2005/05/28

Com ou sem défice, gastar, gastar!

Bravomike deixou, no post anterior, o seguinte comentário:

“Razõs para o estado degradante do Défice (que o Expresso não publicou)
“Crise e défice – Felizmente?”
Com meio país suspenso dos oráculos dos (ir)responsáveis ex dirigentes políticos, ministros, comandantes, directores e chefes das últimas duas décadas, parece estarmos prestes a repetir a última década do século XIX – bancarrota financeira. Após a revolução liberal de 1820, normalização de meados do século e desenvolvimento/endividamento, com Fontes Pereira de Melo, a recusa de novos empréstimos pelos banqueiros de Paris e Londres.
De Medina Carreira (“Portugal à deriva”), guardaram os seus alertas nas gavetas.
Felizmente há crise. Sem crise, até onde teriam ido os desmandos orçamentais e os desperdícios estruturais que entretanto ocorreram ou estão projectados?
Apesar da crise, contrata-se a compra de: dois submarinos (840ME), segunda esquadra de aviões F-16 (226M), blindados (344M), helicópteros (340M, a decidir pelo actual Ministro da Defesa).
Submarinos quase inúteis, 20 aviões totalmente inúteis, 20 helicópteros desnecessários, 300 blindados num quantitativo duplo do admissível. Duas fragatas abatidas ao efectivo da Marinha americana, que pela sua idade, configuração e tripulações excessivas, bem caras vão ficar no futuro. A coroa de glória do anterior Ministro da Defesa. Força do lóby dos militares, ou da equipa de consultores do gabinete do ministro?
Sob a batuta do MDN, um mundo parado no tempo, imóvel desde o final da guerra-fria: numas Forças Armadas de tecnologia média, 17 mil operários (soldados e cabos) para 17 mil quadros (oficiais e sargentos) mais dez mil funcionários civis. Com um ramo a pedir insistentemente mais dois/três mil voluntários, não vão as fronteiras ficar desguarnecidas. E todos a pedir mais, mais dinheiro.
Se não fosse a crise: seriam duas fragatas novas e mais um ou dois submarinos. 40 caças com dois permanentemente no ar, não fosse o espaço aéreo ser violado. Um grupo de helicópteros, que garantiu já um elevado desperdício com nova infra-estrutura aeronáutica e a formação de dezenas de quadros/pilotos/técnicos para nada. Um monstro de betão para um novo e megalómano estado-maior (100M), que não impediu gastos de milhões de euros em estudos e projectos. Meia centena de adidos no estrangeiro, nas embaixadas, pouco menos que inúteis.
Apesar da crise, e sem ter definido novo modelo organizativo e estrutura à nossa dimensão, avançam, a bom ritmo, novos edifícios que os magros orçamentos ainda permitem. Ainda que necessários pelo lado da modernização de instalações, desgarrados de qualquer plano conjunto de reorganização, modernização funcional e sentido económico, a bem do “stato quo”. A bem da defesa, do défice público e do futuro, do País?
PS: um bom sinal – o novo MD e a junção de três institutos militares. O realismo a assentar praça?
Barroca Monteiro (Cor Páraqª Res)”

Alguma palavras apenas para dizer que lamento desiludir o autor mas, até hoje, nunca o défice ou o estado de descalabro das contas públicas inibiu estas gentes que detêm o poder de esbanjar, por todos os meios, os recursos nacionais, de preferência de formas o mais inúteis possíveis.
Acho que, do nosso lado, há que intensificar as denúncias, até que consigamos fazer com que nos ouçam, de modo a acabar com o desplante desta gente, que se julga com todos os direitos e nos julga a nós sem direitos e sem inteligência; uma massa amorfa sem capacidades de reacção, sem capacidade de intervenção. Por isso, também, a publicação deste comentário.