons e maus, que frequentemente “me assaltam”. Curiosamente, já verifiquei que alguns se devem a intenções ou acções de terceiros e, consequentemente, o que mais acontece é que os “bons” pressentimentos nunca se “concretizam” (suficientemente), o mesmo não se podendo dizer dos maus, que conseguem transformar a nossa vida num inferno. Assim bem “à medida” da situação social em que vivemos… onde apenas existe espaço de concretização para o que é perverso..
Para que, quem me lê, melhor possa perceber o que procuro explicar, publiquei, no post anterior, um artigo que escrevi para “Na Mesa do Costume”, acerca da minha posição sobre as religiões e crendices. E também sobre a forma como eu acho que se deve lidar com “o desconhecido”. Quem quiser ir até lá tem link
aqui.
Sobre este assunto, especificamente, aconselho uma visita a “Marketing Axiológico” e a leitura do artigo intitulado: “Inteligência Espiritual – QE”, com link directo
aqui.
Embora eu não concorde, na totalidade com a forma como o tema é tratado, nesse artigo, é bom que se divulguem este tipo de coisas, para que as pessoas não se sintam “anormais”, apenas porque sentem coisas “estranhas”, que os outros não sentem (ou sentem e não dizem, ou não sabem) e de que é proibido falar; ou para que não haja tanta gente a “acreditar em almas do outro mundo”, por causa de fenómenos que ocorrem, vulgares, entre as pessoas.
Toda a gente “sente” este tipo de coisas; talvez aconteça que nem todos as saibam interpretar correctamente… E mais não digo, porque, de contrário, nunca mais chego “aos finalmente”. Cada um que interprete como quiser, porque estas coisas são mesmo assim, por enquanto: Onde a ciência ainda não chegou, estamos no domínio da filosofia e, em boa verdade, “toda a especulação é legítima” (desde que bem intencionada e respeitando um mínimo de sensatez).
Passemos, então, às profecias!
As mais comentadas são as de Nostradamus, embora se diga que existem outras menos obscuras. É isso mesmo: as profecias são obscuras. Se o são propositadamente (como alguns pretendem), ou se o são por inerência do facto de serem profecias não sei dizer, nem me interessa.
Acerca de Nostradamus comprei dois livros, de dois autores diferentes: J. Fontbrune e S. Hutin. Constatei esta coisa fantástica:
A quadra 81 da V Centúria diz, segundo J. Fontbrune:
A Ave real sobre a cidade solar
Sete meses diante fará nocturno augúrio:
Muro do oriente cairá trovão relâmpago,
Sete dias às portas os inimigos à hora.
Este autor afirma que esta quadra se refere à queda do Muro de Berlim; à invasão do Koweit pelo Iraque e ao correspondente ataque Americano.
Esta mesma quadra, que apenas difere em “diante”, substituído por “adiante”, e “inimigos à hora”, que passa a ser: “inimigos na hora”, é interpretada, por S. Hutin, como: “As tropas Napoleónicas invadem a Europa. Campanha da Rússia, cujo ponto culminante será a efémera conquista (apenas alguns dias) de Moscovo.”...
Parecido não é?
Não resisto a transcrever, aqui, a quadra que terá sido usada para prever o que seria o desastre de Chernobyl:
IV, 67
O ano em que Saturno e Marte iguais combusto,
O ar muito seco, longa trajecção:
Por fogos secretos de ardor grande lugar adusto,
Pouca chuva, vento quente, guerra, incursão.
Nesta quadra, segundo J. Fontbrune, o primeiro e o segundo versos localizam os acontecimentos no tempo, referindo a passagem do cometa Halley e a respectiva posição astral (entre Saturno e Marte igual combusto).
O terceiro verso refere a explosão em Chernobyl; o quarto verso refere o bombardeamento de Tripoli, por dezoito bombardeiros F-111, saídos de Inglaterra, com o objectivo de assassinar Kadafi, ocorrido no mesmo mês da passagem do cometa, pouco antes da explosão. S. Hutin apenas diz que a quadra se refere a “bombardeamentos aéreos, combates encarniçados”... Enfim.
Fazendo a leitura comparada destes dois livros (de J. Fontbrune e S. Hutin), encontram-se inúmeros exemplos como estes, alguns bem mais desconcertantes.
O primeiro destes autores reconhece, todavia, que precisou de 17 anos de trabalho, assíduo, para encontrar, na história, os pormenores “descritos” nas centúrias; e separar o passado do futuro. E especifica: “Depois de ter memorizado o texto (de Nostradamus), era necessário “devorar” numerosos livros de história, para tentar reencontrar os pormenores”, acrescentando: “É procedendo por eliminação e avançando, passo a passo, que se “desfia a meada” das quadras. Isto mostra que os textos não podem ter mais do que um significado, mas quão difícil de descobrir”.
Este autor tem a vantagem de reunir conhecimentos de astronomia (ou astrologia?) que lhe permitem localizar, no tempo, os acontecimentos, quando as quadras têm esse tipo de precisões. Vantagens (utilidade) de todo esse trabalho?
Num outro passo ele mesmo diz que, perante as suas explicações: “Em vez de se arrefecer a mediatização dum acontecimento que não teria lugar, ninguém me escutou. O Pânico foi alimentado… Fui mesmo acusado de me desdizer, sem que tenha mudado uma vírgula…”
Embora eu não veja a sua utilidade prática, tenho que reconhecer mérito a quem se dedica, com honestidade, a qualquer “empreendimento”, por isso, se quisesse consultar este tipo de obras, certamente preferiria este autor (J. Fontbrune); mas teria sempre em conta que, como toda a gente, tem a sua probabilidade de erro e que, também como toda a gente, fará reflectir, nas suas interpretações, os seus próprios conceitos filosóficos ou sociais. De facto, e apesar de tudo o que o próprio diz acerca dos restantes, não consigo deixar de me aperceber de que:
As interpretações destes dois autores (em acontecimentos não ocorridos) reflectem as suas respectivas concepções filosóficas e sociais, manifestando, um deles, sentimentos (ou preconceitos) anti-árabes e o outro o mesmo tipo de sentimentos/preconceitos, mas anti-chineses. Num caso e noutro quase se pode falar de xenofobia. Evidentemente, a essas interpretações acresce esse "condicionalismo" o que, consequentemente, aumenta a probabilidade de falha; ou seja: o que está escrito nas quadras é o que for; o que cada um destes autores diz acerca delas é apenas o que a suas ideias pré-concebidas permite. Haverá alguma semelhança? Talvez sim, talvez não.
Mas não foi só por isso que me dei a este trabalho todo. O que pretendo “pôr em causa” é, não só a validade das próprias interpretações, mas também os conceitos obscurantistas, demagógicos e falsos que se espalham por aí, sabe-se lá com que tenebrosos objectivos, a pretexto destas coisas. De cujas os mais incultos são “presas fáceis”. Eis algumas quadras cuja interpretação não me oferece dúvidas, em vista dos acontecimentos actuais, embora não sejam interpretadas assim, por nenhum destes autores:
VI, 23
“Desprezo do reino numismas desacreditadas,
E serão povos movidos contra seu Rei:
Paz, facto novo, santas leis pioradas
Rapis nunca foi em tão duro desarranjo”
III, 26
“Reis e Príncipes erguerão simulacros,
Augúrios, ocos elevados arúspices:
Corno vítima dourado, e de azul, de acres
Interpretados serão os extípices”
A primeira quadra fala de problemas financeiros (numismas) e de indignação popular, que se estende às questões da Paz, da aplicação das leis e da desordem extrema e generalizada. A segunda quadra fala, claramente, de gente importante envolvida em “simulacros” e também, vejam só, de “previsões sem fundamento (augúrios, ocos)” emitidas por essa mesma gente “elevados arúspices”… As vítimas serão a sociedade e o seu bem-estar. Mas aqueles logros serão denunciados "interpretados" (e não o serão, certamente, por Nostradamus...).
Olhem bem para a realidade à vossa volta. Isto faz-vos lembrar alguma coisa? Então vamos lá a insistir nas denúncias, façamos bem o nosso papel, porque ninguém o fará por nós (até porque, ao que parece, cada vez há menos gente "disponível" para isso).
Vejamos mais 3 exemplos:
III, 3
Marte e Mercúrio, e dinheiro todos juntos
Para o sul extrema secura:
…
Sextilha 46
O provedor porá tudo em derrota,
Sanguessuga e Lobo meu dizer não escuta
….
X, 66
O chefe de Londres por reino o Américo,
A ilha de Escócia tempesterá por gelo:
Rei Reb terão um tão falso anticristo,
Que os porá muito todos na refrega
No primeiro caso, Marte significa guerra, Mercúrio, a simulação, corrupção, ladroagem (Mercúrio é o deus dos ladrões), encaixando-se, perfeitamente na disputa entre países pobres (sul) e ricos, “decidida” pelo poder do dinheiro e da falsidade, pela exploração, obstruídos pela corrupção, misturados com as guerras, as ameaças (actos de provocação).
No segundo caso, “o provedor” é o fautor da guerra. Aplica-se perfeitamente a “quem governa o mundo”, sem ser necessário grande esforço interpretativo (que porá tudo em derrota). E mais uma vez aparece a exploração, a especulação (sanguessuga). Lobo referir-se-ia à Alemanha; ou seja aos países ricos, que não sabem escutar Nostradamus (mas sabem tentar usá-lo a seu favor, para aumentar a confusão e a susceptibilidade das gentes simples).
A terceira quadra eu deixo à vossa livre interpretação, apenas com umas observações:
No tempo de Nostradamus a América não existia, sendo, muitas vezes identificada como a ilha de Escócia (para o lado da Inglaterra), embora se possa também interpretar como referência à actual aliança entre a América e a Inglaterra. Quem é que vocês acham que eu acho que seja este “Rei Reb”? Não se esqueçam que a América é a terra dos “peles-vermelhas”. Quem mais está a pô-los “muito todos na refrega”, com falsidade, usando as piores mentiras (e praticando os mais abjectos actos de crueldade, de guerra)?
Reparem na seguinte quadra:
Presságio 11, Setembro
Chorar o céu ai isso faz fazer,
O mar se apresta. Aníbal faz suas astúcias:
Dinis fundeia classe tarda não calar,
Não soube segredo, e em que te divertes
O que é que vocês acham que eu leria, aqui, se me aventurasse a interpretá-la? Há um céu que chora, interpretado como significando que “de nada serve lamentar a má sorte”, ou talvez também como recusa do fatalismo em que se transformou a existência do terrorismo e a respectiva “luta”, ou talvez a denunciar a hipocrisia dos "pretextos" da luta contra o terrorismo?. Também há astúcias, há um segredo usado para enganar incautos que, inconscientes disso tudo e da sua gravidade, até se divertem… E, ainda por cima, um “não calar”, que tarda. O presságio é 11, relativo a Setembro. Acho que Nostradamus quis foi divertir-se à nossa custa… Ou então alguém anda a tentar manipulá-lo…
Para além disto e a retratar, com precisão, os nossos dias, há também referência a governantes objecto de troça e escárnio, a gente estúpida em Assembleia, etc.
Mas não desesperem, porque existe também um papel a desempenhar pela NET (interpretação minha, porque se Nostradamus usou expressões desconhecidas no seu tempo, como holocausto, também pode ter dito Nerte, significando NET).
Há uma quadra que acaba com a expressão: “socorro Lusitânia”, que nos cria grandes responsabilidades e deve fazer com que procuremos, com persistência, o caminho certo e intensifiquemos as denúncias de tudo o que é errado.
A quem interesse, há um papel especial reservado a uma(?) mulher
Mas também há previsões que não se concretizaram, nas datas indicadas, havendo quem diga que isso se deveu ao facto de os “erros” terem sido corrigidos a tempo (o livre arbítrio da humanidade??).
Finalmente, o que é mais importante: Estas profecias não anunciam o fim do Mundo, mas sim o seu próprio limite temporal; ou seja: uma data limite para a qual são válidas. Depois de muitas desgraças (por bem ou por mal, diria eu) a humanidade aprenderá a viver neste planeta e a preservar a paz e a sua sobrevivência (dizem as profecias). Aliás, há quem defenda que daqui até ao final das profecias, (por volta de 2025) tanto se pode viver um período de grande destruição (atingindo cerca de dois terços da humanidade, que desaparecerá), como se pode viver um período conturbado, mas de construção das condições necessárias para a tão almejada paz universal (o demónio acorrentado por mil anos, segundo se diz que profetizam as profecias de S. Malaquias, onde o próximo Papa será o último). Acham isso possível sem que se promovam profundas alterações no funcionamento das instituições (nacionais e internacionais)? Quem é que vai lutar por isso? Os governantes, os políticos? Os dirigentes da ONU? Vê-se! Poderemos esperar que caiam do céu essas transformações?
Com isto tudo não pretendo molestar as convicções de ninguém; nem dos que crêem nestas coisas, que são muitos, muito menos dos que não crêem. Apenas pretendi contribuir para desfazer alguns mal entendidos e para acabar com o pavor que se espalha de cada vez que se diz que está anunciado o fim do Mundo e respectivas tragédias. Sobretudo pretendo desfazer aquela ideia determinista, fatalista, ou comodista, de que, se tudo está previsto, não adianta lutar, ou fazer o que quer que seja. A meu ver, o preço a pagar pela paz, depende do que fizermos e da forma como o fizermos (teremos que aprender, a bem ou a mal, então que seja a bem. Para isso é preciso lutar muito e com muita determinação).
Gostaria que todos e cada um mantivessem uma outra clarividência de pensar e um espírito mais aberto, aceitando o desconhecido como tal, sem pretenderem ter o domínio da verdade absoluta, seja na interpretação destes tipo de fenómenos, seja negando-os, (e escarnecendo dos outros) porque isso facilita a tarefa aos manipuladores. Que estes fenómenos existem, é um facto.
Só quero, aqui, frisar uma verdade, absolutamente indesmentível: tal como o facto de uma pessoa ser inteligente, ou não (ter, ou não, elevadas capacidades), não tem nada a ver com a bondade ou maldade de carácter dessa pessoa, nem com a bondade ou maldade das suas convicções (sejam elas de que tipo forem), também o facto de qualquer pessoa ter, ou não, capacidades nestes domínios (do QE), dá qualquer indicação ou garantia, acerca do carácter dessa pessoa, ao contrário do que acreditam, invariavelmente, as pessoas menos instruídas. Não se podem avaliar as pessoas, nem acreditar nas pessoas, apenas por isto.