2004/12/06

Audácia!

Quando a gente não perde tempo na maledicência; nem a dizer banalidades; ou a comentar “shows” televisivos, pode-se “aprender” alguma coisa nas conversas ocasionais, com conhecidos de longa data, ou com “companheiros” de circunstância, das vicissitudes do dia-a-dia.
Foi numa dessas conversas que ouvi uma “teoria” muito interessante, de que vou falar agora. É uma das ideias com que acordei, hoje, e que “vem ao caso”. Já explico como!
Ou melhor: vou tentar explicar como. Se não conseguir, só me resta dizer: “quem tem ouvidos para ouvir que ouça” (que eu faço o que posso). A ideia nem é muito difícil, eu é que, assim de repente, não sei por onde começar.
Numa dessas conversas que a gente não sabe como começam, nem porquê, alguém construiu este raciocínio, que passei a adoptar, como “guia” para a minha acção. Não sei se consigo reconstruir, palavra por palavra, a “teoria”, mas vou pô-la em discurso directo, para facilitar. Vinha a propósito de sermos governados pelo pior tipo de gente; de “eles” poderem tudo, fazerem o que querem e a gente não poder fazer nada, para inverter a situação a nosso favor, apesar de se verificar que somos a maioria; apesar de, em democracia, isso ser um absurdo.
“Na bíblia, mais exactamente, nos evangelhos, há uma parábola, que terá sido contada por Cristo, aos seus discípulos, que termina assim: - Os filhos das trevas são mais audazes que os filhos da luz”.
Já quando andava na catequese, isso me causava engulhos, me chateava. Depois, muito mais tarde, li um escritor português, que viveu muitos séculos depois de Cristo, nascido para os lados da Beira, que me trouxe um grande alívio. Nesta matéria, estou muito mais de Acordo com Aquilino Ribeiro, quando ele escreve: “boa pessoa; assim como quem diz: pedaço d´asno!”. Que me perdoem as “boas pessoas”, mas, para mim, para se ser “boa pessoa”, também é preciso ter a coragem, a persistência e o empenho necessários para não permitir aos “filhos das trevas”, que dominem a sociedade, porque não têm esse direito”. (Só o fazem por falha nossa?)
E pronto! Foi assim, mais ou menos, que ouvi esta ideia, de que gostei imenso! Não se justificaria estar aqui a divulgá-la, se vivêssemos em Democracia. É que, no tempo de Cristo, esse “conceito” ainda não existia!
Vem isto tudo a propósito de “quem tem legitimidade para fazer o quê”. Vivemos um tempo em que, quando se trata dos arbítrios dos “filhos das trevas”, tudo é legítimo, ninguém questiona. Mas se for alguma solução para problemas, prementes, da sociedade, levanta-se um coro de “objecções”, com os mais falaciosos pretextos (todos democráticos, obviamente).
Foi a propósito da situação política actual e do “posicionamento” dos diferentes “personagens” da farsa, que me surgiu esta ideia, por analogia.
Acontece em todos os aspectos da nossa vida pública, mas acontece, agora, especificamente, no Processo Casa Pia, para evitar que os crimes cometidos (com o próprio processo) sejam devidamente punidos, como devem!