Em: Na Mesa do Costume, acerca de "Que Educação":
"As duas últimas contribuições de Pindérico merecem-me as seguintes reflexões:
No que se refere à experiência da Finlândia, acho que deve ser encarada como prova do que tenho dito; ou seja que não são as nossas debilidades económicas ou outras que condicionam o nosso desenvolvimento, mas sim a qualidade dos que nos governam e de outros que detêm cargos (e cargozitos) e que se estão nas tintas para os seus desempenhos, porque isto se transformou num forrobodó, onde cada um faz o seu pior, que consegue, para ajudar a agravar os nossos problemas colectivos.
Em situações de forte agitação social escolhe-se um bode expiatório, onde todos descarregam as suas frustrações mesquinhas, para logo depois se acomodarem com “mais e pior do mesmo”. O caso mais recente, de Santana Lopes, é apenas um exemplo, extremo, disto que digo. No meio desse tipo de maledicência primária, existe muita gente que participa, de forma premeditada, com objectivos os mais tenebrosos.
Porque é que isto me preocupa? Porque são episódios que exaurem a nossa energia colectiva, a confiança da população e vão destruindo, corroendo, as hipóteses de mobilização para superar os problemas actuais e sair do abismo, sobretudo porque as críticas são mais destrutivas do que construtivas; não existe preocupação em apontar os caminhos correctos ou em adoptar as atitudes dignas que se impõem. Se tudo é culpa dos políticos e de algum bode expiatório de ocasião, porque é que estes profissionais terão que se preocupar em melhorar o seu desempenho?
Perdoem-me a insistência, mas como eu acho que a maioria dos nossos problemas provêm do desempenho dos respectivos profissionais, muito mais do que de questões estruturais e de “falta de meios”, obviamente que o mesmo se aplica ao ensino. Não há dúvida que existem questões estruturais e de organização a resolver, que têm influência na nossa situação, mas não têm tanta influência. O que pretendo dizer é que, na educação, como em todos os outros sectores, os problemas estruturais e de organização (reparem que não falo da insuficiência de meios) explicam apenas uma parte, uma ínfima parte do problema; o resto deve-se à irresponsabilidade e à impunidade, à ausência de responsabilização por parte dos que exercem as respectivas funções, em todos os níveis, que são irresponsáveis e que se comportam (e reivindicam o estatuto de) “inimputáveis”.
O que pretendo dizer aqui, com todas as letras, é que, em qualquer sector que esteja em situação tão má e grave como a educação (ou a justiça, ou a saúde, ou…), todos os profissionais têm responsabilidades nisso (por acção ou omissão), sendo essa responsabilidade tanto maiores quando se trata de conselhos directivos, estruturas sindicais, associações, etc. Todos sabem que o principal problema da colocação de professores, do ano passado, foi a introdução do factor “cunha”; e que, por parte das escolas, também existe compadrio e esquemas.
É claro que o governo pode resolver estes problemas (poderá?), mas tem muitas dificuldades em fazê-lo porque se defronta, imediatamente, com as pressões e boicotes e oposição das respectivas estruturas, que já estão distorcidas por via destas “traficâncias”. O governo pode resolver isto, mas terá de usar de firmeza e inflexibilidade que não interessa, porque os próprios governos estão “envolvidos” com a protecção dos profissionais incompetentes, por via destes esquemas de compadrio e tráfico de influências, que conspurca todas as nossas estruturas. Vocês vão-me desculpar, mas quando eu entro numa discussão é para dizer o que se impõe. O governo pode acabar com este descalabro, mas precisa de punir, exemplarmente, todos os que falham. Sim porque quem falha, na educação, não é o governo; são as escolas e respectivos profissionais. Até porque a maioria das “queixas” de pais e alunos dirigem-se às escolas e desempenho dos professores. O governo falha porque não responsabiliza, não vigia, não exige (como deve), tolera todo o tipo de crimes.
Num dos muitos episódios vividos por jovens a quem “ajudei”, há um episódio de arbítrio na atribuição duma nota. O assunto é apresentado ao professor responsável pela turma, mas fica sem resposta e o arbítrio mantém-se. Sim porque os nossos jovens devem habituar-se, bem cedo, aos arbítrios e injustiças, à prepotência.
Num outro episódio que já contei aqui, quando tentei explicar a importância de os alunos não terem “furos” devido a faltas dos professores, o Presidente do Conselho Directivo interrompeu-me, não para dizer (o que, em todo o caso, seria uma mistificação), que não podia resolver o problema, mas para argumentar que: “se eu tivesse aí um professor para suprir as faltas, se houvesse dois professores a faltar à mesma hora, continuava a haver professores não substituídos”.
Quando um professor “avalia” assim, com todo este sofisma e demagogia (e estupidez) a utilidade duma medida a que devia ser obrigado por lei, mas que, em todo o caso, devia implementar por uma questão de elementar bom senso e rigor, acho que nada mais há a acrescentar acerca dos verdadeiros motivos do descalabro que se vive na educação. Por acaso eu até ia sugerir uma solução, que é possível a custo zero (que podia permitir “disponibilizar” para suprir as faltas, mais do que um professor). Mas não sugeri nada, porque, nestes sectores, está tudo bem, não se procuram, nem estes responsáveis se preocupam com, soluções e vias de fazer melhorar as coisas. Para quê? Se a culpa é dos políticos…
Isto tudo para concluir que, ao contrário de Pindérico, eu acho que estes problemas são fáceis de resolver… Basta que se privilegiem as regras das democracia e as atitudes democráticas. É necessário que cada um assuma as suas responsabilidades sem sofismas e procure, com clarividência e humildade, as vias de melhorar. Se as pessoas não sabem como resolver os problemas, no mínimo, deviam ouvir os outros com atenção. É preciso acabar com a impunidade; é preciso acabar com tanta presunção balofa. É preciso que os pais e alunos não sejam vistos e tratados com desprezo. É preciso que alunos e pais deixem de ser considerados como “eles” os culpados de todos os males.
Estou a falar disto tudo no sentido construtivo, mas também sei que existem casos de disputas entre professores e casos de perseguições injustificadas, onde vale tudo, a par da garantia de impunidade aos “afilhados”.
Isto para dizer que, no essencial, estou de acordo com a última contribuição de Pindérico. Também acho que é tempo de tipificar, claramente e sem covardias, as práticas e atitudes que nos conduziram até aqui, para passar a inibi-las e para acabar com a situação de “todos ralharem e ninguém ter razão”. Não é preciso que alguém tenha “toda a razão” só é preciso é encontrar vias de sair disto, sem deixar espaço para a continuação da actual impunidade. Mas essas vias têm de ser procuradas, em primeiro lugar, por quem exerce os cargos, com a colaboração de todos, em perfeita transparência e democracia. Muitos destes casos são motivados pela falta de transparência que é necessária para os arbítrios e o favorecimento pessoal, central ou local.
Antes de introduzir alterações (ou ao mesmo tempo que se introduzem alterações) é necessário “arrumar a casa” e acabar com a irresponsabilidade que grassa por aí."
No que se refere à experiência da Finlândia, acho que deve ser encarada como prova do que tenho dito; ou seja que não são as nossas debilidades económicas ou outras que condicionam o nosso desenvolvimento, mas sim a qualidade dos que nos governam e de outros que detêm cargos (e cargozitos) e que se estão nas tintas para os seus desempenhos, porque isto se transformou num forrobodó, onde cada um faz o seu pior, que consegue, para ajudar a agravar os nossos problemas colectivos.
Em situações de forte agitação social escolhe-se um bode expiatório, onde todos descarregam as suas frustrações mesquinhas, para logo depois se acomodarem com “mais e pior do mesmo”. O caso mais recente, de Santana Lopes, é apenas um exemplo, extremo, disto que digo. No meio desse tipo de maledicência primária, existe muita gente que participa, de forma premeditada, com objectivos os mais tenebrosos.
Porque é que isto me preocupa? Porque são episódios que exaurem a nossa energia colectiva, a confiança da população e vão destruindo, corroendo, as hipóteses de mobilização para superar os problemas actuais e sair do abismo, sobretudo porque as críticas são mais destrutivas do que construtivas; não existe preocupação em apontar os caminhos correctos ou em adoptar as atitudes dignas que se impõem. Se tudo é culpa dos políticos e de algum bode expiatório de ocasião, porque é que estes profissionais terão que se preocupar em melhorar o seu desempenho?
Perdoem-me a insistência, mas como eu acho que a maioria dos nossos problemas provêm do desempenho dos respectivos profissionais, muito mais do que de questões estruturais e de “falta de meios”, obviamente que o mesmo se aplica ao ensino. Não há dúvida que existem questões estruturais e de organização a resolver, que têm influência na nossa situação, mas não têm tanta influência. O que pretendo dizer é que, na educação, como em todos os outros sectores, os problemas estruturais e de organização (reparem que não falo da insuficiência de meios) explicam apenas uma parte, uma ínfima parte do problema; o resto deve-se à irresponsabilidade e à impunidade, à ausência de responsabilização por parte dos que exercem as respectivas funções, em todos os níveis, que são irresponsáveis e que se comportam (e reivindicam o estatuto de) “inimputáveis”.
O que pretendo dizer aqui, com todas as letras, é que, em qualquer sector que esteja em situação tão má e grave como a educação (ou a justiça, ou a saúde, ou…), todos os profissionais têm responsabilidades nisso (por acção ou omissão), sendo essa responsabilidade tanto maiores quando se trata de conselhos directivos, estruturas sindicais, associações, etc. Todos sabem que o principal problema da colocação de professores, do ano passado, foi a introdução do factor “cunha”; e que, por parte das escolas, também existe compadrio e esquemas.
É claro que o governo pode resolver estes problemas (poderá?), mas tem muitas dificuldades em fazê-lo porque se defronta, imediatamente, com as pressões e boicotes e oposição das respectivas estruturas, que já estão distorcidas por via destas “traficâncias”. O governo pode resolver isto, mas terá de usar de firmeza e inflexibilidade que não interessa, porque os próprios governos estão “envolvidos” com a protecção dos profissionais incompetentes, por via destes esquemas de compadrio e tráfico de influências, que conspurca todas as nossas estruturas. Vocês vão-me desculpar, mas quando eu entro numa discussão é para dizer o que se impõe. O governo pode acabar com este descalabro, mas precisa de punir, exemplarmente, todos os que falham. Sim porque quem falha, na educação, não é o governo; são as escolas e respectivos profissionais. Até porque a maioria das “queixas” de pais e alunos dirigem-se às escolas e desempenho dos professores. O governo falha porque não responsabiliza, não vigia, não exige (como deve), tolera todo o tipo de crimes.
Num dos muitos episódios vividos por jovens a quem “ajudei”, há um episódio de arbítrio na atribuição duma nota. O assunto é apresentado ao professor responsável pela turma, mas fica sem resposta e o arbítrio mantém-se. Sim porque os nossos jovens devem habituar-se, bem cedo, aos arbítrios e injustiças, à prepotência.
Num outro episódio que já contei aqui, quando tentei explicar a importância de os alunos não terem “furos” devido a faltas dos professores, o Presidente do Conselho Directivo interrompeu-me, não para dizer (o que, em todo o caso, seria uma mistificação), que não podia resolver o problema, mas para argumentar que: “se eu tivesse aí um professor para suprir as faltas, se houvesse dois professores a faltar à mesma hora, continuava a haver professores não substituídos”.
Quando um professor “avalia” assim, com todo este sofisma e demagogia (e estupidez) a utilidade duma medida a que devia ser obrigado por lei, mas que, em todo o caso, devia implementar por uma questão de elementar bom senso e rigor, acho que nada mais há a acrescentar acerca dos verdadeiros motivos do descalabro que se vive na educação. Por acaso eu até ia sugerir uma solução, que é possível a custo zero (que podia permitir “disponibilizar” para suprir as faltas, mais do que um professor). Mas não sugeri nada, porque, nestes sectores, está tudo bem, não se procuram, nem estes responsáveis se preocupam com, soluções e vias de fazer melhorar as coisas. Para quê? Se a culpa é dos políticos…
Isto tudo para concluir que, ao contrário de Pindérico, eu acho que estes problemas são fáceis de resolver… Basta que se privilegiem as regras das democracia e as atitudes democráticas. É necessário que cada um assuma as suas responsabilidades sem sofismas e procure, com clarividência e humildade, as vias de melhorar. Se as pessoas não sabem como resolver os problemas, no mínimo, deviam ouvir os outros com atenção. É preciso acabar com a impunidade; é preciso acabar com tanta presunção balofa. É preciso que os pais e alunos não sejam vistos e tratados com desprezo. É preciso que alunos e pais deixem de ser considerados como “eles” os culpados de todos os males.
Estou a falar disto tudo no sentido construtivo, mas também sei que existem casos de disputas entre professores e casos de perseguições injustificadas, onde vale tudo, a par da garantia de impunidade aos “afilhados”.
Isto para dizer que, no essencial, estou de acordo com a última contribuição de Pindérico. Também acho que é tempo de tipificar, claramente e sem covardias, as práticas e atitudes que nos conduziram até aqui, para passar a inibi-las e para acabar com a situação de “todos ralharem e ninguém ter razão”. Não é preciso que alguém tenha “toda a razão” só é preciso é encontrar vias de sair disto, sem deixar espaço para a continuação da actual impunidade. Mas essas vias têm de ser procuradas, em primeiro lugar, por quem exerce os cargos, com a colaboração de todos, em perfeita transparência e democracia. Muitos destes casos são motivados pela falta de transparência que é necessária para os arbítrios e o favorecimento pessoal, central ou local.
Antes de introduzir alterações (ou ao mesmo tempo que se introduzem alterações) é necessário “arrumar a casa” e acabar com a irresponsabilidade que grassa por aí."