2005/05/16

Alvos e Efeitos da Manipulação!

Comentário a este post, editorial, da última edição do Café Expresso:
Vocês fazem-me ter "complexos". Toda a gente de acordo e logo tinha eu de vir aqui para "incendiar" a questão.
Meus senhores! Vamos pôr alguma ordem nisto, a começar pelas nossas próprias ideias. "Os exemplos vêm de cima". Sempre foi assim e sempre assim será! Até porque, por mais democrática que seja uma sociedade, por maior que seja a participação de todos nela, haverá sempre líderes, gente que conduz, porque as pessoas não têm todas as mesmas capacidades, nem as mesmas competências.
Quando se sabe e se sentem (sobretudo pelos efeitos práticos, pelos resultados reflectidos na realidade) que existem formas, refinadas, de manipulação da opinião pública, que já foram usadas, tão magistralmente, por Hitler.
Quando se sabe, até porque já foi enunciado no século XVIII, que os povos não se libertam por "explosão" espontânea, mas sim pela adopção de ideias e ideais, que todavia têm, igualmente, que ser enunciados e propagandeados por alguns (muito poucos), de entre a população.
Quando se sabe que a maioria das pessoas vive assoberbada de problemas e tarefas e que, muito legitimamente, espera que cada titular de cada cargo exerça as suas funções e competências de forma digna, porque assim deve ser e tem de ser, para que a sociedade funcione como tal.
Quando se sabe que uma boa parte de todas essas pessoas se mobilizaram por um mundo melhor, nomeadamente aquando do 25 de Abril e, mais recentemente, nas últimas eleições.
Quando se sabe que todas essas pessoas, e outras, se foram afastando da participação activa, e interiorizando a sua insignificância, à medida que foram sendo traídas, as suas lutas ignoradas, as suas reclamações, e indignação, e apelos, e abaixo-assinados, e cartas abertas e fechadas, ignorados, enquanto as respectivas infâmias prosseguem, com a complacência de todos os políticos, deputados, partidos, governantes e notáveis.
Quando se sabe, finalmente, a importância da existência (e da qualidade) de lideres verdadeiros e dignos, para que os povos possam ter paz e ser felizes e caminhar pelos "bons caminhos".
Quando se sabe tudo isso e também, por outro lado, o peso esmagador, e deprimente, das ideias propagandeadas pelos OCS, que sistematicamente, nos pretendem impingir que, segundo a, sacro-santa, lógica do liberalismo e da "iniciativa privada", nós, o povo, é que devemos assumir as culpas da situação desastrosa que vivemos, porque não conseguimos fazer o nosso trabalho e o dos outros, porque não nos deixam fazer o que quer que seja, mas, ainda assim, nós é que somos culpados, sem termos culpa nenhuma.
Quando se sabe tudo isto e muitas outras coisas igualmente aberrantes, ignóbis e criminosas, como a montanha de sofismas assim construídos para inocentar os culpados e culpar os inocentes.
Quando vivemos num sistema onde os cidadãos não têm direitos (os direitos dos cidadãos não são respeitados) e as leis não se aplicam aos, não punem os, grandes criminosos que ocupam o poder.
Muito me admira que os meus amigos, precisamente os meus amigos de quem eu esperava um pouco mais de clarividência e sensatez, embarquem "nesta" e se admirem de haver, entre a população, quem ceda a esta lógica maldita que nos tem inposto toda esta perfídia; se admirem que haja quem embarque "na normalidade". Sim porque, neste país, a política e o exercício de cargos de responsabilidade, sempre foi assim, mesmo durante os últimos 31 anos de "democracia".
Então o que é que tem de anormal um pacato e simplório cidadão achar isso normal? Se é a situação que lhe tem sido imposta há séculos, é natural que acabe por a achar normal. Gente que se acomoda e conforma com (e até, quiçá, defende o) "statu quo" haverá sempre e em grande quantidade. É por isso e por causa disso que são necessários lideres e um grande trabalho de divulgação cultural, que não existe cá.
Sabem? Deixem-me usar de sinceridade. Afinal é, apenas, uma questão de "relativismo", que se aplica em tudo. Eu, por exemplo, sou capaz de achar tão funesta esta vossa abordagem da questão (porque "embarca", igualmente, nos objectivos do pior tipo de gente (e respectivas estratégias) que existe ao cimo da terra), como essas reacções.
Porém, se quiser ser magnânime, terei de vos compreender, porque a vossa reacção é a que se espera que aconteça, que seja maioritária, dentro do mesmo quadro de planeamento e cerco ideológico a que todos estamos sujeitos, mas de que apenas alguns, muito poucos, conseguem se emancipar, de facto, o que, nitidamente, ainda não é o vosso caso.
Porquê isto tudo? Porque, para que a democracia funcione, cada um tem de fazer a sua parte, mas não pode desempenhar o papel dos outros.
É muito importante que as ideias correctas e as vias de solução sejam propagandeadas; mas, para isso, elas têm de ter ouvintes, para que possam vir a ter, também, adeptos. Acicatar as divergências entre a população, ou transferir culpas de quem as têm (porque tem, assumiu, funções que não exerce), para quem as não tem, porque não tem funções e é presa fácil de todo o tipo de falácias, tal como a maioria, é uma forma de dificultar o caminho para esse objectivo.
Pode-se dizer que, os que falam assim, que acham "normal" aquela escumalha "safar-se", não passam duns "pobres de espírito", daqueles para quem existem e são fabricadas todas as manipulações da opinião pública. Mas que dizer de quem centra neles a atribuição de culpas, se essas mesmas manipulações também têm (e até o enunciam a toda a hora) este outro objectivo?
Pensem no assunto "com carinho"!