2004/12/09

Um NATAL de Luxo!

Em “Tou na Lua” encontrei um artigo, com este título, que me agradou! Fiquei a pensar na “obrigação” de escrever alguma coisa acerca desta época! Vale a pena, não vale a pena? Optei por fazê-lo com frontalidade, que é uma coisa que se “justifica” sempre.
Lembro-me de, algumas vezes, quando era criança, ouvir as outras crianças falarem sobre as respectivas prendas, que recebiam, no sapatinho, e me ficar uma enorme frustração por não ter recebido nada! Cheguei a pensar que a culpa era minha, porque não tinha colocado o sapatinho na chaminé (acho que, a maior parte das vezes, nem sapatinho tinha, para colocar na chaminé). Até que, um dia, enchi-me de coragem e perguntei à minha mãe, porque é que os outros meninos recebiam prendas do menino Jesus e eu, tal como os meus irmãos, não recebia nada! Ela respondeu-me, com aquele ar de quem já tinha perdido a confiança na vida, que: “O menino Jesus não gosta dos meninos pobres; só dos ricos!”.
Estou aqui a contar isto para explicar duas coisas: (1) Os “motivos profundos” pelos quais me indigno sempre que veja as pessoas baralharem as responsabilidades do que se passa na sociedade; (2) A minha opinião (crítica), acerca do Natal.
Aprendi assim, como conto acima, a não ligar importância ao Natal. De facto, é uma época de hipocrisia. Tenho sérias dúvidas de que a “alegria” dos que ainda conseguem manter motivos para a conservar, (que são cada vez menos) compense o aumento de sofrimento, que a “época festiva” provoca, naqueles que nada têm para festejar, pelo contrário! É que os segregados, os pobres, os sem abrigo, as crianças que sofrem, as vítimas da guerra e da infâmia, os injustiçados, sofrem mais nesta época, sentem-se mais ultrajados, sentem as agressões da vida com mais violência.
Foi para ilustrar isso que contei aquela “minha” história: é que o estado de pobreza não se alterava, no Natal, apenas se agudizava o meu “desespero”, em comparação com “as alegrias da época” de paz, amor, fraternidade, a que só os outros (alguns dos outros) pareciam ter direito.
Além disso, o Natal é uma época de desgraças! Não me lembro de um único ano em que não aconteçam calamidades, que espalham o sofrimento. Também este sofrimento se repete, com maior intensidade, todos os anos, por esta altura, para as pessoas a quem a “época festiva” traz a dor da recordação dalguma tragédia que as tenha afectado.
Por isso, ligo pouco ao Natal! Mas ligo o suficiente para desejar a toda a humanidade: BOAS FESTAS! Para formular, mas com outra intensidade e outro querer, os mesmos votos que todas as pessoas formulam, todos os anos! Para persistir na procura de (e na luta por) um caminho mais digno, para toda a humanidade!
Para lembrar os injustiçados, nomeadamente os dos casos já várias vezes abordados neste “blog”. É que também as injustiças doem mais nesta época e doem potencialmente mais quanto mais são gratuitas e injustificadas. Haverá problemas que é difícil minorar, mas a perfídia? Isso é que tem de ser erradicado da nossa vivência em sociedade! Que tal aproveitar esta época para, ao menos uma vez no ano, ter a dignidade de corrigir infâmias e praticar a justiça?
Haverá problemas que é difícil resolver, mas muitos daqueles de que tenho falado aqui, são simples. A sua resolução é fácil e é imperiosa para que possamos ter, todos, um Natal mais digno, mais feliz! Deixar prevalecer a perfídia, mesmo numa época destas, é uma crueldade, sem tamanho, de suprema hipocrisia, de quem não merece a alegria do Natal.
Falemos claro: estou a lembrar-me, por exemplo (apenas por exemplo, porque o “apelo” vale para todos os injustiçados, que as instituições conhecem bem), do caso do, já nosso conhecido, Dr. L.J.N.S., preso há mais de sete anos, inocente. Entretanto, o Sr. Presidente da República já concedeu uns quantos perdões e amnistias. Mas, como se vê, os inocentes não têm direito a amnistias nem perdões. Ao contrário: o Sr. Presidente da República enviou para o MP, uma carta que recebeu da irmã dele, a reclamar desta situação. A “atenção” que o Sr. Presidente deu ao assunto, valeu-lhe, à autora da carta, uma condenação a 9 meses de cadeia, pena suspensa por 3 anos.
Por isso eu repito: há um limite para tudo, até para a hipocrisia. Continuar a sancionar a perfídia, a prepotência gratuita, os abusos, isso é que não. O que é que custa, qual é a dificuldade que há em resolver um problema como este? Quem é que ficaria prejudicado com tal resolução? Quanto custa (ou qual o prejuízo material) que daí resulta? Podem-me dizer? Não será, exactamente, o contrário? Não seria benéfico, até do ponto de vista económico?
A “dificuldade” é alguém ter a coragem necessária para se opor ao “poder absoluto” da perfídia!
É só para ilustrar que há problemas e injustiças cuja correcção podia melhorar muito a nossa vida em comum e melhorar a nossa alegria colectiva de celebrar o Natal, cuja manutenção não se “fundamenta” em dificuldades económicas, o que revela ainda mais o verdadeiro “culto da hipocrisia” de quem assim procede!
Um “santo” Natal para todos! Deixem-nos ter um Natal Feliz! Sem nuvens negras no pensamento!