2005/05/03

"Nós", os Políticos e a Democracia!

O Sistema Eleitoral por que lutamos.
Voltemos ao Sistema Eleitoral. O “pretexto” é o comentário do Luís, autor de “Sistema Eleitoral”.
No último artigo que escrevi sobre o assunto: “Alterações à Lei Eleitoral. Valorar a Abstenção!”, o Luís deixou o seguinte comentário:
“há uma ideia que perpassa na sua argumentação com a qual não posso concordar: a divisão do mundo em "nós", os cidadãos, e "eles", os políticos.
Conheço pessoas que entraram na vida política por quererem mudar algo na sociedade e desempenharam competentemente os cargos para que foram eleitas. Por isso, não as meto no mesmo saco de outras que lá estão para se "orientarem".
Apesar de não gostar dessas "más rezes", sou da opinião que não devemos aplicar uma lógica "bushiana" à vida política, em que os eleitores são os 'bons da fita' e os eleitos integram o 'eixo do mal'.É que, bem ou mal, 'nós' só não somos 'eles' devido à nossa falta de vontade ou à falta de vontade de outros como 'nós'..." Fim.
Pois é, meu querido amigo Luís, isso, a que você chama “ideia” é, afinal de contas, uma dura e triste e tenebrosa e absurda e infame, realidade.
E, deixe-me que o esclareça, pela minha parte “nós”, quero dizer: “eu” não somos “eles”, nunca poderíamos ser “eles”, nem a bem, nem a mal, nem de maneira nenhuma. Pelo simples facto de que se “nós”, quero dizer “eu”, fôssemos “eles”, nunca seríamos “eles”, porque não conseguiríamos, por mais que nos esforçássemos, ser tão incompetentes, nem tão desonestos.
Não sei se me faço entender, mas essa sua lógica redunda numa espécie de “pescadinha de rabo na boca” que, mais do que afirmar, sugere que “eles” são assim, fatalmente, porque assim têm de ser e que outros que sejam “eles” serão iguais. Tenha dó! Há muitas formas de esmagar a auto estima e a esperança dum povo, mas esta sua é refinada. Para além de ser desculpabilizadora de todas as patifarias cometidas pelos políticos.

Você fundamenta a sua opinião pelo facto de conhecer pessoas que entraram na vida política… e desempenharam bem o seu papel. Apetece dizer, a essas pessoas: Agradecemos muito… por nada. Porque não conseguiram fazer qualquer diferença, nada mudou, no essencial, a partir do seu desempenho. Ou seja, por muito bem intencionadas que fossem, ou sejam, não nos podem impingir, num único bloco, toda a escumalha que prolifera e abunda entre os políticos, apenas porque eles “desempenharam competentemente…” Além disso, ainda teríamos que validar o “competentemente”, depois de conhecermos “a obra feita” e o seu contributo para o progresso do País.
Mas não vamos por aí, porque isso é desviar a conversa do seu objectivo; discutir questões marginais, até do ponto de vista do seu valor intelectual.
Aliás, esta discussão só está a acontecer porque os seus “pontos de vista” são os mesmos com os órgãos de comunicação social (OCS) e os “comentadores” que colonizam a nossa maneira de pensar colectiva, costumam envenenar a “opinião pública”, baralhar as pessoas, criar divisões e cepticismos colectivos; numa palavra: dividir para reinar. Por isso e só por isso (porque há uma montanha de ideias cretinas (e respectivos argumentos) a desfazer é que estou a responder-lhe, assim. Senão arrumaria a coisa em poucas palavras.
Há duas coisas que quero deixar bem claras:
(1) Não recebo “lições” de isenção, nem de civismo, nem de raciocínio lógico, digno, de ninguém. Porque não sou responsável pelas limitações de compreensão, ou isenção, ou coerência de quem quer que seja. Isto a propósito de aplicarmos uma lógica “bushiana”.
(2) Não sei que lógica é que você aplica, mas sempre quero lembrar-lhe estas suas palavras:
“É que, se sou contra que se sobrevalorize, em demasia, os partidos mais votados ou os partidos menos votados, também não posso concordar que se dê, à opinião de quem não vota, um valor superior àquele que lhe é devido”.
Reconhece estas palavras? Se não se lembra, procure, no seu próprio site, porque elas estão lá e são suas. Esta sua frase é uma perfeita contradição, tendenciosa; senão vejamos: Tal como é contra que se sobrevalorizem os partidos, também é contra “que se dê um valor superior àquele que lhe é devido, a quem não vota”.
“Se dê um valor superior ao que é devido”? Mas, neste momento, essas “opiniões” não têm qualquer valor, sendo os respectivos “opinadores”, pura e simplesmente, eliminados do “mapa dos cidadãos”, de forma absolutamente nazi, após as eleições, passando a ser, apenas, gente(alha) com deveres (de sustentar as máfias que nos governam; e são muitas). Portanto, o que para mim é uma exigência de elementar democracia, de correcção duma prática nazi, que contribui para que os nossos problemas (que o são, principalmente, de democracia) sejam resolvidos, para si é assim uma coisa como: “dar um valor superior àquele que lhe é devido”. Certamente que você não ignora que um argumento destes “arruma” qualquer discussão, entre nós!
Mas há outras passagens em que você “confirma” a existência de “nós” e “eles”, colocando-se, claro está, do lado deles; olhe só: “sou absolutamente contra a desresponsabilização dos eleitores. E, na prática, é isso que acontece se for dado peso parlamentar à abstenção.”
Ou seja: para si também existe “nós” e “eles”, só que você está do lado “deles”, contra nós, a achar que somos responsáveis por não termos voz, por ninguém nos ouvir, ou respeitar, ou se comportar dignamente no desempenho dos cargos políticos. Nestas suas frases é bem evidente que você acha que quem tem os cargos deve ser desresponsabilizado e os cidadãos é que são, afinal, “os maus da fita”. Ou seja, nesta sua lógica, quem tem os cargos está sempre inocentado, qualquer que seja o uso que fizer deles e os cidadãos é que são responsáveis pelos crimes dos políticos e dos seus comparsas, das máfias todas que por aí andam, apesar de se indignarem com isso, de o dizerem, de serem continuamente afrontados por esses patifes que não nos ligam nenhuma; apesar de fazermos tudo o que pudemos contra isso e até o que não pudemos, nem temos obrigação de fazer; apesar de não pudermos fazer mais nada, porque “eles”, os que pensam como você, nos impõem que sejamos cidadãos sem direitos. Claro que assim não há soluções para os nossos problemas, nem nunca haverá. Portanto, se você não tem propostas que sejam solução para alguma coisa, também não admira que não compreenda como é que as minhas propostas podem ser solução. Ei garanto-lhe que são!
O que eu me pergunto é que tipo de estrutura intelectual, que tipo de honestidade é que têm pessoas assim, para dizerem, como dizem, habitualmente, que a culpa é dos “outros”, dos que não têm direitos nem poder, fomentando a misantropia e a falta de respeito entre os cidadãos?
Claro que, pensando você assim, não lhe passa pela cabeça que eu possa pensar doutro modo, ter outro tipo de isenção, ter outros fundamentos para as minhas opiniões, nem objectivos mais nobres… E fiquemo-nos por aqui, porque você nem imagina o que eu seria capaz de dizer, se quisesse fazer a correcta “caracterização” destas suas “opiniões”. Isto para lhe explicar que essa sua abordagem de “lógica bushiana” me parece demagogia, chantagem emocional, terrorismo intelectual; numa palavra: “argumentos” próprios de quem não tem argumentos; de quem quer defender como aceitáveis, à viva força, a qualquer custo, coisas que sabe não o serem. Uma forma de inibir opiniões contrárias, para impor as suas, porque sabe que elas não têm valor suficiente para se imporem por si. Tudo atitudes que, comigo, não pegam. Tudo atitudes ditatoriais, bem nossas conhecidas, que estão na origem da situação a que chegámos, porque têm sido usadas e abusadas desde o 25 de Abril, por todos os partidos. Próprias dos tiques nazis e totalitários dos partidos políticos. Se eu lhe fizesse o mesmo, se caracterizasse, de igual modo, as suas “opiniões”, comparando-as com aquilo a que são comparáveis, garanto-lhe que você não voltaria a esta página. Portanto, mantenhamos o nível da discussão, porque respeitinho é muito bonito, e eu gosto…
Eu defendo a valoração da abstenção, sim! Cada vez a defendo mais e com maior número de razões. Defendo-a sobretudo porque é uma questão de elementar e fundamental democracia… aquela “coisa” tão estranha aos partidos.
Defendo-a também porque é uma via segura de resolução dos nossos problemas. De facto, dos argumentos acima e de tantos outros semelhantes, o que resulta é que essas pessoas não querem a valoração da abstenção porque “gostam” das suas ideias actuais e lhes dá muita maçada analisar objectivamente as coisas e correr o risco de mudar de opinião, mas também não conseguem enunciar alguma forma de sairmos disto, de os nossos problemas terem solução, que não seja: a culpa ser dos outros, criminalizar as opiniões dos outros e as atitudes dos outros, porque as “suas” boas soluções não respeitam os outros, como convém à democracia; ao contrário: excluem os outros!
Mas eu sou capaz de trocar esta minha proposta por alguma outra que, sendo democrática e respeitando integralmente todos os cidadãos e sensibilidades, seja capaz de resolver os nossos problemas. Mas nunca pela bandalheira actual, onde não há saídas, nem se quer que haja saídas. Portanto, fica o desafio!
Para terminar, só quero que saiba que não sou só eu que vejo as coisas assim. Você sabe, mas eu quero que fique bem claro. Por isso, transcrevo vários comentários, doutros “blogueres”. Aqui vai:
(1) “Como tu, também eu defendo que estamos a necessitar, urgentemente, de novas formas de organizar as sociedades e o mundo, porque afinal, as chamadas democracias ocidentais, estão muito longe de o serem.Também comungo contigo da convicção de que a maioria dos políticos que andam por aí, são meros arrivistas a lutar pelos seus interesses particulares e não pelos colectivos, como apregoam”
(2)
“Começo assim uma das cantigas do Fausto, e remata depois:
"...eu não quero o que tu quereseu sou doutra condição
Nada melhor para ilustrar o que eu penso desta chamada "democracia". Volto a repetir: "FALACIOSA", de "CARROCEL", sempre comandada por quem detém os comandos da maquineta.
Esta fabulosa "máquina engana tolos" coloca em quem nela anda a sensação de que são realmente livres, quando o não são. Quem tem e terá sempre o poder são os senhores que a manobram.
Ao entrarmos neste "jogo", escolhendo ora um ora outro animalzinho para (nos) cavalgar, estamos a alimentar o sistema. Quando exigimos mudança, só muda o bichinho montado, nunca o(s) Dono(s) do Carrocel.”
(3)
“Mas se não acredita nos políticos, se está plenamente desconfortado, desiludido até, com essa corja de oportunistas..."
Estou sim senhor. Ou por outra, se calhar nem tanto. Mas então este país não teve 30 anos de carroçel PSD/PS? Não foi, principalmente, com estes dois blocos que se chegou a um nível de descredibilização total? Está aí a história a falar.Mas a realidade vai mais fundo, camarada; O que está errado é o sistema político em si; Está´podre e nunca conseguirá sair da podridão enquanto subsistir, venham os políticos mais sérios que vierem, "adaptam-se" logo ( ou são adaptados ) ao status-quo vigente.Só vejo uma maneira de estes "estabelecidos" tremerem: Quando a populaça que não vota fôr o partido mais votado. Aí, esses senhores vão tremer, podes crer, porque começarão a ver o chão podre e nausabundo que os sustenta a fugir-lhes debaixo dos pés.
(4)“
A teoria da conspiração é uma tentação a que procuro resistir. ...A manipulação, meticulosa e descarada, a propaganda sofisticadamente dissimulada, a lei elaborada à medida da vontade e capricho de quem tem o poder de a encomendar... a feitura e destribuição da opinião para as massas, que não têm tempo, nem cabeça, nem vontade, para a elaborar... perante tal maquiavelismo, sinto-me tão impotente, que procuro resistir a acreditar nessa realidade. Recusar a hipótese, de que o destino da humanidade, está na mão de quem tem o dinheiro suficiente, para depôr e eleger políticos convenientes, através de campanhas bem orquestradas e que, para além de tudo e mal de todos, essas pessoas são loucas. Peço, a mim mesmo um esforço, para acreditar, que a insanidade de um Hitler e de uma boa parte de um povo (que foi o Alemão, mas podia ter sido quaquer outro), foi uma excepção que serviu de lição e que cada um de nós está atento, cioso da importância do seu papel, nos pequenos gestos de todos os dias
(5) Quanto ao conteudo só vos posso dizer o seguinte: ainda estamos longe de bater no fundo... forças poderosas trabalham para descermos como país ainda mais...Tenham esperança e portugal será transformado num imenso "buraco negro"...
(6)
“Eu também partilho desse teu receio, no entanto temos que nos concentrar na realidade que é a sociedade. A maioria das pessoas têm a sua vida profissional (e há muitos até que nem a conseguem ter) que já lhes rouba tempo suficiente e apenas esperam que os políticos desempenhem o melhor possível as funções que lhes cabem (e que eventualmente terão feito por merecer). Uma campanha como aquela que se nos deparou recentemente é, no mínimo, algo a não repetir. É o suficiente para afastar e enojar MUITA gente. Também acho que é demasiado fácil criticar-se o comum português pela crítica estéril. A vida é muito difícil para muito mais pessoas do que as que nos conseguimos lembrar. Lembro que, no fim de contas, quem lá está tem de facto aquele emprego. Sempre vi um cargo político como uma posição de sacríficio pelo País e seus cidadãos, mas mais facilmente vemos o País a ser sacrificado.
Concluindo, imagino o resultado e penso que não seria assim tão dramático quanto isso. Uma coisa é certa, acredito que iríamos ver maior interesse em campanhas construtivas com debates de ideias reais”
(7) "Houve aí um tempo esquisito (que durou pouco tempo, é certo) em que me armei em "vencida da vida" e já não queria mais votar; E era um direito meu, como o é deste confrade. Acredito que votar, mais do que um dever, é um direito. O que significa que não querer votar também é um direito conquistado, ou a outra face do mesmo se quisermos. Optar, decidir, escolher... São tudo sinónimos de liberdade."
Fim de citações.

Chega? São todos de pessoas diferentes. É só para acabar com a hipocrisia de haver pessoas que só dizem e discutem as opiniões oficialmente permitidas, ignorando as outras (como ignoram os cidadãos abstencionistas, apesar de estes serem mais maioria do que qualquer partido, como ignoram todas as opiniões dignas), mesmo sabendo que existem e são aos milhares; muitos milhares.